Logo após o anúncio da chefia do Grupo Wagner de que tinha sob seu controlo as estruturas militares de Rostov e Varanezh, cidades no sudoeste russo, onde se centraliza o comando unificado de Moscovo sobre a linha da frente da guerra na Ucrânia, em Kiev aproveitou-se esse facto para acentuar a desestabilização político-militar na casa do "ocupante".

Zelensky escolheu criteriosamente a frase com que selou o que pensa sobre a crise interna na Rússia: "Escolher o caminho do mal resulta na autodestruição" e acrescentou: "Há muito que os russos recorrem à propaganda para mascarar as suas fraquezas" que agora se revelam por si.

Como o Novo Jornal noticiou aqui, a coluna de 400 veículos militares com que Prigozhin ameaçou o poder do Kremlin, parou em Rostov e, depois de tomar os quartéis da região de Rostov-on-Don e Varanezh, as duas principais cidades.

Mas, logo depois, algumas imagens começaram a aparecer nas tvs de todo o mundo, onde sobressaia a acalmia, com as tropas na rua destas cidades sem oposição e, a mais curiosa de todas, com o chefe dos mercenários em amena conversa com o vice-ministro da Defesa e o chefe da secreta russa na região, onde, audivelmente, debatiam a "festa e o champanhe" que se estaria a beber em Kiev com esta turbulência na Rússia.

Nessa estranha conversa, Prigozhin nega ser traidor e garante que quer "salvar a Rússia da desgraça para onde está a ser levada" pelos seus inimigos de estimação, o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o CEMGFA, Valery Gerasimov, sem nunca proferir o nome de Putin, o seu velho amigo a quem deve tudo e que agora, aparentemente, pretende destituir do poder em Moscovo.

Yevgeny Prigozhin garante ainda ser um patriota, tal como os seus homens. "No que toca à traição à pátria, Putin engana-se profundamente. Somos patriotas e ninguém pretende entregar-se por exigência do Presidente, dos serviços secretos (FSB) ou seja de quem for" seja".

Entretanto, e apesar de haver quem defenda, entre os analistas militares, que esta é uma guerra hibrida e que tudo o que está a acontecer pode ser uma manobra de deceção para ludibriar os ucranianos, em Moscovo começa a surgir em público a ideia de que as forças russas a combater na Ucrânia podem ser fortemente afectadas por esta rebelião dos mercenários do Grupo Wagner.

No exterior, desde os EUA à União Europeia, passando pelos aliados mais próximos de Moscovo, como o Cazaquistão, a abordagem a esta crise interna russa tem sido a de a apontar como "um problema interno" que os russos devem resolver internamente.

Mas, tal como a NATO já fez também saber, em todos os países mais ligados ao conflito na Ucrânia, a situação na Rússia está a ser acompanhada com preocupação, e alguns, como a Polónia e os bálticos, em especial a Lituânia, dizem que puseram as suas forças de defesa em estado de prontidão.

Uma imagem mais definida do que vai suceder aos elementos do Grupo Wagner e que consequências estas movimentações podem ter tanto na Rússia como na guerra da Ucrânia, só mais tarde, provavelmente nos próximos dias, especialmente se as forças de Prigozhin tentam ou não chegar a Moscovo e se serão, como vários analistas admitem, iniciadas conversações para a deposição das armas, porque nenhum dos lados tem interesse em despoletar combates entre forças russas no seio da Federação Russa.

Sabe-se, porém, que ao longo da estrada que liga Rostov a Moscovo, perto de 500 kms, as forças leais a Putin estão a erguer fortes pontos de controlo e a região de Moscovo está desde as primeiras horas deste Sábado, 24, em estado de emergência antiterrorista.