O foco dos analistas dos mercados petrolíferos está centrado por estes tempos na China, seja porque a sua política de "covid zero", reafirmada no Congresso do Partido Comunista Chinês, que começou no Domingo, onde Xi Jinping vai ser indicado para um extraordinário 3º mandato, seja porque os dados da sua economia permanecem em sobressalto, levando o Banco Central a manter as taxas de juro baixas de forma a avivar o seu tecido económico.

E sendo a China o maior importador de crude do mundo e a segunda mais robusta economia planetária, facilmente se compreende que um espirro do "Império do Meio" gera uma gripe inteira no resto do mundo que depende, como Angola, das exportações da matéria-prima, sendo precisamente isso que mais está a enxugar os ganhos do sector.

Isto, claro, ao mesmo tempo que decorre no ocidente, Europa e EUA, especialmente, um tempo de tumultuosas dúvidas sobre a performance destas economias, com o seu húmus na guerra da Ucrânia, e muito no rasto do aumento dos preços, desde logo nos alimentos e nos combustíveis, conduzindo esta parte da humanidade para uma inflação recorde de quatro décadas e um risco já assumido como inevitável de recessão na Alemanha, Itália, EUA e com possibilidades de tal suceder também noutros portentos económicos ocidentais.

E se a economia chinesa conduz o ritmo desta orquestra lubrificada pela energia, crude e gás natural, os países ocidentais não são meros tocadores de bombo... são solistas com peso e importância fulcrais na condução do concerto e, no fim, na evolução dos gráficos dos mercados, seja o Brent, em Londres, importante para Angola, seja o WTI, em Nova Iorque, fundamental para a maior economia do mundo, a dos Estados Unidos.

Face a este terreno enlameado, o barril de Brent estava hoje, perto das 14:40, a valer 92,87 USD +1,28% que no fecho de sexta-feira, quando em escassas horas tomou de acima dos 94 USD para pouco mais de 91.

A OPEP diz que...

Este cenário onde impera a dúvida resulta ainda do "Outlook" para os próximos meses da economia mundial, que vai arrefecer no último trimestre de 2022 e ainda mais ao longo de 2023, provocando uma redução substancial da procura por petróleo, anunciou na passada semana a Organização dos Países Exportadores (OPEP).

A suportar esta perspectiva negativa para o consumo de crude no mundo, a OPEP sublinha a crise económica que se avizinha, com a inflação a disparar em direcção à recessão em algumas das grandes economias ocidentais, na Europa e nos EUA, com a subida das taxas de juro pelos grandes bancos centrais e o aparente refluxo da Covid-19 na China e os inerentes confinamentos.

Apesar deste "Outlook" pessimista, o "cartel" mantém um crescimento na procura para este ano de 2,64 milhões de barris por dia (mbpd), perto de 2,7%, embora isto representa uma substantiva quebra nas estimativas anteriores de mais de 450 mil bpd.

Estes números reprimidos da OPEP consubstanciam uma renovada justificação para a desafiante decisão que a OPEP+, que junta aos 13 membros deste colectivo, mais 10 exportadores encimados pela Rússia, tomou a 05 de Outubro de cortar 2 mbpd à produção, num gesto que enfureceu o Presidente dos EUA, Joe Biden, levando-o a fazer ameaças directas - raras ou jamais vistas, mesmo - ao Príncipe saudita Mohamed bin Salman, garantindo-lhe, como o Novo Jornal noticiou aqui, consequências por essa opção.

Mas as ameaças de Biden são, elas mesmas, a prova de que o cartel estava certo ao sustentar o corte avultado na produção no receio de um impactante arrefecimento da economia global, onde os EUA, em risco de recessão, inflação recorde e subidas íngremes nas taxas de juro, são um dos grandes "pivots", porque o Presidente norte-americano queria mais crude a circular para baixar o preço do barril de forma a fragilizar a impetuosidade inflacionista - acima dos 10 por cento - no seu país.

Alias, o próprio FMI, como o Novo Jornal também noticiou aqui, veio, no seu relatório de Outubro, divulgado na terça-feira, apontar para um futuro imediato de grande incerteza e múltiplos desafios que geram riscos que não eram sentidos há muitos anos, devido à inflação flamejante, buracos na estrutura das dividas soberanas, juros em subida acentuada e problemas sérios de distribuição de bens em todo o mundo.

Neste relatório da OPEP, o cartel espera, no entanto, um crescimento positivo de 2,34 mbpd, mas isso é menos 360 m bpd que o anteriormente esperado, para os 102 mbpd, o que, ainda assim, é mais, cerca de 2 mbpd, que o registado antes da pandemia da Covid-19 ter feito quase colapsar a economia planetária.

Porém, a organização a que Angola pertence desde 2007, deixa em aberto um espaço substantivo de dúvida e de risco para cenários ainda mais pessimistas porque existem riscos que não podem a este tempo ser devidamente perscrutados, nomeadamente no âmbito das políticas fiscais nas grandes economias consumidoras de crude, como os EUA, Europa ou China...

A atenção centrada nos mercados porque João Lourenço e o seu Executivo estão bem cientes de que o país ainda depende fortemente das suas exportações de crude, cada vez mais minguadas, já muito próximas do 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), longe dos 1,8 mbpd de 2008, mas ainda assim contribuindo com perto de 35% do PIB nacional, mais de 60 por cento das receitas fiscais e até 95% do tota das suas exportações.