Este momento que, é histórico porque é a primeira vez que o petróleo é directamente visado nesta guerra comercial, teve como resultado imediato a descida do valor do barril de Brent vendido em Londres, que determina o valor médio das ramas angolanas, que voltou para baixo da barreira dos 60 USD, o que faz de países produtores e dependentes da matéria-prima, como Angola, as mais óbvias vítimas do confronto destes colossos económicos.
O Brent londrino reagiu abrindo hoje com uma perda imediata de 30 cêntimos de dólar por barril, o que, em contas feitas de forma directa e sem as nuances dos mercados, significa que, por exemplo, Angola, com uma venda média de 1,45 milhões de barris por dia, perde diariamente quase meio milhão de dólares.
Esta perda é a reacção natural a mais uma batalha da interminável guerra comercial travada há pelo menos dois anos entre Pequim e Washington, inicialmente declarada por Donald Trump, que acusa a China de não ter uma política económica justa em prejuízo directo dos interesses norte-americanos.
Em causa esta, alega Trump, o"roubo" de segredos tecnológicos por parte da China, desta persistir numa estratégia injusta de manter apoios estatais às empresas privadas exportadoras, torcendo a realidade a seu favor, para além da questão da "espionagem" que as novas tecnologias 5G, alegadamente, permitem a partir dos aparelhos produzidos pelos gigantes tecnológicos chineses, como a Huawei.
Desta feita, as novas tarifas de 15% norte-americanas sobre produtos chineses incidira, essencialmente sobre equipamento desportivo, ecrãs de TV e relógios inteligentes, enquanto a China, que segundo o seu Presidente, Xi Jinping, já garantiu que vai responder medida a medida, aplicou uma taxa de 5% suplementar sobre o petróleo importado dos EUA que, recorde-se, é actualmente o maior produtor mundial devido aos cortes estratégicos da Arábia Saudita e da Rússia no âmbito da OPEP+.
No entanto, Donald Trump, ao mesmo tempo que procura esmagar os interesses chineses com tarifas que já abrangem mais de 300 mil milhões dos cerca de 450 mil milhões de dólares em importações anuais Made in China, voltou a dizer, via Twitter, que as delegações negociais dos dois países vão reunir de novo nos próximos dias, porque "os chineses pediram" e porque " eles estão a sofrer pesadamente" na sua economia com os "ataques" dos EUA.
Mais uma vez, os interesses angolanos são severamente atingidos, mesmo que indirectamente, porque a confiança, que é o suporte mais importante para o crescimento económico, que conduz ao aumento do consumo de petróleo, volta a ser afectada, e deste feita não apenas com a fragilização da economia mundial mas também com um "tiro" directo na matéria-prima que é, assim, e pela primeira vez neste conflito comercial, alvejada por uma das partes.
Sobre o que se espera nos tempos vindouros, os analistas colocam três pontos importantes:
- A questão das eleições presidenciais norte-americanas, onde Trump concorre a um expectável segundo mandato, sendo esta posição de força contra o "inimigo" chinês tende a agradar aos seus apoiantes, especialmente porque mantém o petróleo barato, embora a contrapartida seja dura através dos efeitos corrosivos da desconfiança nas bolsas.
- O que vai a OPEP+, criada entre a OPEP e a Rússia, para, através de uma estratégia de cortes na produção, manter o preço do barril equilibrado, fazer face ao facto de esse equilíbrio estar a ser "derretido" pela política optada por Donald Trump, sendo que os sauditas já afirmaram que estão disponíveis para aprofundar os cortes na produção de forma a impulsionar o valor do crude.
- O Golfo Pérsicco vai mesmo iniciar um período de acalmia depois de Trump ter baixado a tensão com o Irão - apesar de manter as sanções -, dizendo que quer conversar, sendo que esse baixar da tensão é contrário aos interesses de israelitas e sauditas que estão claramente à espera de uma decisão de Washington para aumentar a pressão económica e militar contra Teerão.
Mesmo que existam outros pontos quentes no mapa mundi dos interesses e estratégias económicas globais, como a questão líbia, a venezuelana ou ainda a recessão que ameaça as outras grandes economias mundiais, como a alemã e a japonesa, aquelas três vão ditar a realidade para os próximos meses nos mercados petrolíferos, embora algumas opiniões coincidam na ideia de que tanto os chineses como Trump não têm interesse em manter esta "guerra" e depois das eleições de Novembro de 2020 nos EUA, a tensão vai descer rapidamente.
Mas, a partir de 2020, há um outro problema ao virar da esquina que anda ninguém sabe muito bem como vai ser ou quais vão ser as consequências, que é a decisão da Organização Marítima Internacional, a agência da ONU criada para gerir o transporte marítimo mundial, que impede a continuação do uso de fuel pesado - com elevada concentração de enxofre na sua composição - nos navios de grande porte, responsáveis por mais de 10 por cento do consumo global.
Como o NJOnline explica aqui, o combustível usado hoje tem 3,5% de enxofre ou mais e a partir de 2020, esta percentagem terá de ser inferior a 0,5%, o que implica tremendas alterações no valor de algumas ramas de crude, dependendo da sua composição, nomeadamente o valor das taxas de enxofre.
Tendencialmente, as ramas mais leves, com menos enxofre, poderão valer muito mais que as outras, mais pesadas, porque as refinarias vão serobrigadas a gigantescos investimentos para poderem refinar o crude mais pesado com os requisitos ambientais impostos.