Pelas 11h30 centenas de pessoas convergiam já para o local de concentração, cemitério de Santa Ana, de onde a marcha sairia pelas 13h00 em direção ao Largo das Escolas para protestar contra a fome e a pobreza e em prol da democracia.
Apesar do calor intenso que se fazia sentir, o ritmo do kuduro ia animando os manifestantes que expressavam as suas preocupações através de dizeres em tshirts e cartazes caseiros onde se lia "A fome em Angola é real" e se apelava à mobilização das autarquias.
Alguns faziam alusão à situação pós-eleitoral que se vive em Moçambique, avisando "Hoje é Frelimo, amanhã é o MPLA" (os dois partidos estão no poder desde a independência dos respectivos países), entre bandeiras de várias formações políticas, onde se destacou o vermelho e verde da UNITA, liderada por Adalberto Costa Júnior, também coordenador da FPU
Elda Eduardo dos Santos, dirigente da UNITA, mostrou-se preocupada com a fome e extrema miséria do povo, lamentando que num país tão rico "o governo continue a fazer sofrer o povo, a não dar qualidade de vida e condições básicas que são direitos inalienáveis da pessoa humana".
"Hoje estamos aqui para dizer 'Basta!'. Quando o povo se levanta significa que temos de mudar e temos vários exemplos por aí, como Moçambique em que o povo tomou a decisão para a mudança e é essa mudança que precisamos", destacou.
Carlos Domingos, professor, assinalou que "o executivo já fez muito", mas que a fome em Angola ainda é uma realidade.
"O governo devia-se preocupar em melhorar a cesta básica e dar um cartão de compras aos pobres no sentido de manter o bem-estar económico e social dos angolanos", afirmou, criticando o executivo por estar mais preocupado com a sua imagem exterior.
"E a comunidade internacional também aceita isso e não tenta intervir na realidade dos angolanos, por isso estamos aqui, com essa voz viva no sentido de o governo de João Lourenço resolver com urgência a questão da fome", apelou o professor.
Carlos Domingos contestou ainda o convite à selecção da Argentina para um jogo amigável com Angola por se gastar "tantos milhões para duas horas e deixando o povo com fome".
"Isso está a pôr-nos muito zangados", reforçou, acrescentando que se juntou à causa "dos que não trabalham, que passam a vida a comer no lixo e não têm um pão por dia".
A vendedora ambulante (zungueira) Rosa Faustino afirmou que se juntou à marcha por causa da fome.
"As panelas estão a gritar não temos comida, o povo, é mesmo fome que tem vindo a gritar, arroz subiu, medicamento nos hospitais nem se fala. A vida está muito difícil, não estamos a conseguir comprar o negócio nas lojas para sustentarmos os filhos", desabafou.
O desfile decorreu sem incidentes até ao Largo das Escolas, ponto final do trajecto.