Depois de um episódio caricato, quando, há duas semanas, foi notícia em todo o mundo por ter sido obrigado a fugir do seu país "de noite, como um vulgar ladrão", para escapar a uma proibição do Presidente Volodymyr Zelensky dirigida aos diplomatas de saírem da Ucrânia, Dmitri Kuleba vem agora abrir uma nova polémica.
Provavelmente sem reflectir demoradamente sobre as suas declarações, o diplomata ucraniano, entrevistado pela CNN Portugal, disse que os russos só aceitam negociar quando estão fragilizados no terreno e quando não têm perspectivas claras de poderem alcançar os seus objectivos pela via militar.
Depois desta declaração, o jornalista que o entrevistou, perguntou a Dmitri Kuleba se achava que os russos estão, neste momento, preparados para negociar, este respondeu claramente que não, o que, segundo as suas próprias palavras, significa que na perspectiva do Kremlin, a Rússia está confiante na frente de guerra.
Mas Kuleba foi ainda mais longe e, sempre questionado pelo jornalista, disse estar convencido que nos próximos meses não haverá quaisquer condições para que possam ocorrer negociações sobre o fim do conflito.
Mas, admitiu, porém, que a melhor solução face à realidade presente seria um cessar-fogo e congelar a frente onde está sem que a comunidade internacional reconhecesse os territórios ocupados por Moscovo como seus de direito definitivo, o que compreenderia a aceitação por Kiev da posse de facto, mesmo que não de jure, das áreas actualmente sob controlo russo.
Apesar de Dmitri Kuleba já ter deixado o cargo há largos meses, continua a ser uma das figuras mais conhecidas do regime ucraniano, como, de resto, o demonstra a sua presença constante nos media internacionais, onde, sempre alinhando com a posição de Kiev, se nota um ligeiro mas crescente afastamento de Zelensky.
Isto, porque, segundo alguns analistas, Kuleba é uma figura próxima do general Valery Zaluzhnyi, ex-CEMGFA e actual embaixador de Kiev no Reino Unido, que é cada vez mais visto como o adversário que Volodymyr Zelensky não queria nas próximas eleições na Ucrânia, que já deviam ter ocorrido em Maio de 2024 e têm sido proteladas graças à Lei Marcial vigente no país.
Europeus também apresentam brechas na postura anti-russa
Os países da União Europeia, que esta quarta-feira, 01, realizaram mais um falhado encontro na Dinamarca para definir medidas contra a ameaça russa, a que se referem cada vez mais como uma "guerra híbrida", acusando Moscovo de lançar vários desafios à capacidade de resposta da NATO.
Como se pode ler na imprensa ocidental, sem questão claramente pró-ucraniana de um modo geral, este encontro dos 27 em Copenhaga estava destinado a reunir fundos capazes de financiar aquilo a que chamam "muro anti-drones" no leste do bloco ocidental, mas acabou por ser um falhanço clamoroso.
O meeting foi marcado pelas lideranças europeias com o objectivo de eliminar as ameaças russas, como tem vindo as suceder, na Polónia e na Roménia, onde Bruxelas e a NATO insistem que dezenas de drones foram enviados pelo Kremlin para testar a reacção ocidental.
Moscovo nega que esses drones tenham sido enviados pela Rússia, mesmo que se tratem de drones russos, os chamados drones-engodo, sem carga explosiva e feitos de cartão e plástico, usados para enganar as defesas anti-aéreas ucranianas.
Esse aparelhos, baratos e sem perigosidade, acabam por cair quando finda o combustível, sem grandes danos, por não terem explosivos (ver links em baixo), o que permitiria aos ucranianos, na versão de Moscovo, recuperá-los e reenvia-los para a Polónia simulando serem um teste russo para pressionar a NATO a reagir contra Vladimir Putin.
Ora, este foi um dos principais argumentos usados pelos dirigentes europeus, liderados pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Leyen, para lançarem a ideia da construção de um "muro anti-drones" nos países encostados às fronteiras russas e ucranianas, de forma a impedir que nenhum destes objectos entre no espaço aéreo da NATO.
