A razão é simples: China e EUA, as duas maiores economias do mundo, acordaram suspender a fase aguda da sua guerra comercial por um ano, o que deveria impactar positivamente o negócio global de crude, porque estas são, ao mesmo tempo, os maiores consumidores de crude...
Só que nem sempre o expectável acontece, porque, lendo os analistas citados pelos media especializados, percebe-se a razão, ou as razões.
É que poucos já acreditam no que Donald Trump diz e promete, tal a velocidade com que as suas ideias, opiniões e decisões mudam, depois de, nestes nove meses de mandato, desde que regressou à Casa Branca a 20 de Janeiro, esse ser o pão nosso de cada dia em Washington.
Em suma, não há nada que garanta que dentro de dias, semanas ou meses, Trump não apareça na sua rede social, Truth Social, a dizer que o seu "amigo e duro negociador" Xi Jinping falhou no acordado, embora as questões mais rugosas, como as exportações de terras raras para os EUA tenha ficado apenas parcialmente garantida...
E também nada existe que garanta que a junção da fragilidade mostrada pelos dados mais recentes da economia global, com crises de confiança e de produção na China e nos EUA, com a Europa Ocidental à beira da implosão económica devido ao tampão colocado na energia barata russa com a rolha das sanções...
... com o persistente aumento da produção no seio da OPEP+, apesar de agora mais contido, que choca com o momento de pressão sobre a procura, não vá gerar uma espiral descontrolada de perda nos mercados porque a desconfiança começa a ganhar tracção e a economia mundial está com dificuldades em respirar.
E sobre este cenário que se chegou ao fim de Outubro como o terceiro mês sucessivo de perdas, a que, como nota a Reuters, se juntam os sinais de fragilidade na produção fabril chinesa, desemprego e inflação nos EUA, um fortalecimento do dólar e as notícias de que a OPEP+ vai voltar a aumentar barris à produção já em Dezembro formando uma tempestade perfeita.
Até quando vai durar, é a questão para a qual ninguém pode garantir uma resposta sem alçapões e desvios inesperados, mas certo como um relógio suíço é po que está a acontecer nos mercados, onde as dúvidas resultam sempre em perdas avermelhadas... embora a reunião dos peritos da OPEP+ para este fim-de-semana possa trazer algum alívio... mas não é certo.~
E é assim que, perto das 11:00, hora de Luanda, desta sexta-feira, 31, o barril de Brent, a referência que conta para as ramas exportadas por Angola, valia 63,9 USD, uma perda ligeira de 0,53% face ao fecho anterior.
Na segunda-feira, 03, quando os mercados voltam a iluminar este sector, que atravessa uma fase sombria, se fosse obrigatório tentar adivinhar, então as perspectivas são más para os países exportadores com as economias mais dependentes da matéria-prima, como é o caso de Angola.
E isso, porque com os EUA a acelerar a produção no seu fracking, atingindo já mais de 13,4 mbpd, sauditas e russos, como sucede amiúde, podem ser obrigados a aumentar a produção na OPEO+, para reduzir os preços, afectando aquele sector norte-americano, com breakeven claramente superior, impedindo-o de conquistar mercados ao cartel liderado pela dupla saudi-russa.
E vai ser ainda preciso perceber o efeito das negociações de curto prazo sino-americanas porque em cima da mesa está o aumento das compras chinesas aos americanos, como Trump tanto deseja, excepto se, como alerta a Reuters, a economia chinesa não precisar de aumentar as aquisições de energia, porque dificilmente Pequim vai enxaguar as compras ao seu aliado especial que é a Federação Russa com quem mantém uma "parceria sólida como uma rocha".
E é bom não esquecer que a Organização Mundial do Comércio já veio avisar que se a guerra comercial EUA-China não for efectivamente travada, a economia mundial vai dar um trombo de 7% nos próximos tempos.
Com uma dependência tão vincada das exportações de crude, em Angola, como, de resto, outras dezenas de países em todo o mundo, este momento...
... é mais uma razão para não se perder os mercados de vista
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora o OGE 2026 vá, seguramente, contemplar um ajustamento em baixa deste valor, em torno dos 60 USD, valor conservador mas aconselhável, atendendo aos altos e baixos globais...
Ainda assim, Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente â beira de 1 milhão de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.

