Os cerca de 32 mil habitantes chegam a pagar 80 a 100 kwanzas por um bidão de 25 litros, já que os proprietários dos tanques compram a cisterna a preços altos.

O bairro possui ruas urbanizadas e residências de grande envergadura, tem duas escolas públicas, mas nenhuma unidade hospitalar.

A zona, que no passado era agrícola, constituída, na sua maioria, por quintas, recebeu, há dez anos, as populações desalojadas das áreas em risco ou sujeitas a requalificação, uma iniciativa dos projectos "Casas azuis" e "Nandó", integrados no quadro de emergência que o Executivo angolano criou.

Adelaide Júlio, moradora desde 2008, disse ao Novo Jornal Online que a falta de água no bairro é o principal problema da gestão da casa onde mora, e afirma que chega a gastar 1000 kz por dia.

"Diariamente tenho de comprar água, a minha família é numerosa e não tenho espaço no quintal para construir um tanque, por isso, a solução é mesmo adquirir nos "kupapatas", contou.

Rosa Garrido, que vive há 15 anos na zona, tem um tanque de 20 mil litros no seu quintal, onde comercializa cada bidão e banheira entre 50 e 80 kwanzas, mas lamenta pela qualidade da água que tem comprado.

"Compro a cisterna a 18 mil kz, mas a água não tem qualidade, às vezes é muito turva, não dá para beber sem tratá-la", disse.

Quem entra na corrida da comercialização de água no Bita Vacaria são os chamados "kupapatas", que, nas primeiras horas do dia, passam de casa em casa vendendo cada bidão por 60 ou 80 kwanzas.

"A minha casa possui dois quartos de banho, e compro 10 bidões de água por dia, pois as sanitas requerem muita água e 10 bidões é quase nada", explicou Filomena de Andrade, moradora no bairro há 10 anos.

Filomena diz que encontra muitas dificuldades para a lavagem da roupa da família, aos finais de semanas, em que chega a gastar entre quatro a cinco mil kwanzas.

"Bairro novos como o 11 de Novembro, Zango zero, Bita tanque, já têm água canalizada e o Bita Vacaria, que é mais antigo, ainda não tem?", questiona-se Manuel Panzo, habitante há oito anos.

Entretanto, muitos moradores do bairro Bita Vacaria mostram-se satisfeitos com as chuvas, que tem caído nos últimos dias em Luanda, pois aproveitam as águas para encher alguns recipientes.

Os locais de armazenamento variam de morador para morador, havendo quem encha bidões e tambores e quem chegue mesmo a encher os tanques, comercializando depois essa mesma água, um facto que foi constatado pela equipa do Novo Jornal Online no local.

"Aproveitar água da chuva, aqui, é coisa antiga, pois nunca tivemos água desde que o bairro surgiu. Há muito anos que sofremos com falta do precioso líquido, e, para nós, guardar água da chuva é algo normal porque as águas das chuvas servem para muitas actividades de casa", contaram os moradores.

Os habitantes disseram ainda ao Novo Jornal Online que já apresentaram as preocupações à administração distrital do Kikuxi e ao Governo Provincial de Luanda, mas nunca obtiveram respostas, apelando ao Executivo de João Lourenço para que olhe para o sofrimento em que vivem.

Os moradores explicaram também ao NJ Online que a energia eléctrica naquela circunscrição tem sido garantida por PT's privados, cujos proprietários são acusados de cobrar preços exorbitantes.

Administração do Kikuxi reconhece dificuldade dos moradores

A administradora do distrito urbano do Kikuxi, Rosa Janota Dias dos Santos, em declarações ao Novo Jornal Online, reconheceu que a população do Bita Vacaria consome água imprópria por necessidade.

"Os camionistas e os motoqueiros que comercializam o líquido precioso na localidade, enganam a comunidade dizendo que a água é tratada, quando na verdade não é. Mas as pessoas precisam de água, por isso tem que se arranjar alternativas para não consumirem a água não tratada que é a fonte de várias doenças", lamentou a administradora.

Quando à solução do problema da falta de água no Bita Vacaria, Rosa Janota Dias dos Santos disse que o mesmo será resolvido ainda este ano.

"Recebemos, no sábado, a visita do secretário de Estado das águas, Luís Filipe, e falou-se desta situação. A EPAL comprometeu-se em alargar a Estação de Tratamento de Água (ETA), que está a ser feita no Bita Norte, e, logo que esteja terminada, o Bita Vacaria vai ter água", garantiu.

A administradora do distrito urbano do Kikuxi revelou que no bairro Bita Vacaria estão a ser construídos 16 chafarizes para dar solução à carência de água, dois dos quais já estão concluídos, mas só se irá fazer a inauguração quando todos os 16 chafarizes estiverem prontos.

"Queremos que a população deixe de consumir água imprópria e passe a ter água tratada, por isso não estamos a criar muitos chafarizes, estamos a criá-los nos pontos estratégicos onde a população pode ir buscar o precioso líquido".

"A administração do Distrito Urbano do Kikuxi é recente na nova divisão administrativa de Luanda, mas temos a certeza de que o distrito possa vir a ter um programa de desenvolvimento. Nesta altura estamos a trabalhar já num novo orçamento, que é da responsabilidade da Administração Municipal de Viana", argumentou.