Não é fácil nos dias de hoje acompanhar um ente querido à sua última morada, com a subida de preços em Luanda. "São gastos atrás de gastos e, muitas vezes, alguns parentes, depois da realização do óbito, ficam sem nada para comer em casa", notam alguns populares ouvidos pelo Novo Jornal.

Foi este o caso de dona Catarina de Azevedo, de 57 anos, que na passada segunda-feira realizou o funeral do marido, com quem vivia há mais de 20 anos. "Neste momento, não tenho nada para a família comer, porque tudo foi gasto no óbito e não tenho muitos recursos financeiros. Eu não tinha como não dar um funeral condigno ao meu marido que, enquanto vivo, fez tudo para me fazer feliz. Sei que estou sem dinheiro, mas Deus vai-me ajudar", vaticina.

Catarina Azevedo, que é comerciante e pertence à classe média, assume que, para dar um funeral condigno ao marido, contraiu algumas dívidas, pois só assim conseguia realizar todas as actividades fúnebres. "São muitas coisas para comprar. Por exemplo, comprei a urna a 70 mil kz, paguei o certificado de óbito, a morgue, o espaço no cemitério. Comprei comida, bebidas e as camisolas que alguns familiares usaram para distinguir quem é familiar. Paguei aos jovens que tocaram instrumentos musicais. São muitos gastos", enumerou a viúva, acrescentando que, hoje em dia, muitas pessoas vão aos funerais ver o que faltou para depois criticarem.

Comportamento que esta mãe de cinco filhos qualifica de "incorrecto", mas que é cada vez mais frequente. Questionada sobre a quantia gasta, Catarina responde que não sabe quantificar, porque contou com algumas ajudas.

"Só do meu bolso foi um milhão de kwanzas, mas há contribuições dos familiares. Fazendo uma conta rápida, acho que foram mais de dois milhões de kwanzas", aponta.

"Muitas vezes, os funcionários das conservatórias não têm sensibilidade para o momento que as pessoas estão a viver. No dia em que o meu pai morreu, ficámos mais de seis horas na conservatória do Asa Branca, no município do Cazenga, só para tratar de um documento. Queriam saber se o meu pai deixou bens ou não, porque se deixou tínhamos que pagar 18 mil kz, se não deixou só pagávamos 400 kz e, para isso, ficámos quase todo o dia no local. Não sabia que existia na lei angolana um artigo que diz que se o morto deixou bens o certificado de óbito é outro", desabafa Anita Rosa, que há duas semanas enterrou o pai.

(Leia este artigo na íntegra na edição n.º455 do Novo Jornal, já nas bancas e também disponível por assinatura digital, que pode pagar em kwanzas)