Com as grandes economias planetárias, desde logo a dos Estados Unidos, da União Europeia e do Japão, a sofrerem com fortes pressão inflacionária e riscos de recessão no horizonte, ou ainda com a China de novo em ciclo de confinamentos anti-Covid, o barril de crude tem vindo a perder valor, mas hoje essa tendência mudou e a razão está na perda de valor do dólar norte-americano face às outras moedas de grande circulação global, como o Euro.

Uma subida de perto de 2,5 por cento verificada no barril de Brent, logo no arranque da sessão desta segunda-feira, 18, mostrou que algo de novo estava a mexer com o negócio do petróleo e, como as principais agências e sites especializados mostraram, a descida do valor cambial do dólar dos EUA.

A moeda "franca" no sector petrolífero historicamente alta, ultrapassando mesmo, embora momentaneamente, o Euro, é a razão para este novo fôlego na matéria-prima que ainda é essencial para a economia angolana, ao contar perto de 95% das suas exportações, 35% do seu PIB e perto de 60% das receitas fiscais que garantem o funcionamento do Estado.

O barril de Brent, nos contratos para Setembro, em Londres, estava hoje, 18, a valer 103,30 USD, mais 2,25% que no fecho de sexta-feira, perto das 10:20, hora de Luanda, enquanto o WTI, em Nova Iorque, mas com contratos para Agosto, valia 99,36, mais 1,91%, à mesma hora, que no encerramento da última sessão.

Os ganhos sentidos nestas primeiras horas da primeira sessão desta semana estão, então, e em síntese, a ser propulsionados por um dólar fraco mas igualmente porque o mercado despertou com algum sobressalto devido à menor oferta, o que veio a esmagar os receios de recessão e o regresso do pânico na China com novos casos de Sars CoV-2, o que é um garante de menor procura.

Isto tudo a encerrar uma semana fortemente negativa motorizada pelos receios de recessão, que, seguramente, vai reduzir a procura de combustíveis, o mesmo com novos confinamentos de milhões de pessoas na China, o maior importador de crude do mundo e a segunda maior economia planetária.

A ajudar a esta contenção no impacto negativo de uma recessão e uma inflação historicamente elevada nos EUA e na Europa, está o insucesso claro da visita do Presidente dos EUA, Joe Biden, à Arábia Saudita, na semana passada, com o óbvio objectivo de conseguir do gigante do Golfo um aumento da produção da OPEP, a organização que é de facto liderada por Riade mas que desde 2017 mantém uma parceria, através da OPEP+, com a Rússia e mais 10 produtores, onde sauditas e russos parecem inseparáveis na estratégia de aumentar paulatinamente a produção de forma a manter o mercado equilibrado e com preços satisfatórios para os membros do "cartel".

O que Joe Biden disse que foi fazer ao Médio Oriente foi que queria garantir aos seus aliados locais, especialmente, os sauditas, que os EUA mantinham a sua atenção focada na segurança regional, especialmente com os olhos no Irão, mas o que na prática foi a leitura dos mercados é que o Presidente norte-americano falhou no objectivo de conseguir mais petróleo em circulação como forma de baixar os preços, considerando que os combustíveis são uma parte substancial das razões para a forte inflação que pressiona a economia dos EUA desde que estalou a guerra no leste europeu entre russos e ucranianos, a 24 de Fevereiro.

Todavia, uma ideia clara do que foi o resultado desta visita de Biden à Arábia Saudita só será possível quando os 13 membros da OPEP e os 10 aliados de circunstância, integrados na OPEP+, voltarem a reunir no início de Agosto, quando, como todos os meses, definem e analisam o mercado e realinham o progrande recuperação da produção, que, actualmente, se situa nos 648 mil barris/dia.