Que avaliação faz da empresa e do mercado cimenteiro, em geral?
Quando cheguei à Cimangola, em 2011, encontrei uma empresa com um projecto de expansão que visava construir uma nova fábrica nos arredores do Sequele. Temos hoje uma fábrica moderna e apostada na expansão e inovação, com dois moinhos. Em 70 anos de existência, obtivemos a certificação internacional de qualidade ISSO 9001, a única no mercado. Ainda no plano de reestruturação em curso, estão a ser recuperados os três fornos antigos que datam do tempo colonial, que vão passar a produzir um novo tipo de cimento (LC3), que gasta menos energia e com menos C02 em relação ao cimento Portland. No âmbito dos projectos ambientais, estamos a preparar-nos para vender créditos de carbono no mercado internacional. Para tal, começamos a produzir clínquer com recurso a combustíveis derivados de resíduos, em substituição do Heavy Fuel Oil, comercializado pela Sonangol. Mas, desde 2015 que o mercado está em crise, com a procura a sair dos 550 mil toneladas para 250 mil por mês, mas o sector tem potencial.
O projecto foi materializado?
Sim, nos anos anteriores, a empresa esteve a negociar um financiamento com um sindicato de bancos da África do Sul, mas falhou, porque começaram a ver algum risco de financiar o projecto em Angola. Depois fizemos uma nova negociação com bancos locais e constituímos um sindicato bancário, que financiou a construção da nova fábrica, entre 2015 e 2016. Infelizmente, coincidiu com o início da crise financeira do País, motivada pelas alterações do preço do petróleo no mercado internacional. A fábrica do Sequele é hoje uma realidade. Actualmente está com uma produção na ordem dos 4.500 toneladas de clínquer por dia.
Quanto foi investido na nova fábrica e como vão conseguir o financiamento?
Investimos 300 milhões de dólares, para serem reembolsados até 2031, num financiamento de oito bancos locais, dos quais sete são angolanos, porque a tentativa de um consórcio estrangeiro falhou.
A crise teve algum impacto negativo no projecto?
Isso afectou o projecto, sim, porque o financiamento era quase todo em Kwanzas. Lembro-me que, em Dezembro de 2014, a relação Kwanza-dólar era 1 dólar por 100 Kwanzas, porém, durante a fase de construção da fábrica, o Kwanza desvalorizou de 100 para 170 por cada dólar. Vimos o financiamento corroído porque tínhamos de fazer pagamentos à empresa construtora em divisas, por isso cortámos o projecto da fábrica em duas fases.
O que foi feito na primeira fase e o que ficou por se fazer na segunda?
A primeira fase da construção da fábrica de produção de clínquer foi concluída, mas já não conseguimos fazer a parte de transformação em cimento, por isso utilizamos as instalações da fábrica antiga, no quilómetro 4, em Cacuaco, para fazer a última parte do processo produtivo. Apesar de não termos concluído o projecto na totalidade, teve grande impacto porque deixamos de ser os maiores importadores de clínquer do País e transformámos a empresa na maior exportadora de cimento até 2023 e do sector não petrolífero e diamantífero. Posso assegurar que este projecto foi um dos que seguiu um pouco o desígnio do Estado de substituir as importações.
Mas continuam a exportar cimento?
Infelizmente, tivemos que deixar de exportar cimento para atender o mercado face à quebra na produção da fábrica da CIF em Bom Jesus.
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