No tempo chuvoso a situação é mais dramática. Entrar e sair do bairro Munlenvos de Cima é "um Deus nos acuda", de acordo com os próprios moradores. O jovem Onório disse estar cansado dos transtornos que tem de enfrentar, diariamente, para entrar e sair do bairro. Residente na zona do Chimuco, Onório apenas tem a rua do Millennium como única opção segura para chegar e sair de sua casa.

A via que dista poucos metros de sua residência foi asfaltada, facilitando assim, a ligação directa com a estrada principal de Viana, a avenida Deolinda Rodrigues que liga à cidade e arredores. O trânsito fica apertado a toda a hora por ser a única via asfaltada do bairro. "Os camiões do lixo que vão para o aterro-sanitário também têm de passar por aqui. Arua é estreita no início e aperta o trânsito automóvel. Há muitas ruas largas que poderiam ser aproveitadas para facilitar a mobilidade das pessoas", sugeriu Onório.

Os vizinhos de Onório também partilham da mesma opinião. Vilola, Alexandre e Marcolino, contaram à nossa reportagem que a situação dos acessos fica ainda mais complicada para os moradores de outros pontos, como os da rua da Santa, Seis, Miru, e Mulenvos sede. Estes, disseram, têm de caminhar muito para chegar à estrada asfaltada do Millennium e arredores. Para os interlocutores, a dificuldade das populações poderia ser minimizada com trabalhos de terraplanagem por parte das autoridades municipais. "Se as outras ruas que dão a outros pontos, como a estrada da Recolixo fossem terraplanadas ou asfaltadas, teríamos a situação da mobilidade resolvida", observaram os moradores.

As ruas do Seis, ajuntou outro interlocutor, "estão todas debilitadas". "Os moradores e outros automobilistas têm de partir os seus carros para se movimentar dentro da zona ou até mesmo para sair do bairro. As ruas estão todas esburacadas", resmungou Nelo, outro residente. A linha férrea que atravessa a entrada do bairro, segundo apurámos, tem sido um dos maiores "problemas" para a movimentação dos populares.

Com a criação da passagem de nível dos comboios, definiram- se entradas principais, para dar acesso. "Temos apenas a entrada da Gamek, da Moagem do Millennium. Apenas a estrada do Millennium está em condições. A estrada da Gamek está a ser reabilitada e as demais vias encontram-se esburacadas. Quando chove ficamos sitiados", explicaram os residentes.

Há 12 anos na zona, o mais velho João Pintor também reclama a falta de acessos. Reconhece que o bairro conheceu desenvolvimento, mas que para ele, ficou "parado" no tempo por falta de estradas. "As nossas ruas são bem largas e vão dar a outros municípios. Devem ser aproveitadas para estarmos melhor", apelou.

"Devolvam a ponte-partida"

O bairro Mulenvos de Cima compõe-se de várias ruas largas e estruturadas que, uma vez terraplanadas ou asfaltadas, facilitariam a vida dos moradores que há muito aguardam pela reabilitação das vias secundárias e terciárias da zona. Uma das vias principais que os munícipes julgam dever ser imediata a sua reabilitação para facilitar o escoamento do trânsito na avenida Deolinda Rodrigues, seria a rua da conhecida Ponte-partida, actualmente fechada ao trânsito automóvel em função da demolição da ponte.

No ar apenas ficou a promessa das autoridades de "um dia" a ponte vir a ser reposta, de acordo os munícipes. Uma década e meia depois não há nenhum sinal do cumprimento da promessa por parte das entidades governamentais. Os moradores, que se ressentem da falta da passagem aérea, desejam ver devolvida a ponte que um dia já facilitou a travessia, permitindo igualmente a ligação entre os municípios de Cazenga e Cacuaco.

O acesso ao bairro para os automobilistas é fechado. A entrada da rua virou um mercado que começa mesmo pela linha-férrea, apresentando um perigo para as populações. Vários são os relatos de mortes de pessoas vítimas de atropelamentos de comboio. O cidadão cubano Mauro, residente na zona desde 1996, contou que assistiu à demolição da ponte por parte das autoridades governamentais, que, na época, justificaram o perigo, face ao estado de degradação que a mesma apresentava.

