Uma notícia veiculada na passada semana, no contexto da 14ª Conferência Ouro + Diamantes, de Nova Iorque, que teve lugar a 16 de Julho, indicava com clareza que o universo da indústria diamantífera estava em crise.

Ali, como notava o Financial Times, discutiu-se, já não os receios mas a constatação de que o comércio de diamantes, fossem eles em bruto, lapidados, de origem natural ou feitos em laboratório, está "simplesmente parado".

Fica ainda evidente, das discussões em Nova Iorque, que apenas nas pedras excepcionais, de grande calibre, coloridas ou de brilho extraordinário, "type D color", têm mercado garantido, mesmo que por valores já abaixo do normal em anos passados.

Isto não é o melhor indicador, quando em Angola a Empresa Nacional de Comercialização de Diamantes (SODIAM) se prepara para, já esta terça-feira, 24, realizar um leilão electrónico com 46 diamantes especiais, que são todos aqueles que possuem mais de 10,8 quilates e uma qualidade mínima garantida.

E igualmente quando o país está em pleno processo de aumento da produção, com apostas concretas em alguns projectos de grande dimensão que levam as autoridades do sector a anunciar objectivos que passam por levar a produção nacional dos actuais 9,7 milhões de quilates anuais para cima dos 17,5 milhões, até 2027, além de investimentos avultados na lapidação nacional e um combate férreo ao garimpo ilegal.

Sendo o país um dos maiores produtores globais de diamantes, classificado como o 4º maior do mundo em alguns sites especializados, o mau momento no sector não deixa de gerar receios, podendo este leilão da SODIAM ser um teste ao potencial nacional.

Potencial esse que cresceu de forma acentuada com alguns projectos já consolidados há décadas, como a Catoca, o 4º maior kimberlito a céu aberto do mundo, mas muito também pelo surgimento do fenómeno Lulo, na Lunda Norte, de onde saíram os dez maiores diamantes extraídos pela indústria nacional, desde que esta existe.

Fenómeno esse que levou mesmo o país a bater o recorde mundial em 2016, chegando aos 2983 USD por quilate, mantendo deste então os mercados internacionais atentos ao seu brilho, como pode ser observado nos links em baixo nesta página.

Porém, quando ninguém admitia esperar uma viragem acentuada no brilho deste sector que vive largamente em torno do mito do "melhor amigo das mulheres", e não propriamente pela raridade com que as gemas são extraídas em todo o mundo, eis que as más notícias começam a surgir.

Mas não sem que os sinais tenham começado a chegar ao longo dos últimos meses, com baixas acentuadas nos valores transaccionados, no aumento da produção em alguns países, como é o caso de Angola, ou ainda devido às crises económicas nos grandes compradores mundiais, como a Índia, a China ou os EUA...

E se dúvidas houvesse, o gigante De Beers vem a terreiro anunciar a sua intenção de reduzir de forma acentuada a produção para todo o ano de 2024, justificando a opção com os elevados números nos seus stocks, além de que as expectativas para uma recuperação são negativas.

Em comunicação para o sector, a De Beers, citada pela imprensa especializada, explica que tem um inventário muito acima do normal e face às fracas expectativas de uma recuperação, está em curso a procura de opções com os seus parceiros para reduzir a produção.

Isto, apesar de este gigante manter inalterado, pelo menos oficialmente, as estimativas para a produção em 2024 entre os 26 milhões e os 29 milhões de quilates.

Os preços estão consistentemente a baixar nos últimos meses, nota a De Beers, assim como estão em redução as vendas, no último 1/4, sendo as quedas mensuradas em 13%, em média, para 142 UD por quilate.

A De Beers baixou a sua produção já nas explorações do Botsuana, na Namíbia e em alguns projectos na África do Sul, embora neste país o declínio seja menos acentuado.

Apesar deste mau momento, alguns especialistas sublinham que não há razão para pânico, porque os diamantes serão "mesmo para sempre", e este ciclo em baixa faz parte dos ciclos normais neste negócio, sendo estas quedas historicamente repetidas, sucedendo-lhes sempre momentos de grande optimismo no sector.

E o que é evidente entre os analistas deste idiossincrático negócio é que há muito que se sabe que não é a raridade destas "pedras" que lhe dão o estatuto de preferidas entre as mulheres ou a ideia de que são para sempre, é o mito que a outra indústria, a dos sonhos, ergue consistentemente à sua volta...

Ou seja, sim, os diamantes serão para sempre enquanto o negócio dos sonhos for rentável...