Um objectivo que alguns especialistas, como o major-general Agostinho Costa, refutam de inglório, porque se fosse possível erguer uma barreira com essas características, então essa já existiria entre a Ucrânia e a Rússia, considerando o especialista militar que se trata antes de uma forma de manter a pressão retórica contra Moscovo.
E isso ficou agora demonstrado quando, por exemplo, o Politico, media norte-americano fortemente pró-ucraniano, noticiou que as lideranças europeias apenas procuram com estas iniciativas arrastar os EUA com o seu dinheiro e as suas armas para o conflito com os russos, porque, nada de concreto saiu deste muito "vaporizado" encontro em Copenhaga.
Este media, no que é suportado pelos relatos dos jornalistas que cobriram o meeting na Dinamarca, avança ainda que os participantes não conseguiram qualquer consenso substantivo, insistindo numa demorada e inconsequente conversa sobre dinheiro de que todos admitem haver necessidade mas ninguém parece estar disponível para entregar à causa, estando à espera que, mais uma vez, os norte-americanos resolvam o problema.
Isto, apesar de a primeira-ministra dinamarquesa, que se tem revelado um dos mais empenhados falcões de guerra anti-russos no seio da União Europeia, mesmo que sejam os EUA que ameaçam tomar pela força a Gronelândia, território vasto no Ártico sob sua jurisdição, ter afirmado que "a Europa atravessa o seu período mais perigoso de sempre".
Mette Frederiksen considerou mesmo que a actual Rússia é um perigo maior para a Europa Ocidental que a ex-URSS alguma vez foi durante a Guerra Fria, avisando que se não forem tomadas medidas, como o "muro de drones", Moscovo vai mesmo avançar com um teste ainda mais robusto que os drones na Polónia ou os MIG's 31 nos céus da Estónia, mesmo que os russos tenham negado todas essas alegações.
Este encontro, note-se, acontece em Copenhaga, a capital da Dinamarca, no Norte europeu, depois de dezenas de drones, altamente luminosos, o que só pode ser propositado para serem vistos e filmados pelas tv's, terem sido detectados sobre os aeroportos dinamarqueses, noruegueses e suecos, sem que se sabia a sua origem e para onde se deslocaram a seguir.
Mas a mão russa está sempre presente nas capas dos jornais europeus como sendo a que lançou estes aparelhos, na senda dos testes à reacção da NATO, o que é uma possibilidade, como adverte Agostinho Costa, embora se assim for, a NATO chumbou claramente no teste.
É que os drones avistados sobre estes países nórdicos não eram apenas de grandes dimensões, eram muito luminosos e forem avistados sobre bases militares, o que não se percebe muito bem como é que não apenas chegaram ali sem serem notados, como desapareceram depois de terem sido avistados...
Perante as "ameaças" russas, que o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse tratar-se de invenções ocidentais para justificarem a retórica anti-russa, neste encontro dos europeus, a única discussão que ocorreu com clareza foi a utilização dos mais de 140 mil milhões USD russos depositados nos bancos europeus e que foram congelados no âmbito das sanções a Moscovo após a invasão da Ucrânia em Fevereiro de 2022.
Mas nem nessa questão há entendimento, porque se, por um lado, um grupo liderado por Ursula von der Leyen, defende a sua entrega a Kiev como compensação pela guerra, outros, como o Presidente francês Emmanuel Macron, recusam essa possibilidade porque isso seria o descalabro do sistema financeiro europeu.
É que se o dinheiro russo fosse usado para financiar Kiev, todos os países com situações frágeis internacionalmente, onde estão muitos africanos, por exemplo, correriam para retirar do sistema europeu os seus recursos financeiros porque estaria a aberto um precedente que deixaria as suas contas em risco sério de lhes acontecer o mesmo, o que levaria a uma desconfiança ruinosa no sistema bancário europeu.
Sobre a ideia do "muro de drones", com ironia, Dmitri Peskov, comummente visto como a voz de Putin, disse ser estranho que os europeus ocidentais tenham ao longo de décadas pugnado pela queda de um "muro" bem conhecido, o Muro de Berlim, e estejam agora eles a erguer "outros muros".