O expatriado recorda com saudade a facilidade que a travessia proporcionava para o acesso ao bairro. "Para além de nós, os residentes, as pessoas que iam para o Cacuaco ou o Cazenga passavam por esta via. Agora, temos todos que dar muitas voltas. Nós, os moradores, para chegarmos a casa, que fica a menos de cinco minutos da estrada principal de Viana, temos de dar muitas curvas. A situação é pior no tempo chuvoso quando as ruas ficam inundadas e intransitáveis".

Valmir Katelila é outro cidadão cubano também residente na zona há mais de dez anos. Para o camionista, os seus trabalhos eram feitos com maior facilidade quando havia ponte. "Agora é muito sofrimento. À noite a situação é pior porque a zona é escura e isolada. Corremos sempre vários riscos de assaltos e há casos mesmo de mortes de pessoas atropeladas pelo comboio", disse, apoiado pelos demais vizinhos.

Pouca luz eléctrica, água, escolas públicas e muita criminalidade

Apar dos problemas das vias de acesso, os moradores reclamam igualmente da falta de água, luz eléctrica e de um alto índice de criminalidade por toda a zona, com destaque para as ruas da Mamã Gorda, Seis Triângulo, Wala Wenda, Miru, rua do colégio Silva e Água, rua do João Pintor, travessa da Praça Nova e arredores. A zona beneficiou de ligações domiciliares, mas nem todos beneficiam da água canalizada. A energia eléctrica também não chega para todos.

A comunidade conta apenas com uma única escola pública, facto que os moradores acreditam estar na base do alto índice de criminalidade. "A maior parte dos nossos filhos estuda em escolas privadas. Há filhos que nem estudam, porque os pais não têm como pagar. Muitos deles desocupados, enveredam para a criminalidade. Hoje, são os adolescentes e os jovens que "desmontam" as pessoas no bairro. Seria bom que se construíssem mais escolas públicas na zona", apelaram os moradores, denunciando igualmente a existência de crianças de 12 anos a frequentar o ensino nocturno por carência de escolas públicas.

"O bairro é quase urbanizado"

O conselheiro principal da comissão de moradores dos Mulenvos de Cima, António Isidro Alberto, mais conhecido por Kambulungo, também reconhece o problema de inacessibilidade que o bairro apresenta. Para o antigo presidente da comissão de moradores da zona, de 2008 a 2014, a situação seria minimizada de imediata com trabalhos de terraplanagem a julgar pela constituição do bairro.

"A nossa zona é quase que urbanizada. Temos sete ruas paralelas e igual número de transversais, bem largas e delineadas. Elas só precisam de trabalhos de terraplanagem ou asfaltagem para permitir que os automobilistas e os meios da polícia possam circular sem se danificarem. Se as ruas forem tratadas, teremos um bairro urbanizado e melhor", argumentou.

Disse que no momento, a zona conta apenas com duas ruas principais, uma cujo asfaltagem ficou a meio e outra em asfaltagem. "Falo da rua do Millennium que neste momento é a melhor, mas o asfalto foi apenas até ao hospital. A rua do Gamek que também vai até à Recolixo está a ser reasfaltada e as demais vias esburacadas", elucidou. Sobre a ponte partida, Kambulungo explicou que a reposição da mesma depende do Governo central. "Ali atravessam os caminhos-de-ferro e há uma estrada nacional. Por isso, a administração municipal nunca conseguiu dar tratamento ao problema da ponte".

Apesar da situação, o conselheiro comunitário acredita que a zona conheceu algum desenvolvimento em termos de infra-estruturas e serviços públicos ao longo dos últimos anos. Exemplifica com o surgimento de 24 postos de transformação de energia da ENDE, o centro de distribuição da água da EPAL, que de acordo com o interlocutor, permitiu cerca de 70 mil ligações domiciliárias. Associa ainda à lista de ganhos o centro materno-infantil da zona, duas esquadras policiais construídas de raíz e alguns postos policiais.

Por fim, reconheceu a necessidade da construção de escolas públicas na comunidade que conta apenas com uma escola primária e do primeiro ciclo. "Temos apenas a escola 'Ana Paula' que é muito pouco num universo de mais de um milhão de pessoas segundo dados preliminares do censo. Temos escolas privadas, mas precisamos de escolas públicas. Quanto à criminalidade é um fenómeno social igual a de outros bairros", finalizou.