Desde 04 de Novembro que a força aérea etíope insiste em raides aéreos sobre Tigray para bombardear posições ocupadas pelos guerrilheiros independentistas da Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), depois de o primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali, Prémio Nobel da Paz 2019, tendo prometido esmagar toda a resistência em poucos dias mas esse resultado teima em não surgir.

O conflito está já mesmo a internacionalizar-se devido ao elevado número de refugiados, cerca de 30 mil, que procuram segurança no Sudão, ou ainda devido às acusações da TPLF de que a Eritreia, na fronteira norte de Tigray, está a ajudar Abiy Ahmed e as suas forças militares a entalar os guerrilheiros independentistas., existindo ainda registo de roquetes lançados pelos guerrilheiros contra infra-estruturas, aeroportuárias, nas vizinhas regiões etíopes, ou ainda para território eritreu.

Este conflito, segundo o Governo de Adis Abeba, foi forçado pelos guerrilheiros que no início do mês lançaram vários ataques a quartéis militares localizados na província de Tigray, com cerca de 10 milhões de habitantes, a 4ª maior da Etiópia, que é o 2º país mais populoso de África, com 104 milhões de habitantes, logo a seguir à Nigéria, com perto de 200 milhões, para chamar a atenção internacional para as suas reivindicações autonomistas.

O resultado foi um rápido galopar do conflito, alimentado, segundo analistas no terreno citados pelas agências, pelo facto de as unidades militares, como é a 4ª mais importante da Etiópia, situadas em Tigray, terem entre muros milhares de tropas que defendem os ideais da TPLF, o que resulta numa imensa dificuldade de arregimentar estas unidades militares para neutralizar os guerrilheiros, bem armados e com forte apoio entre as Forças Armadas etíopes, até porque até há alguns anos eram as elites desta região que detinham o poder em Adis Abeba, tendo esse poder terminado com o assumir do Governo federal por Abiy Ahmed Ali, em 2018, com acusações de o fazer com mão-de-ferro, gerando inclusive protestos noutras regiões do país.

Com a sua chegada ao poder, as elites políticas de Tigray, incluindo os dirigentes da TPLF, foram afastadas dos corredores do poder e colocados numa posição humilhante para quem tinha mandado no país nas últimas três décadas.

A capital de Tigray, Mekele, foi mesmo alvejada pelos raides aéreos dos últimos dias, o que elevou ainda mais um patamar nesta já perigosa escalada do conflito, apesar de Abiy Ahmed Ali ter garantido que já estava a entrar na última fase do plano de aniquilação das forças da guerrilha, prometendo iniciar a sua conclusão rapidamente.

Esse, porém, não parece ser o entendimento do outro lado, e também dos lideres dos países da região, que se uniram para lançar um veemente apelo às partes para que ponham fim às hostilidades de forma a levar o diferendo para a mesa das negociações, o que, aparentemente, Adis Abeba tem recusado a fazer contando com a sua vantagem em meios militares, o que resulta de a Etiópia contar com um dos mais bem preparados, equipados e treinados Exércitos africanos.

Para já, essa vantagem não se tem materializado no terreno e os guerrilheiros da TPLF prometem resistir, embora o primeiro-ministro tenha asseverado que a sua resistências está por um fio, pedindo às forças militares regulares na região para se juntarem ao seu esforço para neutralizar a resistência e devolver a normalidade a Tigray.

Deu um prazo de três dias para que esse movimento tenha lugar, mas este expirou e a resposta não chega como era pretendido pelo Prémio Nobel da Paz 2019, prometendo agora lançar a ofensiva final e conclusiva até ao fim-de-semana.

Os jornalistas no terreno admitem dificuldades em perceber a realidade dos combates no terreno devido ao corte geral de comunicações e não haver forma de obter informação independente.

As forças governamentais remetem-se ao básico sobre a ofensiva, sabendo-se apenas, através de dados das organizações de ajuda humanitária locais e pelos refugiados que passaram a fronteira para o Sudão que foram já registados centenas de mortos.

Enquanto as forças federais apontam para um avanço com sucesso na região oeste, a cerca de 200 kms de Mekele, o líder da TPLF, citado pela AFP, Debretsion Gebremichael, garantiu que o governo local e o povo tigray vão "aguantar as suas posições" e as forças federais não poderão concretizar os seus objectivos".

"Este conflito não terminará enquanto o Exército invasor permanecer nas nossas terras. Nâo nos poderão silenciar pelas armas", apontou ainda o comandante "tigre", deixando o que parece ser uma porta aberta para negociações que o primeiro-ministro Ali tem teimado em recusar, apesar de isso estar a ser pedido por líderes mundiais, incluindo a ONU e a União Africana ao mesmo tempo que Presidentes como Yoweri Musevini, do Uganda, ou Uhuru Kenyatta, do Quénia, vieram publicamente apelar ao fim das hostilidades.

A resposta de Abiy Ahmed Ali não podia ser mais clara: "Não haverá quaisquer negociações enquanto a TPLF não depuser as armas e for julgada pelos seus crimes".

O mundo teme agora que este conflito alastre para a já de si periclitante geografia do Corno de África, onde pontificam países como a Somália, a Eritreia, o Sudão, a Etiópia, o Quénia ou ainda o Uganda e o Djibuti.

E as Nações Unidas têm-se desdobrado em alertas para a emergente crise humanitária gerada pelos milhares de refugiados que diariamente atravessam as fronteiras para o Sudão, país que não tem capacidade de resposta para as necessidades básicas dos campos onde se estão a concentrar, existindo um risco de a situação ficar descontrolada.

Recorde-se que esta região está a ser assolada há mais de um ano por sucessivas vagas de pragas de gafanhotos-do-deserto, que têm, apesar dos esforços da comunidade internacional, destruído milhares de toneladas de alimentos desde a Etiópia à Somália, passando pelo Sudão, pela Eritreia, pelo Uganda e pela Tanzânia, entre outros.