Um rebuçado de mentol para quem adivinhar a que horas o barril de Brent chega à fasquia simbólica dos 90 dólares! Mas atenção, porque o mentol não é por acaso... é para refrescar a garganta, porque, segundo os oráculos da alta finança, depois dos 90, o céu é o limite.
Para o Brent, que é o que interessa para as contas angolanas, sendo essa a referência principal para as ramas exportadas pela indústria petrolífera nacional, já não há dúvidas de que ainda esta quarta-feira, 03, chegará aos 90 USD. Mas em Nova Iorque também sobe, sobe, sobe...
E não é para menos... com a economia chinesa a projectar faíscas de crescimento para todo o lado e a norte-americana a dar sinais de que quer mais e mais combustíveis fósseis para queimar, não poderia ser diferente.
Mas a catapulta é o crescente risco de alastramento das fagulhas da guerra para o Médio Oriente a partir de Gaza - Israel matou mais dois generais iranianos e Teerão voltou a ameaçar Telavive com as suas lanças de fogo - e no leste europeu, a Ucrânia persiste em mostrar que é capaz de fechar as refinarias russas pelo fogo.
Com tantos fósforos acesos e tantos barris de pólvora abertos, os investidores do negócio do crude apostam em que a matéria-prima vai continuar a sua ascensão para além dos 90 USD, como se pode ver ao revisitar estas notícias do Novo Jornal - aqui, aqui e aqui -, levando o Brent e o WTI para recordes de largos meses e nada que se pareça neste ano de 2024.
Há cerca de duas semanas, a Ucrânia enviou dezenas dos seus drones de longo alcance incendiando pelo menos sete das maiores refinarias russas e já nas últimas horas, pelo menos mais duas foram obrigadas a interromper a função.
As refinarias russas já não fornecem combustíveis à Europa ocidental e estão focadas no serviço interno, mas, como este é um negócio de geografia mais que variável, quando se puxa a manta para tapar a cabeça, descobre-se os pés.
E os mercados não olham para a cor do dinheiro porque ainda se trata quase exclusivamente de dólares norte-americanos, que são, como se sabe, todos verdes...
E depois há pequenas notas que não sendo muito faiscantes, mostram uma tendência, como esta, que chega, via Reuters, do México, que acaba de tirar 430 mil barris do circuito da exportação porque adquiriu recentemente capacidade interna de refinação para esse volume de crude.
Para mais tarde fica o resultado da reunião desta quarta-feira, 03, dos países da OPEP+, onde, como sucede todos os início de mês, analisam o essencial dos mercados e olham para o seu programa de cortes na produção e decidem se mexem nas quotas ou não. Ver-se-á...
Mas com este escalar da montanha dos gráficos nos mercados, é natural que o "cartel" surja menos impetuoso e reduza os níveis de stresse... da clientela.
Recorde-se que a OPEP+ responde por quase 45% do petróleo extraído diariamente em todo o mundo, que é actualmente cerca de 103 milhões de barris por dia (mbpd) - só russos e sauditas podem facilmente chegar aos 20 mbpd - e tem em curso um programa que retira artificialmente de circulação perto de 3,7 mbpd, incluindo 1,5 mbpd que Moscovo e Riade assumem à margem dos acordos do "cartel", que é de 2,2 mbpd.
Visto de Angola
Apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 89 USD permite, embora não seja o antidoto definitivo, diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.