O presidente do partido do "Galo Negro" começou, aliás, a conferência de imprensa, deixando no ar uma dúvida, em tom de picardia a João Lourenço, questionando se a divulgação do montante de 24 mil milhões desviados tem alguma coisa a ver com a denúncia do enriquecimento ilícito de Edeltrudes Costa, o chefe de Gabinete de João Lourenço e antigo chefe da Casa Civil de José Eduardo dos Santos, feita por uma televisão portuguesa, a TVI.

"Há quem questione a razão da escolha deste timing? Há quem especule tratar-se de uma tentativa de fazer esquecer o escandaloso e escaldante caso do seu director de gabinete. Há quem também fale da coincidência da proximidade com o discurso do estado da Nação", afirmou Adalberto Costa Júnior, para dizer que, "independentemente da razão, foi importante ter números, para poder-se avaliar da sua credibilidade e transparência".

O líder do maior partido da oposição saudou o Chefe de Estado depois de este ter dito, em entrevista ao Wall Street Journal, que Angola perdeu cerca de 24 mil milhões de dólares norte-americanos através de esquemas ilícitos, com especial enfoque nas empresas públicas dos sectores do petróleo e dos diamantes, mas as contas da UNITA são diferentes das apresentadas por João Lourenço, disse Adalberto Costa Júnior, lembrando que só a reserva estratégica de petróleo acumulada de 2011 a 2014 chegou a reter valores na ordem dos 93 mil milhões de dólares.

"Se foram só 24 desviados onde estão os restantes, perguntamos nós? Quem quiser fazer contas, some os valores da produção do petróleo durante os anos de alta dos preços, verifique a produção diária, subtraia a quantia paga às empresas concessionárias e veja os valores que obtém! Este exercício foi efectuado por múltiplas instituições credíveis e desmentem em absoluto os números indicados pelo senhor Presidente da República", afirmou, para perguntar: "Qual o propósito em ter reduzido tanto este valor?"

Para Costa Júnior "nunca ficou explicado porque razão o MPLA fez aprovar a sua versão da Lei de Repatriamento de Capitais e ficou seis meses sem a ter regulamentado".

"Todos os que quisessem repatriar voluntariamente foram impedidos de o fazer. A quem serviu esse impedimento de fazer o repatriamento voluntário? Que valores podemos obter se formos fazer uma rigorosa fiscalização às linhas de financiamento da China e avaliarmos as correspondentes obras realizadas?", questionou.

"Quais poderão ser os montantes resultantes da não materialização dos múltiplos programas de investimento públicos dos vários Orçamentos Gerais do Estado, não terminados, mas executados pelas finanças?", voltou a questionar, para depois dizer que o Grupo Parlamentar da UNITA realizou um estudo aos valores utilizados pelas Obras Públicas e pelo Gabinete de Obras Especiais.

"Em 10 anos de OGE e totalizaram a bela quantia de cerca de 30 mil milhões de USD, de obras na sua maioria descartáveis! Também investigámos os múltiplos programas de "água para todos" e com dados publicados em documentos oficiais, parte destes programas tiveram orçadas verbas, em 10 anos, na ordem dos 20 mil milhões de USD! Estes são valores astronómicos, mas as torneiras na sua maioria ainda sem água", acusou.

E exigiu que o Mpla e o seu Presidente façam "sair das gavetas as Comissões Parlamentares de Inquérito há muitos anos negadas à UNITA e aos angolanos e que poderão trazer imensos contributos à transparência e ao combate à corrupção e que certamente porão em causa os números agora divulgados".

Sobre as contas do Executivo, Adalberto Costa Júnior finalizou o assunto com mais uma questão: "Porquê fazer esquecer o desaparecimento de cerca de 30 mil milhões de USD das reservas estratégicas, questionados pelo FMI e nunca explicado".