Apesar de ser um bom sinal para os próximos tempos, são precisas várias semanas para que o pasto cresça nos solos ressequidos e meses para que o milho e o massango, que constituem grande parte da base alimentar destas comunidades, possam ser colhidos e integrados na alimentação normal das poplações que, até lá, vão continuar a, forçosamente, depender de ajuda..
Num relatório-sintese publicado pela Organização Global para o Desenvolvimento das Nações Unidas (UNGDO, sigla em inglês), é sublinhado o facto de que, apesar de serem boas as perspectivas de uma época de chuvas melhor que as anteriores e que em algumas províncias angolanas, como o Cunene, já ter caído alguma chuva, a situação ainda não permite afirmar que a vida das comunidades locais e do seu gado melhorou.
Este documento, divulgado pela UNGDO na página do Escritório da ONU para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (UNOCHA) nota que a análise meteorológica possível para os próximos meses é positiva, mas sublinha igualmente que isso não significa que as populações sacrificadas pela prolongada seca obtenham qualquer alívio no imediato, porque é preciso tempo para que a erva, fundamental para os animais, volte a crescer nos terrenos castigados pela falta de humidade durante anos e as comunidades têm de esperar o tempo normal das próximas colheitas.
Esta organização das Nações Unidas recorda quem por causa da escassa chuva dos primeiros meses deste ano, abaixo do normal mas em consonância com o que sucedeu nos últimos anos, as terras nas províncias do sul, como o Cunene, Huíla, Kuando Kubango ou Moxico, apresentam uma muito baixa taxa de humidade e um forte stresse hídrico visível na vegetação local.
E este documento chama ainda a atenção para a possibilidade de, tendo em conta "a generalizada pobreza e uma população maioritariamente dependente de uma agricultura de subsistência", a insegurança alimentar pode ainda degradar-se por algum tempo e a escassa precipitação referenciada pode levar a que a "situação humanitária seja falsamente minimizada".
Recorde-se que nos últimos dias, a imprensa angolana noticiou a chegada da chuva à província do Cunene, por vezes sem a clara indicação de que esta não foi suficiente para gerar alívio na situação dramática que ali se vive desde, pelo menos, 2016.
Isso levou mesmo a que nas redes sociais, a partir do Cunene, fossem feitos alertas para o excesso de optimismo demonstrado por essas mesmas notícias, exactamente porque entre o momento da chegada da chuva, mesmo que fosse em quantidade suficiente, e o seu efeito nas colheitas e nos pastos levaria sempre de várias semanas a meses, e, para já, a chuva que caiu está longe de ser suficiente para libertar as terras do sufoco da extrema secura.