Aos líderes da União Africana, Volodimir Zelensky afirmou que o continente "está refém de quem começou a guerra", garantindo que estão a decorrer "negociações difíceis" para desbloquear os portos na costa do Mar Negro, mas que "ainda não há qualquer progresso". "Esta guerra pode parecer-vos muito distante de vocês e dos vossos países, mas os preços catastroficamente altos já a levaram para casa de milhões de famílias africanas", disse Zelensky.

Nos silos ucranianos estão armazenadas cerca de 20 milhões de toneladas de cereais. O país tem tentado escoá-los por via terrestre, o que apenas permite exportar cerca de um quinto do que habitualmente envia para o estrangeiro. Uma crise sem luz ao fundo do túnel, com países como a Lituânia e a Estónia a defender o envio de navios de guerra para o Mar Negro para escoltar a saída da mercadoria, enquanto as Nações Unidas e a Turquia defendem a via diplomática.

Nos dias 29 e 30 de Junho, o Presidente da Ucrânia vai discursar por videoconferência na próxima cimeira da NATO, que será realizada em Madrid, e em que participam cerca de 40 líderes mundiais, entre os dos países membros e os convidados, e 5.000 assistentes segundo a agência EFE.

Na Europa, a generalidade das populações está a substituir aquilo que nos últimos meses foi um apoio claro e inequívoco à Ucrânia por um posicionamento mais pragmático e determinado pelos efeitos devastadores do conflito no seu bem-estar social, que diminui dia para dia sob os "bombardeamentos" da inflação, as "rajadas" de desemprego e as "explosões" de preços nos combustíveis e na falta de bens nas prateleiras dos supermercados que é já visível a olho nu.

Isso mesmo é revelado numa sondagem que envolveu 10 países europeus realizada pelo Conselho Europeu para as Relações Internacionais (ECFR, na sigla em inglês)), onde fica claro a mudança de pensamento sobre este conflito, que está agora mais focado no custo de vida que no apoio aos ucranianos, embora uma larga percentagem se mantenha ainda coerente com essa avassaladora convicção inicial.

Como se pode ler no documento divulgado pelo ECFR, a união dos europeus sobre este tema está agora claramente fragmentada e o seu foco a mudar de forma acelerada do campo de batalha para a bolsa, com uma maioria clara a querer agora uma solução rápida para o fim da guerra quando ainda há alguma semanas essa maioria estava do lado do que queriam ver a Rússia severamente punida pela sua opção de invadir o país vizinho.

Embora, apesar das alterações, ser ainda alta a percentagem dos que apoiam a Ucrânia, a mudança para o lado do que já não suportam a guerra e as suas consequências na qualidade de vida, o impacto no seu bem-estar social, é por demais evidente nos 10 países onde esta sondagem foi conduzida: França, Finlândia, Portugal, Alemanha, Itália, Polónia, Roménia, Espanha, Suécia e Reino Unido.

Um dos autores do estudo, Mark Leonard, admite mesmo que se os europeus surpreenderam Moscovo com o seu apoio à Ucrânia, os problemas resultantes da guerra só agora estão a chegar de forma pesada e muito vai depender da capacidade dos Governos europeus conseguirem o apoio dos seus povos para as medidas políticas severas que vão ser obrigados a considerar e adoptar.

E uma das mais pesadas conclusões deste estudo é que a maioria dos europeus actualmente já só quer ver a guerra acabar, a sua vida voltar ao normal, mesmo que a Ucrânia tenha de conceder territórios aos russos.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 6 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.