Depois de alguns países europeus terem dado por concluída a tarefa de retirada dos seus nacionais e dos afegãos que com eles colaboraram ao longo dos 20 anos de ocupação pelos EUA, primeiro, e, depois, por forças da NATO, os norte-americanos e britânicos preparam-se para, a 31 de Agosto, data limite imposta pelos taliban, darem também por concluída a operação de repatriamento e de retirada dos seus efectivos e dos afegãos inseridos em listas que alguns, como o Reino Unido, já admitiram que não integram todos os que deviam ser ajudados a abandonar o Afeganistão para evitar a esperada vingança dos novos senhores do território.

O cenário já era de terror devido à chegada dos taliban a Cabul 20 anos depois de terem sido expulsos da cidade pelos EUA numa reacção aos atentados das torres gémeas em Nova Iorque, dos quais se espera uma severa vingança sobre todos aqueles que colaboraram com as forças da NATO, bem como na certa diminuição drástica dos direitos das mulheres e das raparigas em idade escolar, mas tudo começou a piorar quando na semana passada o ISIS-K entrou em cena, sabendo-se que, para estes jihadistas radicais, os taliban pertencem ao Islão moderado.

E são agora, numa ironia dramática, os taliban (ou estudantes do Islão) - segundo os relatos da imprensa internacional que ainda permanece em Cabul - que estão a assumir o grosso dos esforços para evitar novos ataques do `estado islâmico", tendo estes, para isso, criado barreiras de acesso ao aeroporto de Cabul, vistoriando as bagagens e obrigando a que as de maior volume fiquem para trás de forma a evitar a chegada de explosivos ao aeroporto, tendo especial cuidado em verificar se poer detrás das burkas (as vestes, normalmente azuladas, com que as mulheres tapam o corpo - ver foto) não se escondem jihadistas suicidas do ISIS armadilhados com coletes explosivos.

Isto, depois de o atentado da semana passada ter ocorrido apesar de vários avisos feitos da sua iminência por diversos serviços secretos ocidentais, e agora com os EUA, como o Presidente Joe Biden já confirmou, a garantirem que novo atentado está para ocorrer a qualquer momento.

E foi face a este aviso que a embaixada dos EUA em Cabul emitiu um alerta para que todos os norte-americanos que estejam nas imediações do aeroporto deixem a zona rapidamente.

Esta ameaça de novas explosões ganharam, entretanto, nova dinâmica depois de os EUA, num atentado divulgado na sexta-feira, e em retaliação ao ataque no aeroporto, terem eliminado pelo menos dois destacados membros do ISIS-K, um deles terá sido mesmo responsável pela coordenação do ataque suicida de 26 de Agosto.

A chegada do `estado islâmico, a Cabul, a 15 de Agosto, está, em mais um "beliscão" na história trágica das duas décadas de ocupação norte-americana, a levar a que os militares que Washington mantém no país e os taliban estejam agora a cooperar de forma a evitar que os mais radicais entre os radicais do jihadismo global ganhem corpo no Afeganistão.

Isto, porque, como já se percebeu, os "estudantes" representam uma ameaça menor ao mundo ocidental que o daesh, que não perderá a oportunidade de voltar a fazer deste país um campo de treino para o jihadismo planetário.