Com as suas palavras envolvidas em resíduos sólidos eleitorais, o humorista Tony Hinchcliffe, num comício apoteótico dos republicanos no histórico e simbólico Madison Square Garden, em Nova Iorque, atirou para a incineradora incandescente da campanha o assunto mais querido do seu candidato: deportar os imigrantes latinos que procuram os EUA.

De imediato, a campanha democrata de Kamala Harris atirou-se ao pobre Hinchcliffe, indo buscá-lo ao "contentor" para o mostrar como trunfo, ligando as suas palavras mal cheirosas para a comunidade porto-riquenha e latino-americana aos ideais de Donald Trump.

Os eleitores de origem latina são um dos grupos sempre na ribalta antes das eleições, e as propostas de Trump, que promete "a maior deportação de migrantes clandestinos - quase todos da América Latina - da história", não surgem à toa.

Isto, porque, como as sondagens clarificam, curiosamente, nas comunidades latino-americanas estão os maiores defensores de restrições à entrada no país de... latino-americanos, o que se explica sociológicamente pelo medo dos que já são cidadãos dos EUA terem concorrência mais barata no mercado de trabalho.

Mas entre os visados pelo, agora, lixado Tony Hinchcliffe, estão também algumas das grandes e ricas estrelas norte-americanas, como Jeniffer Lopez, Ricky Martin ou Benício del Toro, o que causa embaraços à campanha republicana pelo efeito ofuscante que estas estrelas podem ter nos olhos dos eleitores deste universo étnico-linguístico e queimar a tal vantagem.

Mas quando tudo parecia estar a correr bem para a vice-Presidente e candidata democrata, Kamala Harris, que saiu a terreiro com todo o lixo retórico pensado pelos estrategas da sua campanha para enterrar Donald Trump debaixo do entulho produzido pelo coitado do Tony Hinchcliffe, eis que...

...Joe Biden, o Presidente dos Estados Unidos da América, ofereceu de presente de campanha a Donald Trump um... camião do lixo, para retirar das vielas e becos da campanha o lixo produzido pelo, agora, indigente Tony Hinchcliffe...

Disse Biden que, talvez com a mais limpa das intenções, embora alguns analistas admitam que era, afinal, a mais suja das opções (ver aqui), os porto-riquenhos, ao contrário do que se pensa na campanha de Trump, são pessoas "honradas e decentes" e que "lixo são os apoiantes dele"...

E quem é ele? Pois claro, Donald Trump, que, depois de atirar o, agora, escondido, Tony Hinchcliffe, para fora desta "telenovela mexicana", ao afirmar que nem o conhece nem se revê no que disse, surgiu no Wisconsin (ver foto), um estado-chave para os resultados finais de 05 de Novembro, a conduzir um imaculadamente limpo e a brilhar camião... do lixo.

Foi numa das centenas de partidas e chegadas à velocidade supersónica desta campanha nos seis denominados "swing states", como quem diz, nos círculos eleitorais que não são historicamente fiéis a nenhum dos partidos e votam pela capacidade de esconder a "porcaria" dos candidatos, que Trump teve a sua epifania.

Apareceu no Wisconsin junto dos eleitores... e dos jornalistas, que são quem mais sabe deste tipo de serviço à comunidade, sorridente, a conduzir um camião do lixo, numa clara alusão irónica ao que sucedeu depois do tropeção do, agora, sujo Tony Hinchcliffe... passando por cima do desamparado Joe Biden.

Só que esta telenovela que parece ter chegado para ficar, episódio após episódio, e marcar a última semana de campanha, não é só feita de lixo, também tem doenças...

É que o mesmo Donald Trump que conduz camiões de lixo à frente de jornalistas e eleitores, também apareceu num drive thru do McDonald"s a entregar hambúrgueres, colas e batatas fritas aos clientes...

Uma operação mediática de campanha de digestão imediata, e com resultados nas sondagens, apagando mesmo a pequena distância que Kamala Harris tinha sobre ele, mas de curta duração... é que dois dias depois, os media foram inundados de notícias tóxicas para a campanha republicana.

Um surto da bactéria patogénica e. coli surgiu logo depois de Trump ter entregado hambúrgueres, o que diluiu muito o efeito positivo que teve a ideia na sua campanha.

Porque, mesmo não havendo sequer uma ligação geográfica entre a aparição do candidato republicano e a infecção, nos média norte-americanos, quase todos pró-democratas, parecia que tinha sido tudo em simultâneo e no mesmo sítio... Ou seja, a origem da infecção "foi" o republicano.

Se fosse possível adivinhar o que ocorreu na mente dos estrategas da campanha republicana de Trump que se lembraram de o meter a conduzir um camião do lixo, uma das possibilidades mais evidentes seria usar a imagem do antigo Presidente a "carregar" toda a porcaria mediática para o território da campanha democrata...

Especialmente o esforço que Kamala Harris fez para ligar as palavras lixiviadas do malquerido Tony Hinchcliffe para o pensamento de Donald Trump, no que até faz sentido, considerando que a sua campanha, se se considerar apenas o que passa nos media, é assente em ideias como fechar as fronteiras aos ilegais, expulsar os migrantes ilegais...

E, até porque ninguém se esqueceu ainda do "lixo" que foi Trump ter dito, há cerca de um mês, que os imigrantes ilegais estavam a invadir as cidades norte-americanas, e, nalguns locais, como Sringfield, "andam a matar e a comer os animais de estimação das boas e honrads famílias dos cidadãos americanos".

Ninguém sabe se Trump se lembrou de colocar migrantes a "comer" os cães e os gatos das familias "americanas" e Sringfiled depois de ser um episódio de The Simpsons", a serie animada de humor caústico conhecida em todo o mundo.

Porém, se no camião do lixo que surgiu a conduzir no Wisconsin, onde, a par de outros estados escorregadios, como Carolina do Norte, Michigan, Pensilvânia, Arizona, Geórgia ou Nevada, os dois candidatos apostam todos os seus "produtos de limpeza", Trump vai conseguir carregar todos os detritos que foi gerando à medida que a sua caravana se foi deslocando, isso só na noite de 05 de Novembro se saberá... ou se poderá ter uma ideia aproximada.

Se Kamala Harris se vai deixar impressionar pelo "choffeur", ou se vai entrar no seu camião e atirar para o meio da campanha o lixo que lá está, só quando o último voto entrar na urna e se começar a passar o algodão pelas urnas, que é onde mais se nota o... pó, se poderá ter uma ideia, porque nada garanta que a telenovela acabe nesse momento.

É que, com as sondagens a colarem Harris e Trump como raramente se viu na histórias de mais de 200 anos de eleições nos EUA, alguns analistas admitem que o grande trabalho de "limpeza" pode ser feito no day after, pelas equipas jurídicas de democratas e republicanos... especialmente se a diferença em número de votos for pequena como um grão de pó.

E ainda por cima num processo eleitoral onde os eleitores votam para escolher grandes eleitores que os representam, estado a estado, numa votação final, sendo que existe a possibilidade, como sucedeu em 2016, quando Hillary Clinton teve mais quase 3 milhões de votos que Donald Trump e perdeu o acesso à Casa Branca...

Para vencer um dos candidatos tem de consegur 270 votos entre os grandes eleitores, que é metade mais um dos 538 que compoêm o colégio eleioral que agrega os escolhidos em todos os estados dos EUA.