O chefe da bancada parlamentar do MPLA, atacado por estrabismo político, veio negar a existência de um desfiladeiro de fome a pele e osso em Angola...

Pediu, depois, desculpas, sob o desfile de gente anelada com ouro, que, pelos vistos, se apresenta agora destituída de lentes de contacto parlamentares. Não admira. Por lá, não há fome.

Só há mordomias, que, refugiadas no silêncio do debate e no apadrinhamento de cumplicidades, ofuscam a miséria alheia e promovem o insulto institucional.

A seriedade, tão ciosa de uma geração de causas, a pretexto da guerra, há muito tempo que foi aprisionada e fuzilada em hasta pública. A seriedade, tão avessa a uma geração de casos, a pretexto de interesses lobistas, há muito tempo que foi para a clandestinidade...

A curva aperta e não há mais tempo para olhar para trás. Quem por aqui passou, já passou e agora não vale a pena continuar a olhar para o espelho. O comboio do dinheiro jamais voltará a passar...

Esteja o preço do petróleo alto ou baixo, a água do rio haverá de continuar a correr sempre na mesma direcção.

Não há, por isso, mais tempo a perder com o orgulho e a soberania de uma companhia de petróleo que, quarenta e cinco anos depois, não produz mais do que 1 por cento da produção total do país...

Se falta soberania, é a de um tempo que nos convoca para discutirmos o que, à vista de toda a gente, vai mal na nossa governação. Falta, na verdade, outra soberania.

A soberania que não se avalia pelo peso da conta bancária. A soberania expressa pela dimensão da massa crítica detida pelos servidores públicos.

A soberania do conhecimento. A soberania do debate sem filtros. A soberania da lealdade assente na crítica aberta e franca e no reconhecimento das falhas.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)