O que quer dizer que o saldo do confronto entre as razões que levam, normalmente, o preço do barril para baixo, e os que puxam, comummente, empurram o o barril para cima, está a ser, neste período histórico de saldo zero, porque o Brent não arreda pé da margem dos 65 USD.
Entre as razões que levam à desvalorização do crude está o aumento da produção, não só mas especialmente pela OPEP+, como o iniciado em Abril, actualmente nos 411 mil barris por dia, enquanto a valorização é, quase sempre, gerada por cortes na produção.
E é isso que está a suceder neste preciso momento, como o plano de reposição da produção no cartel liderado por russos e sauditas a gerar uma pressão negativa nos mercados, enquanto os sinais de quebra no fracking norte-americano empurram os gráficos em sentido ascendente.
Além da perda de viço no sector do petróleo de xisto nos EUA, devido, precisamente à queda nos preços gerada pelo aumento da produção da OPEP+, provavelmente um plano desenhado com esse objectivo, no Canadá são os gigantescos fogos florestais em Alberta que obrigaram a interromper a produção.
Sendo estes factores intermitentes, outros há que são mais estruturais, como a chegada do Verão ao Hemisfério Norte dando início às férias das famílias norte-americanas que, por norma, recorrem às longas viagens de carro, levando a um aumento substancial do consumo.
Ou ainda a robustez das grandes economias, como a chinesa e a norte-americana, ambas a passar por períodos de incerteza, seja na dimensão fabril, no caso da China, seja nos números da inflação e crescimento, no caso dos Estados Unidos da América.
Há ainda em stand by a questão da guerra tarifária de Donald Trump, que tem em curso negociações com a China, em Genebra, Bruxelas, e das quais depende em larga medida o que será a realidade dos mercados energéticos nos próximos meses.
E com este cenário em pano de fundo, a que se junta uma possibilidade histórica de um acordo entre os EUA e o Irão sobre o programa nuclear de Teerão, o que levará a uma redução das sanções sobre as exportações de crude iranianas, o tal pato que grasna como pato, nada como pato... deve ser mesmo um pato...
O barril de Brent tem tudo para se manter por um tempo alargado muito próximo dos 65 dólares norte-americanos, o que é um valor robusto para os grandes produtores, que possuem um baixo breakeven, mas é insatisfatório para Angola, devido ao facto de o OGE 2025 ter sido elaborado com base num preço médio do barril nos 70 USD.
Estes 64/65 USD por barril, como o atesta o gráfico do Brent correspondente às últimas semanas, pode ser um valor razoável para Angola, mas vai exigir, mais cedo que tarde, uma revisão ao OGE 2025.
Isto, porque p valor do barril já está abaixo dos 70 USD desde o início de Abril, há três meses, o que começa a ser tempo suficiente, como admiram já vários economistas, para que o Executivo mexa no OGE.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional, marcado pela instabilidade e incerteza, tende a manter os preços ainda longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.