Depois da Cimeira EUA-África em Washington (ver links em baixo, nesta página), no mês de Dezembro, onde o Presidente Joe Biden se comprometeu com uma alteração radical da posição norte-americana face ao continente, afirmando que estava "all in" em África, e que queria ver a União Africana à mesa do mundo, a chegada da poderosa chefe das finanças norte-americana ao Senegal é um dos primeiros passos após o "reset" da política externa do Presidente norte-americano.
Yellen chega a África numa altura em que o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Qin Gang, acaba o seu tour pelo continente e quando a África do Sul, que ainda é a mais importante economia africana, se prepara para receber o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, e quando este país vai acolher já em Fevereiro importantes exercícios navais com a China e com a Federação Russa.
Como trunfo para esta visita, a Secretária do Tesouro, tem na mala um envelope de 15 mil milhões de dólares em negócios com África prometidos por Joe Biden em Dezembro, na Cimeira onde também esteve o Presidente angolano, João Lourenço, embora Angola tenha ficado de forma deste périplo da dona da chave do Tesouro norte-americano.
Mas espera-se que a prometida visita de Joe Biden ao continente, ainda em 2023, embora sem datas nem roteiro conhecidos ainda, contemple Luanda como uma das paragens, até porque a política externa angolana está claramente a sofrer uma mutação virando-se mais para Washington, como ficou claro nas recentes votações na AG da ONU, quando em causa estava a Rússia, o histórico parceiro de Angola em vários domínios devido aos laços criado durante a guerra e no curso da luta pela independência.
Para já, Janet Yellen vai passar pelas capitais do Senegal, Zâmbia e África do Sul, onde se vai demorar dez longos dias, para falar com governantes, membros das organizações empresariais e dirigentes dos bancos centrais, entre outros, naquilo que é já claramente a nova abordagem dos Estados Unidos ao continente.
Um dos obstáculos à procura de recuperar tempo perdido para China e Rússia em África é que os números sobre as transacções comerciais China-África não deixam dúvidas de quem esteve mais empenhado na criação de ligações com o continente, superando em mais de três vezes o volume de negócios entre África e os EUA, sendo ainda de relevo a vantagem clara de Pequim em matéria de créditos dirigidos a praticamente todos os 54 países africanos.
E com a Rússia, embora estes números sejam infinitamente inferiores, a influência tem crescido substancialmente em algumas regiões, como no Sahel, num misto de política, diplomacia e força, através dos mercenários do Grupo Wagner, ou mesmo naçguns países importantes, como a África do Sul, onde Sergei Lavrov deverá chegar, a 23 de Janeiro, um dia antes de ali chegar Janet Yellen.
Numa antecipação feita pela Bloomberg ao que Yellen vai dizer esta sexta-feira, em Dacar, no Senegal, através de uma síntese disponibilizada pelos seus serviços de imprensa, percebe-se que Washington aposta forte na ideia de que a este novo olhar dos EUA para África corresponde uma crescente importância do continente na redefinição da economia global.
Em Dacar, a responsável pelo Tesouro dos EUA, garantirá que a Administração Biden vai investir de forma muito significativa no desenvolvimento económico africano, deixando claro que esta nova visão, os EYA entendem que "o desenvolvimento e o progresso africano será o progresso e o desenvolvimento de todo o mundo", estando os EUA empenhados como "parceiro para ajudar África a aproveitar cabalmente o seu enorme potencial", começado desde já por garantir a presença da União Africana à mesa do G20, o grupo dos vinte países mais ricos do mundo, não como convidado mas sim como "membro de pleno direito".
Esta nova abordagem norte-americana tem, no entanto, merecido fortes reparos de alguns analistas africanos, porque é impossível de esconder a coincidência temporal desta reaproximação com a necessidade de conquistar apoios internacionais para a batalha de titãs que corre nos palcos principais do mundo entre os EUA, de um lado, e Rússia e China, do outro.
O que leva algumas personalidades a defenderem que este "encanto" súbito de Washington por África tenderá a esmorecer assim que os "grandes" do mundo baixem as armas.
Para já, esta fixação da Administração Biden surge alinhada numa mais vasta e sólida ideia de que o futuro global vai ter de passar pelo continente, seja por causa da extensão impossível de contornar das suas riquezas naturais estratégicas, seja pelo potencial que encerra enquanto 1,3 mil milhões de potenciais consumidores, ou ainda a promessa de enormes retoros do investimento externo quando estiver activa em pleno a Zona de Livre Comércio, actualmente em construção, como, de resto, este estudo do Fórum Económico Mundial atesta.