De acordo com Sebastião Alfredo Macunge, administrador da Pescangola, devido ao trabalho de apoio aos pescadores desenvolvido no terminal, o porto conquistou a confiança dos armadores e fez dele uma referência para os barcos que ali chegam.

"Hoje recebemos embarcações de diferentes países com pescado importado que vêem, no terminal do Porto Pesqueiro de Luanda, um bom lugar para descarregar o seu pescado", sublinha.

"O crescimento da movimentação ocorreu pela sua localização estratégica e pelos bons serviços oferecidos aos armadores", afirma Sebastião Alfredo Macunge enquanto se prepara para fazer uma visita guiada ao Novo Jornal Online.

"O porto pesqueiro tem uma câmara com a capacidade de 300 toneladas de pescado e uma no cais com uma lotação de 1000 toneladas", informa, acrescentando que "para o benefício dos consumidores, o peixe sai do terminal do Porto Pesqueiro com uma inspecção segura".

O responsável valoriza a recuperação da doca flutuante adquirida em 2010 pelo Ministério das Pescas e do Mar que se destina a apoiar os armadores na manutenção e reparação das suas embarcações.

O investimento feito na recuperação da doca, que será apoiada por oficinas em terra, supera os dois milhões de dólares, avança.

"Não obstante a crise económica que o nosso País atravessa, a nossa empresa ainda está saudável", refere, destacando o aumento de atracagem de navios no porto pesqueiro de Luanda.

O porto pesqueiro faz, aliás, a descarga de pescado nacional e importado, bem como distribuição de combustível, venda de água e conservação do pescado, informa ainda Sebastião Alfredo Macunge.

"Vamos, nos próximos tempos, arrancar com a lota da Boa Vista, que conta com uma fábrica de gelo, avaliado na ordem de 200 milhões Kz. A mesma já se encontra em fase de montagem", comunica, salientando que a mesma visa, especificamente, apoiar a pesca semi-industrial na província de Luanda.

De acordo com Sebastião Alfredo Macunge, a Pescangol conta com 207 colaboradores que têm vindo a dar o seu contributo no desenvolvimento da empresa.

"A nossa empresa tem três embarcações que trabalham de uma forma autónoma com 15 trabalhadores", informa, frisando que "por as embarcações não estarem em boas condições técnicas de operacionalidade, a Pescangola pretende fazer uma parceria com empresas interessadas, com a finalidade de as rentabilizar".

Águas da chuva invadem o porto pesqueiro

As grandes chuvas que se abatem sobre Luanda provocam enxurradas que depositam no porto pesqueiro de Luanda toneladas de lixo e entulho, por isso, O administrador da Pescangola mandou fazer um estudo que sugeriu uma maior fiscalização, bem como a educação ambiental da comunidade.

"Sempre que chove, os habitantes aqui à volta rompem o quintal que protege o porto e a água penetra dentro do recinto, causando enormes prejuízos", lamenta Sebastião Alfredo Macunge, avançando que no estudo efectuado, é defendida a necessidade de fiscalização apertada às arcas frigoríficas ali existentes, no sentido de se evitar que o peixe chegue contaminado à mesa do consumidor.

Sebastião Alfredo Macunge garante que a sua administração tem vindo a acabar com a anarquia que existia no porto pesqueiro, "onde toda a gente era chefe".

"O peixe era comercializado em condições péssimas de higiene, sob o olhar dos armadores de pesca. Neste momento o ambiente é diferente, tudo está organizado", destaca.

O presidente do conselho de administração da Pescangola esclarece que a empresa apenas presta serviços aos armadores e gere as instalações do terminal pesqueiro, não comercializando peixe.

De acordo com o responsável, a empresa está a trabalhar com os pequenos, médios e grandes armadores, para que estes tenham à sua disposição as condições necessárias de trabalho, de higiene, de descarga e ambientais, para que possam trabalhar todos em conjunto.

"As condições higiénicas no recinto pesqueiro são uma das grandes apostas da nossa empresa", nota.

Porto pesqueiro "cercado" por lixo

Durante a visita, o Novo Jornal Online pôde constatar a falta de higiene que rodeia o porto.

"Os moradores adjacentes ao porto pesqueiro fazem trinta por uma linha. Deitam o lixo e outros artigos dentro do recinto do porto e quem limpa somos nós", lamenta Sebastião Alfredo Macunge.

