Com este cenário em pano de fundo, que tem impactado o mercado global dos diamantes em bruto com maior ênfase, Angola emerge como um dos países produtores mais prejudicados devido aos esforços anunciados pelo Executivo para aumentar a produção.

Dos actuais cerca de 8,8 milhões de quilates por ano, segundo as previsões internacionais para este ano, uma produção que se tem mantido com ligeiras oscilações ao longo dos últimos anos, o Governo não escondia, pouco antes da pandemia da Covid, o objectivo de chegar aos 15 a 20 milhões, ao que o projecto do Luele poderá, quando em actividade plena, dar um forte impulso.

Se tal objectivo tivesse sido conseguido, Angola estaria já no 4º lugar dos maiores produtores, ultrapassando assim a RDC e o a África do Sul, com 9,6 e 9,9 milhões quilates/ano respectivamente, embora mantenha uma posição invejável neste ranking, na 6ª posição, com perto de 8,8 milhões.

Os resultados líquidos rondaram os 1,6 mil milhões de dólares (2023), mas que, com a queda substantiva nos mercados globais, não apenas estes valores poderão descer, como isso implicará dificuldades acrescidas na atracção de novos investidores.

No entanto, segundo os analistas globais deste sector, a queda nas importações por parte dos países com as indústrias de lapidação mais desenvolvidas, como a Índia, levará, naturalmente, a uma redução nos stock internacionais, o que poderá contribuir para uma melhoria do cenário para as exportações das "pedras" em bruto e também nas polidas, que caíram igualmente mas de forma mais ligeira.

Na frente da lista dos exportadores está, de longe, a Rússia, com cerca de 41 milhões de quilates/ano, apesar das severas sanções devido à guerra na Ucrânia, cindo depois o Botsuana, com 24, e o Canadá em 3º lugar com perto de 16,6 milhões de quilates por ano.

Nos maiores mercados do mundo, EUA, Índia e China, os dados existentes apontam para uma retracção nas compras para realizar stocks, mesmo para as vendas maiores que normalmente ocorrem por volta do final do ano, embora este cenário possa ser revertido se as ameaças globais se dissiparem com o correr dos meses ao longo de 2024.

Segundo dados dos sites especializados, para se ter uma noção do quão periclitante estão os mercados, só na Índia, as compras desceram 47% entre Setembro de 2023 e Setembro de 2024, o que representa cerca de 700 milhões USD tirados das vendas, acontecendo o mesmo na Bélgica, outro grande mercado, que caiu 33% ou perto de 670 milhões USD.

Este resvalar das exportações em bruto é resultado de quebras igualmente robustas nas joalharias, na forma de jóias, dos grandes consumidores globais, que passam pela China, EUA, Europa ocidental, Índia...

O que também pode ter algum impacto no esforço que Angola está a fazer para deixar de ser apenas um exportador de "pedras" em bruto, com a criação de unidades de polimento, como é o caso de Saurimo.