A onda de criminalidade que está a atingir os três bairros do distrito da Maianga tornou-se insuportável. Almeida João, morador da zona do Gamek, disse ao Novo Jornal que a criminalidade aumenta a cada dia que passa, porque há pouco patrulhamento na zona. "O patrulhamento dos agentes da ordem só é feito na estrada principal.

A polícia esquece que os problemas estão no interior dos bairros. Aqui há assaltos todos os dias e a polícia nunca aparece. Muitas vezes, fico sem saber qual é o trabalho que a nossa polícia faz", acusa, acrescentando que só se vêem os agentes da polícia quando se anuncia "uma manifestação". A fonte acredita ainda que outra razão que faz com que os crimes no bairro aumentem são as constantes falhas de energia eléctrica.

"Aqui a energia falha muito. Também entendo que os agentes da polícia são seres humanos e é difícil entrar numa zona que não tem luz. Acho que o governo deve melhorar as situações básicas dos munícipes deste bairro, porque estamos a sofrer. A água potável é outro dos problemas que estamos a viver", regista.

Maria Teresa, moradora do bairro Morro da Luz há mais de 13 anos,nota que a maior parte dos jovens do bairro optam por práticas ilícitas, devido à falta de oportunidades de emprego. E os pais não contribuem para corrigir a trajectória. "Os jovens aqui têm sido o nosso grande problema, porque alguns preferem roubar porque não têm nada para fazer. Muitos começam a beber e a usar drogas, logo nas primeiras horas da manhã.

Fazem isso porque não estudam e não têm nada para fazer. Não sei que futuro vai ter este país, se o governo não resolver algumas situações que afligem a juventude", evidencia. De camião a roubar A mulher, de 43 anos, diz que os conflitos começam a partir das 19h00 e que chegam a dificultar a circulação das pessoas no bairro. "Normalmente, eles não têm hora para atacar, mas é durante o período nocturno que fazem mais confusão.

A semana passada foram assaltadas várias residências. A casa da minha irmã, que vive aqui ao lado, é uma das que foi assaltada. Os marginais andavam de camião, onde depositavam todas as coisas que roubavam. Ligámos para a polícia, mas só chegaram passado uma hora", relata. Ana Ngueve, moradora do bairro Huambo, aponta a falta de energia eléctrica como um dos factores que tem contribuído para o aumento da criminalidade, tal como a falta de patrulhamento.

"Só temos uma esquadra da polícia junto ao campo de futebol do Belenenses. Praticamente é a única esquadra aqui e a falta de esquadras tem facilitado a actuação dos marginais. Também não existe uma colaboração entre moradores e a polícia, porque os mesmos não facilitam as coisas". De acordo ainda com Ana Ngueve, alguns pais são culpados pela situação que as pessoas vivem no bairro por não saberem pôr limites aos filhos.

"Muitos pais sabem que os filhos são marginais, mas mesmo assim ainda os defendem. Os que roubam aqui não vêm de outros bairros, são mesmo daqui, são adolescentes dos 13 aos 16 anos", afirma a moradora. Os adolescentes vão presos, mas "depois de alguns dias estão na rua". A polícia, segundo Ana, justifica dizendo que não têm idade para estar na cadeia. "Acho que o centro de reeducação para menores deve funcionar. Só assim é que a situação da criminalidade no país poderá ter solução".

Assaltados à porta da escolaAna Ngueve assegura ainda que as principais vítimas dos marginais são os estudantes que frequentam o ensino pós-laboral, que são constantemente assaltados. "Não sabemos se existe a Brigada Escolar do Comando Provincial de Luanda porque nunca a vi. Eu vivo aqui junto à escola, já vi muitos alunos serem assaltados e os seguranças da escola não fazem nada, porque se tentarem ajudar também são espancados. É muito triste o que vimos aqui. Ainda bem que o ano lectivo está a terminar", acentua.

Marta André, outra moradora, conta ao Novo Jornal que os alunos têm sido os principais alvos dos marginais, porque todos os dias, quando saem da escola, são atacados e algumas mulheres são abusadas sexualmente.

Segundo os moradores, o comandante da Divisão da Maianga tem conhecimento das dificuldades por que os moradores passam e do índice de criminalidade que se regista naqueles três bairros. Polícia garante reforço de patrulhamento O Novo Jornal tentou ouvir o comandante da Divisão da Maianga, mas sem êxito. Todavia, conseguiu, por via de uma chamada telefónica, interpelar a porta-voz do Comando Provincial da Polícia de Luanda, Engrácia Costa.

A oficial da corporação garantiu que o patrulhamento nas referidas zonas foi já reforçado, estando ainda previstas, no quadro das operações, buscas dirigidas e encontros com as comunidades residentes. "O trabalho é contínuo", salientou Engrácia Costa, acrescentando que a polícia pretende com estas novas medidas encontrar no seio da comunidade parcerias para a busca de informações sobre indivíduos que estejam a perturbar a ordem e a segurança dos munícipes.

Por outro lado, os residentes reportaram que a energia que consomem é proveniente da central térmica, localizada no morro da Luz, nas imediações do antigo acantonamento das tropas cubanas, mas tem falhado muito após a mudança de gestores da central térmica, que aconteceu logo após as eleições de 2012. Na mesma zona, o Novo Jornal notou que os moradores lidam com um saneamento péssimo, o que propicia o surgimento de focos de mosquitos. Nos vários sectores daquele bairro, constatam-se resíduos sólidos em abundância e em todos os lugares.