Para reduzir o atrito em África, provocado pelo investimento norte-americano no continente, durante os últimos quatro anos, numa aposta da Administração de Joe Biden para recuperar o tempo perdido pelos antecessores, Pequim procura retomar a iniciativa com esta Cimeira China/África.
E nada melhor que procurar ajudar a diluir o maior dos problemas de África, que é o desemprego no continente mais jovem do mundo, como fez o Presidente Xi Jinping no arranque do Fórum para a Cooperação China/África, ao prometer criar "pelo menos um milhão de postos de trabalho".
Para isso, anunciou o líder chinês, vão ser investidos 51 mil milhões USD em projectos de cooperação bilateral entre a China e os parceiros africanos, naquilo que é claramente um contra-ataque de Pequim face às iniciativas dos Estados Unidos e da União Europeia em África.
E um dos exemplos que a China procura contrariar tem lugar em Angola, que está nesta Cimeira com o ministro das Relações Exteriores, Téte António, a representar o Presidente João Lourenço, com o investimento de Washington e Bruxelas na ligação ferroviária entre o Porto do Lobito e a RDC.
Com esta Cimeira, a China visa dar um impulso ao alargamento da sua influência no Sul Global, num momento histórico em que o denominado Ocidente Alargado, liderado pelos EUA, tenta manter a sua hegemonia global que conseguiu nos últimos 80 anos com a Ordem Mundial baseada em regras saída da II Guerra Mundial.
Quando discursava no Fórum China/África para a Cooperação, um das mais relevantes iniciativas integradas na Cimeira China/África, Xi Jinping anunciou financiamentos aos países africanos de 51 mil milhões USD que vão abranger 30 projectos de infra-estruturação de grande dimensão, além outros tipos de ajuda financeira para impulsionar a conectividade através do continente.
"Juntos construímos estradas, pontes, caminhos-de-ferro, escolas, parques industriais..., projectos que mudaram a vida de milhões de pessoas", apontou o Presidente chinês citado pela Xinhua, a agência de notícias chinesa, quando se dirigia aos seus homólogos africanos.
No mesmo ensejo, Jinping acrescentou que a China está empenhada em continuar a trabalhar com os parceiros africanos para "alcançar novos e ainda maiores feitos" na modernização e desenvolvimento do continente, onde ainda é, de longe, o maior parceiro comercial.
E isso fica claramente demonstrado nos números oficiais, de onde sobressai o facto de a China ser hoje responsável pela importação de 25% das exportações africanos, especialmente matérias-primas em bruto.
Isto ao mesmo tempo que se mantém como o maior credor do continente africano, com perto de 200 mil milhões USD emprestados entre 2006 e 2021, onde Angola surge em destaque, especialmente na área das infra-estruturas no pós-guerra, sendo actualmente a dívida angolana a Pequim de cerca de 20 mil milhões USD.