É a tempestade perfeita, um furacão que pode chegar ao nível 5 se se confirmarem as piores expectativas, que seria Israel lançar um ataque de grande envergadura contra o Irão e se este, como tudo parece indicar, atingir a infra-estrutura petrolífera iraniana.
O Irão não é apenas um gigante da exportação e produção de petróleo, é também uma das maiores potências militares desta vasta região, como o demonstrou na passada semana ao infligir severos danos em bases militares israelitas com o seus novos misseis hipersónicos.
O que deixa os mercados do sector energético em sobressalto, porque como depois da tempestade chega sempre a bonança, até que tal aconteça, o Médio Oriente pode arder numa bola de fogo com o confronto aberto israelo-iraniano.
Se tal suceder, isso, vai arruinar o equilíbrio entre a oferta e a procura, atirando, e aqui sem margem para dúvidas, como já avisaram os analistas da Goldman Sachs, o barril para lá dos 100 USD, sem limite para o que pode ser... o limite desta escalada...
O Médio Oriente produz actualmente 35% de todo o crude consumido no mundo, que anda perto de 103 milhões de barris por dia (mbpd), e que podem deixar de chegar aos mercados de um dia para o outro, o que seria uma das maiores crises, senão mesmo a maior, do sector de sempre.
Para isso basta atentar ao facto de o Irão, em caso de ataque por Israel e os seus aliados norte-americanos, poderia fechar o estratégico Estreito de Ormuz, que é por onde passa a larga maioria dos 35% de crude diariamente enviados da região para o mundo.
E, além disso, em caso de confronto aberto, o Irão poderia destruir facilmente a infra-estrutura das petrolíferas dos EUA, como a Exxon Mobil ou a Chevron, nos países vizinhos, como a Arábia Saudita, EAU, Kuwait, Qatar...
Tal cenário seria o desastre perfeito para o mundo ocidental, que depende em grande medida do petróleo saudita e do Kuwait, ou ainda do gás do Qatar, entre outros, como o iraniano, também, levando o barril muito, muito além da altitude confortável para as economias ocidentais.
Mas, como sempre sucede, o azar de uns é a sorte de outros, no que aos efeitos imediatos sobre as suas economias unicamente diz respeito, porque no longo prazo há outras contas para fazer.
E no leque dos que ganhariam, como já estão a ganhar com o actual cenário, está Angola e os restantes produtores/exportadores africanos, americanos e asiáticos, que teriam a folga miraculosa que as suas, na maior parte dos casos, economias em crise tanto almejam.
Em pano de fundo, como notam as agências de notícias e os sites especializados, está a escalada no conflito do Médio Oriente, não apenas nos próximos dias mas também porque se pode estar perante uma instabilidade militar sem prazo de validade.
Num cenário menos flamejante, onde apenas a produção iraniana é atingida, o risco de uma alta nos preços estratosférica é menos saliente, porque, como notam os analistas citados pela Reuters e pela Bloomberg, a OPEP+ possui capacidade para suprimir o défice decorrente do impacto na infra-estrutura iraniana de um eventual ataque israelita.
E é com este cenário em pano de fundo que o barril de Brent chegou na manhã desta segunda-feira, 07, perto das 11:30, hora de Luanda, aos 79,93 USD, subindo 2,4% face ao fecho da passada sexta-feira, dia que fechou uma das semanas mais positivas para a matéria-prima em largos meses.
Para as contas de Angola...
... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário no Médio Oriente pode indicar um acréscimo bem-vindo nas receitas petrolíferas.
Mas, para já, ter o Brent quase nos 80 USD, claramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, eleva substancialmente a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, embora o país enfrente também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes alimentam algum optimismo que pode ser ainda mais robusto se o país aumentar a produção o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.