A administração do porto pesqueiro está preocupada com a desordem e já está a tomar medidas para estancar a prática.

Enquanto a recolha do lixo não é realizada, o acúmulo de resíduos tem gerado uma série de transtornos aos funcionários.

Para além do lixo, aponta o responsável, "antes havia alguns assaltos protagonizados por jovens que ali moram, situação que hoje já não acontece, fruto da intervenção da segurança do porto".

"Quando a minha administração iniciou as actividades, encontrámos uma série de problemas, que envolviam as comunidades e os trabalhadores. Mas o problema está resolvido", esclarece.

Fiscalização rigorosa

Para além das duas empresas de segurança que protegem o porto, a Polícia da Fiscalização Marítima, os Serviços de Emigração e Estrangeiro e a Fiscalização do Ministério das Pescas e do Mar, actuam no recinto.

"Ao porto chegam navios de pesca de vários países estrangeiros que descarregam pescado importado e não só. Por isso, todos os serviços ligados à fiscalização estão aqui no porto", expõe Sebastião Alfredo Macunge.

Destacou que a Polícia Fiscal Marítima tem vindo a deter pescadores que pescavam, de modo artesanal e ilegalmente nas águas do país.

"Face à imigração ilegal dos cidadãos do Oeste africano e da República Democrática do Congo, que a todo custo tentam entrar em Angola, é indispensável a presença destes órgãos no Porto Pesqueiro de Luanda", acrescenta.

Aposta na segurança

Quando foi indicado para dirigir a Pescangol, Sebastião Alfredo Macunge encontrou enormes dificuldades junto dos trabalhadores, que não acatavam algumas directrizes, nomeadamente aquelas que eram para seu benefício, como o uso de capacete e de botas no local de serviço, conta Sebastião Macunge.

"Os trabalhadores estão expostos a diversos riscos no seu ambiente de trabalho, para quem trabalha num porto, o risco de acidentes é maior quando são feitas as descargas de produtos", aponta.

Segundo conta, os trabalhadores começaram a ter consciência da necessidade de utilizar o capacete depois de um acidente com um deles.

"Sempre falei que o capacete tem como finalidade proteger a cabeça contra choques com objectos que possam cair sobre a cabeça. Um dos trabalhadores escapou à morte por estar a usá-lo. A partir daí deram-me ouvidos e começaram a utilizar capacetes", refere.

Na sua opinião, não foi fácil pôr ordem no porto, onde alguns trabalhadores "tinham vários vícios". "Mas agora eles entenderam os objectivos do nosso rigor na empresa e hoje estão colaborar", concluiu.

Novos projectos - Entratu Lda prevê montar entreposto no Porto Pesqueiro de Luanda

Sebastião Alfredo Macunge está aberto a novos projectos que possam rentabilizar o espaço do Porto Pesqueiro. O administrador da Pescangola disse ao Novo Jornal Online ter mantido vários encontros com os responsáveis do projecto Entratu Lda, que pretendem montar um entreposto de frio no porto, um estabelecimento industrial de entrepostagem, preparação e congelação de várias espécies de pescado, dotado de uma capacidade de congelação diária instalada de 40 toneladas de pequenos pelágicos e tunídeos.

O entreposto, com 1.476,20 m2 terá, várias secções de processamento conforme as espécies a serem trabalhadas.

O custo estimado para o fornecimento e montagem dos equipamentos, assim como para o transporte dos mesmos, totaliza os 3.590.000,00 euros

O estabelecimento está dimensionado para congelar vários tipos de pescado, desde pequenos pelágios até grandes tunídeos. O objectivo principal é congelar e expedir rapidamente o pescado, em devidas condições sanitárias para outras unidades industriais onde terá vários tratamentos de acordo com a sua finalidade.

"São projectos bons para o país, portanto, vamos disponibilizar o lugar, embora o porto pesqueiro não possua espaços suficientes para montagem de grandes entrepostos de frio", adiciona, esclarecendo que os responsáveis do projecto Entratu queriam montar o entreposto na horizontal, mas devido à exiguidade do espaço o farão de forma vertical. Estamos agora à espera da iniciativa do investidor para avançar".

"O importante para nós é rentabilizar o nosso espaço", disse Sebastião Alfredo Macunge, sublinhando que "todos os projectos que visam elevar a empresa e o país são bem-vindos".