Sim, voltou a acontecer, mas pode ser apagado, se a máquina eleitoral e os media amigos dos democratas, que já endossaram o apoio a Kamala Harris, ajudarem o velho Presidente Biden a levantar-se de mais uma queda aparatosa no extenso degrau dos seus descuidos.
Desta vez Joe Biden saiu a terreiro para "ajudar" Donald Trump, que estava claramente entalado numa frase infeliz de um humorista que subiu ao púlpito da sua campanha, chamando a Porto Rico, um território insular ultramarino dos Estados Unidos, de "ilha de lixo".
O ainda Presidente democrata não podia escolher pior a forma de aproveitar este deslize do adversário ao procurar ridicularizar o apresentador que foi ao palco da campanha republicana, e disse que "lixo são os apoiantes de Donald Trump".
Esta frase caiu que nem uma bomba, obrigando o núcleo duro da campanha de Kamala Harris a entrar em modo de pânico.
Isto, porque Harris estava muito satisfeita depois de ouvir o elemento da campanha de Trump, o comediante Tony Hinchcliffe, a chamar aos porto-riquenhos "lixo", que é o mesmo que dizer que estrelas como Jennifer Lopez, Ricky Martin ou Benicio del Toro... são lixo, com dividendos eleitorais evidentes para colher...
Só que Joe Biden saiu da sua cadeira de quase reformado para estragar tudo, ao cometer o erro clamoroso afirmando que "os porto-riquenhos são pessoas decentes... quem é lixo são os apoiantes dele", de Donald Trump... que é o mesmo que dizer que quase 50 por cento dos norte-americanos são "lixo".
O que levou mesmo alguns políticos próximos dos republicanos, e com mais apurado sentido de humor que Tony Hinchcliffe, a espetar a agulha onde mais dói, defendendo que esta foi a forma de Joe Biden se vingar de Kamala Harris, Barack Obama, e os Clinton, Bill e Hillary, por lhe terem "roubado" a candidatura ao "obriga-lo" a abandonar a corrida para ceder o lugar à sua vice-Presidente.
A resposta da campanha de Kamala Harris foi célere e passou, e está a passar, porque este "cisne negro", que aparece sempre na parte final das campanhas norte-americanas para mudar o curso da história, pousou na terça-feira, 29, colocando Biden num vídeo a retractar-se como podia...
Alegou que se dirigia unicamente ao "speaker" do comício de Trump que disse que Porto Rico é uma ilha de lixo, frase da qual Donald Trump rapidamente se distanciou, mas com pouco sucesso, porque os media pró-democratas cavalgaram esse momento a galope...
Se este momento pode ser decisivo no desfecho da votação da próxima terça-feira, 05 de Novembro, só o correr dos dias o dirá, porque os mesmos media que tentaram enfatizar a falha da campanha de Trump estão agora em grande rotação a tentar limpar os detritos eleitorais espalhados por Joe Biden.
Certo é que as sondagens não permitem antecipar um vencedor, nem sequer aproximadamente, porque o que se encontra em quase todas é um empate cerrado, contrastando com o que era esperado pelos democratas quando forçaram a saída de cena de Biden para dar lugar à mais jovem Kamala Harris.
E este episódio pode ter ainda desgastado mais a campanha de Harris (60 anos) que parece não conseguir descolar, apesar de o factor idade, como se pode revisitar aqui, era considerado decisivo pelos eleitores que viam na provecta idade de Biden (81) e Trump (78) o pior destas eleições,
Biden disse especificamente isto: "Os porto-riquenhos são boas, decentes e honradas pessoas" e que "o único lixo" que vê são "os apoiantes dele (de Trump), cuja demonização dos latinos não é razoável e é antiamericana".
Um minuto depois, a campanha de Trump, com o sorriso na cara que Kamala tinha quando Tony Hinchcliffe disse o que disse no comício republicano, já tinha anúncios e declarações a sublinhar que o Presidente dos EUA e apoiante de Kamala Harris entende de metado da população é lixo, como, de resto, já em 2016, a candidata democrata Hillary Clinton disse que os apoiantes "dele" eram um "caixote de deploráveis".
Biden rapidamente tentou reajustar o que pensa, apagando o que disse, defendendo que se dirigia apenas a Tony Hinchcliffe, o comediante que começou esta telenovela em torno do lixo...
Os grandes media norte-americanos, como The New York Times ou CNN, entre outros, já endossaram o seu apoio publicamente a Kamala Harris, como é tradição anglo-saxónica, e isso mesmo está agora visível na forma como puseram os seus espaços mais fortes a tentar apagar da história desta campanha os resíduos sólidos para dentro dela atirados pelo ainda inquilino da Casa Branca.
E mesmo aqueles que não o fizeram desta feita, como o LA Times ou The Washingon Post, não deixaram de mostrar o seu "democratismo" ao disponibilizar os seus espaços mais nobres para a retractação de Biden, enquanto outro, como a FOX ou THe New York Post, fazem o contrário. (ver aqui quem apoia quem nestas eleições no universo dos media norte-americanos)