Estas novas sanções de Washington visam directamente a frota de navios "fantasma" que é usada pela Rússia para levar o seu crude para todo o mundo, e vão ser aplicadas desde as seguradoras às empresas estatais e privadas que delas se servem para obter a energia russa.

Os grandes clientes do petróleo russo, desde que a guerra na Ucrânia começou, em Fevereiro de 2022, por causa das sanções ocidentais contra Moscovo, deslocaram-se da Europa para a Ásia, com a China em destaque, mas também a Índia.

Com esta medida da Administração Biden a escassos das de ser substituída pela Administração Trump, em Washington, a energia russa vai ter mais dificuldades em chegar às economias chinesa e indiana, que vão ser, no imediato, as mais afectadas.

Mas, como os analistas notam, este efeito deverá ser rapidamente diluído porque os navios podem circular com seguros fornecidos por empresas russas e tanto a China como a Índia têm acordos económicos e comerciais com a Rússia que devem sobrepor-se a estas limitações perseguidas pelas sanções.

E depois, como tem sido a norma desde há três anos, são as economias europeias que mais deverão pagar os custos, porque a Rússia vai manter as exportações, no essencial, mesmo que com ligeiras oscilações, podendo vender com desconto ao abrigo dos acordos, enquanto na Europa ocidental e no resto do ocidente, os preços da energia vão, como já está a suceder, disparar.

E é por isso que o barril de Brent, a principal referência para as ramas exportadas por Angola, está já a bater recordes de meados de Agosto de 2024, passando para lá dos 81 USD perto das 14:00 desta segunda-feira, 13, hora de Luanda, tendo escassas horas antes chegado aos 81,49 USD.

Este valor mostra uma subida de mais de 7% desde o início do ano, fazendo de 2025 um dos anos com subidas mais robustas no seu arranque em muito tempo.

E as razões são bem conhecidas, porque se a matéria-prima russa tem mais dificuldades em chegar aos seus clientes maiores, como a China e a Índia, que são os maiores importadores do mundo, estes terão de a ir buscar a outros fornecedores, fazendo encolher a oferta.

E quando a oferta encolhe, mesmo que circunstancialmente, os preços sobem de modo a adequar o equilíbrio entre os dois polos que definem o capitalismo, a oferta e a procura, além de que criam instabilidade nos fluxos internacionais e geram desconfiança nos mercados.

Com menos crude disponível pela Rússia, Pequim e Nova Deli vão dirigir as suas compras para o Médio Oriente, África e Américas, o que levará a uma subida ainda mais pujante nas semanas que se aproximam.

Além da readequação dos fluxos e dos meios da Rússia para estes dois gigantes asiáticos, Moscovo poderá ainda contar com um eventual afrouxar das sanções norte-americanas quando Donald Trump assumir as rédeas do poder em Washington, já a 20 de Janeiro.

Isto porque a Administração Trump vai ter uma postura mais dialogante e menos sancionatória para com Moscovo, com quem (ver aqui e aqui) já se sabe que o ainda Presidente-eleito e Vladimir Putin vão falar por telefone antes de se encontrarem presencialmente após 20 de Janeiro.

Se EUA e Rússia vão aveludar as suas relações bilaterais para encontrar soluções para a guerra na Ucrânia e definir novos acordos de segurança globais, dificilmente isso será possível com Washington na condição de grande sancionador à economia russa, que começa a dar sinais de dificuldades de acomodar os efeitos dos "castigos" ocidentais.

No horizonte deste novo período estão duas datas relevantes, 20 de Janeiro, que é quando Trump chega à Casa Branca como inquilino oficial, e meados de Março, que é, como nota a Reuters, o intervalo de efectivação e consequência crescente das sanções agora aplicadas pelos EUA sobre o crude russo.

É que os navios fantasma russos, assim designados porque se tratam de petroleiros antigos adquiridos por Moscovo para fornecimento do seu crude ao mundo, depois de as vias normais pré-guerra terem sido praticamente todas fechadas pelas sanções, foram, em 2024, responsáveis por mais de 1,7 milhões de barris por dia (mbpd) levados da Rússia para o mundo (25% do total).

Outra curiosidade é que com estas medidas, que afectam as empresas que recebem o crude russo, indianas e chinesas, vão também retirar dividendos graúdos a estas duas economias, mas especialmente à indiana, que comprava, com descontos elevados, o petróleo russo em bruto e depois revendia já refinado aos países ocidentais que deixaram de o adquirir a Moscovo devido às sanções.

Com estas sanções, os norte-americanos vão, mesmo que isso seja pouco revelado na imprensa, igualmente infligir castigos aos países europeus que deixarão de ter o fornecimento "envergonhado" do crude russo através da Índia e de outros países asiáticos, afectando ainda mais as suas economias já sob forte stresse, como as alemã, italiana e francesa...

Falta ainda saber se o efeito Trump vai alterar este cenário, o que é provável, mas se assim não for, este cenário vai manter os mercados apertados e com o barril de Brent a galopar nos gráficos, podendo mesmo, segundo alguns especialistas, voltar a tocar a barreira dos 90 USD e mesmo a dos 100 USD.

O que, para as apertadas contas nacionais é uma revigorante notícia, visto que Angola tem uma das economias mais petrodependentes e uma das que atravessa a crise mais severa, desde a inflação galopante ao escaldante sufoco cambial...

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a manter os preços claramente acima do valor médio estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Preços estes que estão cada vez mais próximos dos que foram atingidos no pico do ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, quando as contas nacionais respiravam mais à-vontade, embora sem ignorar que ao valor mais alto do crude corresponde uma subida no preço dos combustíveis refinados que o país vai maioritariamente comprar aos mercados internacionais.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 ter apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais sólidas, mas nem por isso menos expostas porque qualquer desequilíbrio internacional pode afectar negativamente as contas nacionais.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.