Face à pressão internacional cada vez mais forte, com os EUA a ameaçarem diariamente com uma intervenção militar sob a expressão dúbia e recorrente de "todas as opções" estarem sobre a mesa, com os países da União Europeia a declararem o seu reconhecimento a Guaidó como Presidente interino, com as contas do Estado venezuelano "congeladas" um pouco por todo o lado, e sem capacidade para responder à crescente miséria no país, Nicólas Maduro lançou um pedido de recolha de assinaturas entre a população venezuelana para pedir a Washington que acabe com as ameaças a Caracas.

Depois de procurar libertar-se da pressão internacional, sem sucesso, sublinhando o facto de ter sido eleito em eleições "democráticas" há pouco tempo e declarar que a Assembleia Nacional liderada por Juan Guaidó é ilegítima porque ele próprio criou uma nova com carácter Constituinte que está a funcionar, o Presidente Maduro começa a ficar sem opções outras que não seja "barricar-se" no meio do povo venezuelano que, cada vez menos, segundo os relatos da imprensa internacional, se mostra disponível para o apoiar.

Mesmo contando com o apoio da China, da Rússia, de Cuba, da Turquia ou ainda do México, o Presidente venezuelano quer reafirmar o seu poder através de uma campanha de recolha de assinaturas para exigir o fim das ameaças dos EUA que, se tiver sucesso, pode ser mais tarde usada como uma espécie de referendo à sua governação.

"Peço ao povo para pôr a sua assinatura em todas as praças Bolívar, quartéis, fábricas, escolas. Vamos ser milhões assinando, para que a voz da Venezuela se faça ouvir e vá surgindo uma onda pacifista", declarou Nicolás Maduro durante uma cerimónia militar.

Ao apontar como local de recolha de assinaturas as praças Bolivar, Maduro procura reconquistar o "fôlego" bolivariano que deu o poder ao seu antecessor, Hugo Chávez, levando as pessoas para as ruas porque em todas as localidades do país existe uma praça Bolivar, em honra de Simon Bolivar, o herói das independências sul-americanas.

Este pedido de assinaturas surge num contexto em que Nicolás Maduro insiste que o povo venezuelano não quer uma intervenção "gringa", como se refere aos norte-amercianos, sempre chamando a atenção para aquilo que considera ser uma invasão da Venezuela em preparação pelos Estados Unidos.

Recorde-se que a crise política na Venezuela agravou-se em 23 de Janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos da América e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, chefe de Estado desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento, maioritariamente da oposição, como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.