A passagem frequente nas estradas da capital, especialmente nas vias de acesso aos subúrbios de Luanda e às unidades militares, de colunas de veículos pesados com tropa e artilharia atrelada, deixa no ar um clima de medo e faz com que muitas pessoas não andem à-vontade, constatou o Novo Jornal numa volta pela capital.
Nas ruas e nas principais avenidas da capital do País, há efectivamente um aumento substancial de agentes da Polícia Nacional, através das unidades de intervenção rápida, e de militares das Forças Armadas Angolanas, num clima nunca visto desde a conquista da Paz Abril em 2002.
Em Viana e no Cazenga, por exemplo, os dois maiores municípios da província de Luanda, a presença de carros militares das FAA e Polícia Nacional preocupa os munícipes, sobretudo no período nocturno, porque aviva a memória que os mais velhos têm da guerra que terminou há já 20 anos.
Nas zonas do Rocha Pinto, na Samba, no Zango e do Grafanil, em Viana, da BCA e do Cazenga Popular, no Cazenga, como constatou o Novo Jornal, a presença de veículos de guerra é assustadora para muitos dos habitantes desta áreas urbanas.
"Mas afinal o que está a se passar no País? Haverá de novo guerra?", questionam-se as pessoas, assustadas, com quem o Novo Jornal conversou.
Evaristo Muanza, funcionário público, morador no Zango I, disse ao Novo Jornal que a presença do exercito nas ruas está a deixá-lo "muito preocupado" uma vez que as forças armadas "não costumam sair à rua sem razão pesada".
"Alguma coisa que não é boa vai acontecer no País nos próximos dias, só pode ser. Não acredito ser só por causas dos resultados das eleições", disse o funcionário público preocupado, assegurando que não anda com a tranquilidade que anda antes.
No Cazenga, a conversa não é outra. André Moço, Afonso Serafim e Marcos André, jovens que nasceram dois anos antes da 2002, o ano da paz efectiva no País, disseram que nunca tinham visto os "kamazes" - referência aos camiões militares de fabrico russo, Kamaz, usados comummente pelas FAA -, cheios de militares como vêm em filmes, nem os tanques de guerra a circularem na cidade.
"Estamos a ter muito medo. Vimos blindados a serem levados e muita tropa armada nos Kamazes das FAA", descreve o jovem Marcos André, de 22 anos, com bastante medo de que possa voltar a guerra a Angola.
"Agora ficar em grupo a conversar muito tempo já é mal. A polícia vem logo perguntar o que fazem. O País não está bom, praticamente não estamos à-vontade", disse o jovem André Moço ao Novo Jornal.
Afinal a polícia tem efectivos para combater a delinquência em Luanda, dizem os populares.
"De onde saíram esses polícias e militares que andam agora nas ruas a patrulharem fortemente armados? Estavam nas unidades? Porque não conseguem combater a criminalidade? Há alguma razão para o País estar em alerta máximo?", questiona Afonso Chitatela, antigo combatente.
David Mário, de 63 anos, oficial na reforma das FAA, crítica o facto de os militares estarem a ser instrumentalizados nesse período eleitoral, e salienta que a "prontidão combativa" das forças armadas é somente para casos de ameaças à soberania nacional, que não é o caso.
"Isso só mostra não haver vontade política de quem nos governa em combater a criminalidade. Agora, há efectivos para assegurarem os resultados das eleições, mas nunca há efectivos para manterem a ordem e tranquilidade das populações. Isso é somente intimidação", critica.
Esta ordem assinada pelo general-de-Exército, Egídio de Sousa Santos, justificada pelo período eleitoral, visa garantir que neste período quaisquer protestos e tumultos terão uma resposta adequada, "com particular incidência" na província de Luanda.
As FAA vão, assim, estar em "prontidão combativa elevada" num período que coincide com a divulgação pelo Tribunal Constitucional da sua decisão sobre os recursos e reclamações dos partidos políticos, UNITA e CASA-CE.
O documento, com data de 03 de Setembro, e que o Novo Jornal confirmou a sua autenticidade, determina que, neste período, "sejam reforçadas em todo o território nacional as medidas de defesa e segurança dos principais objectivos económico-estratégicos", impondo uma observação rígida do "controlo do movimento de colunas militares e restrições na saída de aeronaves militares".
A Polícia Nacional também está nas ruas de Luanda no máximo da sua força, com as suas unidades de intervenção e reacção e também com os seus serviços de informação policial.