Se no caso do petróleo já era evidente desde a semana passada, no sector dos diamantes, que, apesar de o sector estar em crise há já largos meses gera dividendos importantes para as contas nacionais com a ENDIAMA a recolher em 2024 cerca de 1,4 mil milhões USD.
Isto, quando o país está numa fase excepcionalmente boa na produção, com quase 14 milhões de quilates no ano passado, embora observando uma redução substantiva nas receitas, como fica demonstrado pelos números de 2023, com "apenas" 9,5 milhões de quilates, chegou aos 1,5 mil milhões USD em caixa.
E este momento, marcado pela turbulência gerada nos mercados todos, bolsistas, energéticos e agora é igualmente afectado o dos diamantes, não podia igualmente chegar em pior momento, com um sucesso vigoroso no aumento da produção mas um mercado difícil para a colocar nos mercados.
A ENDIAMA já tinha feito notar, em meados de Janeiro último, que o mercado diamantífero atravessava uma crise, tendo, por isso, vendido menos que o esperado e tem em "stock" por vender, mais de três milhões de diamantes.
Durante a apresentação dos dados definitivos do sector referentes ao ano de 2024, apresentados pelo presidente do conselho de administração da diamantífera angolana, Ganga Júnior, o cenário descrito era negativo mas com as tarifas de Trump, poderá ficar, se não está já, bem pior.
Como nota o site especializado Rapaport, a "bomba" largada pela Casa Branca criou pânico nos mercados diamantíferos, numa dimensão que só se tinha visto, em muitos anos, aquando da explosão da Covid 19, em Março de 2020.
O mesmo site nota que a situação é de tal modo dramática que os negociantes de diamantes em todo o mundo esperam que Donald Trump esteja apenas a usar a arma das tarifas como trunfo negocial mas que acabe por recuar em breve e tirar esta mancha de incerteza em cima do brilho das gemas que estão a ficar por vender.
Um dos impactos mais relevantes para o sector petrolífero, e um dos que está a gerar mais desconfiança e receio, são os 27% de taxas aplicadas à Índia, que é o maior, de longe, com 90% do total global, polidor de diamantes, uma grande parte para exportação em direcção ao mercado norte-americano, sendo ainda assim um grande consumidor também.
E, ao mesmo tempo, os Estados Unidos são o segundo maior importador de diamantes, o que vai mexer negativamente nas vendas, visto que se rata de um negócio que já vinha de uma crise prolongada, da qual apenas escapavam os diamantes de grandes dimensões e qualidade superior.
Para já, numa tentativa de remediar as quebras, a indústria e o comércio norte-americano estão a redireccionar a sua actividade para locais como Hong Kong (China) ou Dubai (EAU), mas os analistas fazem notar que se não se verificar um recuo na tempestade de tarifas de Trump, a desconfiança tenderá a crescer e de um mercado já frágil, poder-se-á evoluir para uma catástrofe no sector,
E Angola, como já o é no petróleo, é um dos países que mais será afectado se esse recuo não acontecer, até porque é um dos que apresenta maior volume de crescimento na produção e com algumas das maiores perspectivas de aumento com os novos projectos em curso.
Segundo avançada em Janeiro o PCA da ENDIAMA, a produção até ao ano de 2023 rondava, em média dos últimos anos os 9,5 milhões de quilates, mas, de forma excepcional, no ano passado atingiu os 14 milhões, sem que isso tenha servido para aumentar o valor das receitas, tendo mesmo sofrido uma redução de 1,5 milhões para 1,4 milhões de dólares.
Isto, porque os preços dos diamantes angolanos ficaram 55% abaixo do planificado em 2024, assegurou o responsável, o que deixa perceber que a trajectória do sector em Angola (ver links em baixo) sofreu um abalo face aos objectivos.
Segundo Ganga Júnior, apesar das dificuldades, a ENDIAMA, quando ainda não existiam sequer sombras da avalanche de tarifas de Trump, mantém-se firme e tem sabido honrar os seus compromissos administrativos e sociais.
Ainda assim, o subsector dos diamantes contou com mais de 28 mil postos de trabalho no ano passado, mais quatro mil comparativamente ao ano de 2023. Mantendo a perspectiva de, até 2027, ter um aumento para os 35 mil postos de trabalho.
Apesar da complexidade da situação gerada pela crise internacional neste sector, a ENDIAMA pretendia em Janeiro continuar a produzir e perspectivava arrecadar em 2025 receitas para os cofres do Estado acima dos 2 mil milhões USD.
Com este cenário em construção, provavelmente também a ENDIAMA poderá ser obrigada a rever as suas perspectivas.