Com uma postura assumidamente crítica em relação ao regime e às incongruências de um sistema democrático que apenas existe, na sua opinião, na teoria, Luís Bernardino não acredita que o julgamento dos 15 jovens venha a ser justo, uma vez que esta decisão está dependente de um posicionamento político e não do poder judicial que está sob influência do poder executivo.

Escreveu para o Luaty Beirão para tentar demovê-lo da greve de fome e nesta carta condensa, à volta das suas qualidades, os últimos 25 anos de Angola, fazendo inclusive um elogio segundo o qual (e passo a citá-lo) "é com o perfil de pessoas como Luaty que Angola precisa para ser mais feliz e mais próspera". Esta carta foi escrita, entretanto, para um jovem que está a ser acusado de tentativa de golpe de Estado. Como chegou a ela?

A carta escrevi-a em grande parte como cidadão atento aos problemas e à realidade que é Angola ao fim de 40 anos de independência, e verificar exactamente que Angola, para ter aquele estatuto que todos nós queremos, de tornar os angolanos felizes, precisa realmente de intervenções do tipo da do Luaty e dos seus companheiros. Portanto, não podemos considerá-la como uma coisa propriamente humanitária, é muito fácil a posição humanitária. A coisa é mais complexa. O que está em causa são valores que às vezes ultrapassam as próprias pessoas. Devo dizer que conheci o Luaty há alguns meses, foi ter comigo ao hospital e disse assim: "Eu sou o Luaty Beirão. Eu e os meus companheiros temos um bocadinho a reputação de sermos críticos e de sermos destrutivos. De forma nenhuma. Quero construir uma Angola justa e penso que o senhor tem um perfil que pode ser um modelo para nós". O que eu gostaria de dizer é porque é que eu penso que ele tem razão e fazer uma análise do que se passou nos 40 anos.

(Leia a entrevista na íntegra na versão em papel, hoje nas bancas)