"Não há razão para duvidar" de que as vacinas actuais protegem os doentes infectados com Ómicron contra formas graves de covid-19, indicou esta terça-feira o responsável pela resposta de emergência em saúde pública da OMS, Michael Ryan, em entrevista à France-Presse.
"Temos vacinas muito eficazes que se mostram potentes contra todas as variantes até agora, em termos de gravidade da doença e hospitalização, e não há razão para acreditar que não seja o caso" com a Ómicron, disse Michael Ryan, destacando que os estudos de uma variante detectada apenas a 24 de Novembro e que desde então foi registada em cerca de 40 países estão apenas no começo.
De resto, a Organização Mundial da Saúde já tinha avançado num relatório de actualização da informação sobre a estirpe apresentado no final de Novembro que não há evidências de que os sintomas gerados pela variante Ómicron sejam mais graves que os da Delta.
A OMS sublinha igualmente, no documento publicado na sua página oficial, e em posteriores actualizações, que ainda é cedo para se ter quaisquer certezas sobre o potencial patogénico global da Ómicron, deixando, contudo, em aberto, a possibilidade desta variante se tornar uma realidade global, como sucedeu com a Delta.
"As provas até a esta altura, que sublinham a propagação global e a transmissão comunitária da variante ómicron, não apoiam proibições selectivas de viagens impostas aos países da África Austral", afirma a organização numa declaração divulgada no seu portal na internet.
O certo é que o mundo voltou a fechar-se e os países vizinhos da África do Sul, onde a Ómicron foi identificada, foram os primeiros a ser colocados num isolamento que lhes fechou as fronteiras e restringiu voos, situação considerada reprovável por muitos e a que se juntam cada vez mais vozes. A última é a da União Africana (UA), que apelou esta terça-feira, 07, à "revogação urgente das proibições selectivas de viagens" impostas a alguns dos seus Estados membros da África Austral, devido à variante Ómicron do coronavírus, sublinhando que "as provas ciêntíficas" não as sustentam.
A UA sublinha que as intervenções no domínio da saúde pública para mitigar o risco de infecções e controlar a propagação da COVID-19 "devem ser direccionadas para limitar o impacto sobre as vidas e meios de subsistência, e informadas pela ciência e pelas provas".
"É necessário mais tempo e investigações para avaliar adequadamente as características epidemiológicas e clínicas da variante Ómicron", aponta a declaração da UA, que avisa que as proibições de viagem para e de entrada de viajantes provenientes dos estados africanos da África Austral, incluindo Moçambique, que "limitam a livre circulação de pessoas e bens, têm um impacto negativo imediato e significativo na região", desde logo, no domínio da economia e "afectam negativamente as vidas e os meios de subsistência das populações em causa", aponta a declaração.
Também Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul, criticou severamente alguns países do continente - Angola e Ruanda estão nesse lote - por terem imitado os países ocidentais que suspenderam as ligações aéreas com a África do Sul, Botsuana, Moçambique, Zimbabué e, entre outros Namíbia, "sem que exista uma justificação científica para isso".
Neste lote de países estão a União Europeia, os EUA, Reino Unido, Japão, Brasil, Austrália, entre muitos outros, incluindo Angola e Ruanda.
Ayoade Olatunbosun-Alakija, representante da African Vaccine Delivery Alliance da União Africana, é outra das vozes que se levanta para afirmar que a decisão dos países ricos é desajustada, acusando-os de continuarem a pensar que se uma doença surgir em África basta fechar o continente e "deitar fora a chave". Alerta que as decisões, neste caso, não devem e não podem ser políticas, mas ciêntificas. E a resposta a esta pandemia que invadiu o mundo e teima em manter-se é a imunização da população, sem deixar ninguém para trás.
O Secretário-Geral (SG) das Nações Unidas, António Guterres, que foi identificado esta terça-feira como contacto de um funcionário infectado com covid-19 e vai ficar em isolamento profilático vários dias, segundo a agência France-Presse, juntou-se a quem considera que o isolamento a que foram sujeitos os países da África Austral por causa da Ómicron é "injusto e imoral" e defende que este tratamento injusto deve acabar rapidamente, mas não foi o único, como pode ver pelas notícias que lhe aparecem no rodapé desta página.
Mas a baixa taxa de vacinação em África - cerca de 7% da população com as duas doses - é considerada um dos maiores desafios enfrentados pelo mundo para acabar com a pandemia. Os especialistas coincidem na opinião de que os problemas de acesso às doses pelo monopólio exercido pelos países ricos foram o principal factor da baixa taxa de vacinação, mas não são o único condicionante. Complicações na distribuição de vacinas que chegam tarde e defeituosamente a sistemas de saúde com poucos recursos, além da desconfiança existente num continente em que não houve uma estratégia clara e onde a ideia de que o risco da covid-19 é menor somam-se a essas dificuldades.