Estas acusações assumem especial importância porque, a serem factuais, demonstram que o Ruanda tem estado por detrás das acções do M23 que tem negado de forma sistemática e que não tem qualquer respeito pelas organizações internacionais que procuram estabilizar a região do leste da RDC, como a CIRGL, liderada por Angola, ou a EAC, que tem no ex-Presidente queniano, Uhuro Kenyatta, o seu enviado especial para este processo.

Tanto a CIRGL (Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos), como a EAC (Estados da África Oriental) são as duas organizações que lideram as negociações de paz entre as guerrilhas do leste congolês e o Governo de Kinshasa, com o Ruanda como pilar destes esforços porque é o Governo de Paul Kagame que, como o demonstra um documento oficial da ONU, está a apoiar, tanto militarmente como logisticamente, os guerrilheiros do M23.

Esse apoio tem como objectivo, segundo diversas fontes de organizações internacionais, embora Kagame o negue de forma sistemática, manter a instabilidade na região por forma a manter a extracção de recursos naturais valiosos nos Kivu Norte e Sul, nomeadamente o coltão, o cobalto e os diamantes e ouro.

Apesar de o Quénia e Angola serem dois dos países mais influentes na vasta região da África austral, central e oriental, o Ruanda não demonstra especial temor por uma eventual reacção mais musculada, até porque ambos os países, com o Uganda, constituem o grosso do contingente internacional deslocado para o leste da RDC com a missão de estabilizar a região, pela via armada se necessário, possuindo mandato para isso, e impor o regresso do M23 aos locais predefinidos para o seu acantonamento.

O M23 é visto de forma geral como o braço-armado do Ruanda no seu plano de desestabilização estratégica desta região rica em recursos naturais dos Grandes Lagos e, segundo veio agora afirmar o porta-voz do Governo de Felix Tshisekei, Patrick Muyaya, as imagens colhidas por drones congoleses demonstram a presença de forças do Exercito regular ruandês no interior da RDC a acompanhar homens do M23 perto da cidade de Tongo, no Kivu Norte.

Recorde-se, como pode ser revisitado no vasto noticiário produzido pelo Novo Jornal (ver links em baixo nesta página), que o M23, um grupo armado criado em 2012, com origem no Ruanda, de etnia Tutsi, esteve adormecido até 2021, ano em que regressou em força para desestabilizar o leste congolês.

Rapidamente Kinshasa acusou Kigali de estar por detrás deste ressurgimento e a tensão entre os dois países chegou a estar ao rubro, com repetidas escaramuças nas fronteiras, tendo este estado de pré-guerra levado as organizações internacionais, a ONU e as sub-regionais a criar uma task force no sentido de evitar a eclosão de uma guerra aberta, que seria devastadora para toda a região dos Grandes Lagos.

Preocupações de JLo e Ruto

Atentos a este recrudescer da actividade subversiva do M23 estão os Presidentes de Angola e do Quénia, os dois países mais empenhados na estabilidade desta vasta região, como ficou demonstrado - e o Novo Jornal tinha antecipado aqui - com a visita de João Lourenço a Nairobi, onde esteve reunido com William Ruto, o seu homólogo queniano, e este foi um dos assuntos de topo discutidos nesse encontro.

Nessa declaração conjunta, Ruto e Lourenço voltaram a exigir aos rebeldes do M23 para regressarem ao local de assentamento provisório e enquadrado no processo de paz em curso.

"Juntos, fizemos progressos (na estabilização do leste congolês) mas agora estamos estagnados no que respeita ao acantonamento" destas forças rebeldes, disse João Lourenço.

Esse acantonamento é fundamental para normalizar a região fortemente desestabilizada desde 2021, quando alguns milhares de homens do M23 venceram claramente as forças da RDC e ocuparam uma região importante na fronteira com o Ruanda, rica em recursos naturais, obrigando mais de um milhão de pessoas a procurarem refúgio noutras partes do país.

William Ruto lembrou que sem esta estabilização, o desenvolvimento de toda a região fica mais longe de poder ser conseguido, o que levou ambos, Ruto e Lourenço, a exigirem o rápido regresso aos quartéis das forças do M23.