O velho republicano e antigo Presidente, Donald Trump, não se coíbe de usar as palavras mais ofensivas para se dirigir à sua opositora, chamando-a "a vice-Presidente mais incompetente de sempre" ou "perigosa comunista que levará os EUA para a III Guerra Mundial".
Do outro lado da barricada, Kamala Harris, a "jovem" democrata que substituiu o velho Joe Biden na recta final das primárias, sem se expor à abrasividade da campanha interna, não escolhe as palavras para dizer que o seu oponente "está maluquinho" e a perder contacto com a realidade".
Se Trump destrata Harris com a violência do discurso em cima de palcos onde a despede em directo, fazendo regressar à memória dos americanos o tempo do show televisivo "The Apprentice - O Aprendiz" que o catapultou para a fama, Harris dedica agora a Trump os mimos que os republicanos atiravam contra o idoso Biden, afirmando que este está a "perder a noção da realidade".
Donald Trump tem 78 anos, praticamente, Kamala Harris, fez 60 anos, mas a juventude da ainda vice-Presidente democrata não está a ser suficiente para a distanciar nas intenções de voto mostradas nas sonadagens, do "velho" ex-Presidente.
Isto, apesar de, quando ainda estava Joe Biden, de 81 anos, na corrida, de onde foi afastado pelas elites democratas, e depois de sucessivas sondagens onde a derrota estava antecipadamente firme e consolidada, a idade dos dois concorrentes era o que mais desagradava aos eleitores.
As últimas sondagens dão um empate literal, e não técnico, que é quando a distância entre candidatos está dentro da margem de erro assumida pelas empresas de sondagens, de 47%, mesmo depois de Kamala Harris ter contado com o apoio expressivo e empenhado das maiores estrelas do seu partudo, como os ex-Presidentes Bill Clinton e Barach Obama, e as suas igualmente proeminentes mulheres, Hillary Clinton e Michele Obama.
Ao lado de Donald Trump tem estado o saltitante Elon Musk, o "sr Tesla", e dono da Space X, com que sonha mandar a Humanidade para as estrelas mas que não consegue fazer o seu candidato descolar da incómoda posição colado ao solo da indecisão.
As duas tentativas de assassinato a que foi sujeito, a primeira deixando-lhe mesmo uma orelha furada, tiraram Trump de um buraco nas sondagens para onde tinha sido atirado pela surpresa da substituição de Biden por Harris, colocando-o par a par com a vice-Presidente, de onde parece não estar a conseguir sair para poder regressar à Casa Branca com o sossego que a sua idade já aconselha.
Alguns analistas admitem que os últimos dias, ou mesmo as últimas horas, podem ser decisivas, porque a história das eleições norte-americanas estão cheias de "cisnes negros" - acontecimentos inesperados - quando as urnas já estão nas mesas de voto e prontas a abrir.
Se tal não suceder, embora Kamala Harris tenha tentado neste fim-de-semana, com a entrada em cena da super-estrela Beyonce, que foi abraça-la em palco, tal como fez Michele Obama, que apostou tudo num discurso onde colou Trump à condição de agressor de mulheres, o mais certo é que até à noite da contagem de votos não se saiba quem vai ganhar, ou, pelo menos, é o favorito, porque esse momento pode abrir uma batalha jurídica sem precedentes.
O que se adivinha como o mais provável, porque, entre alguns exageros, de que estas eleições podem desembocar numa guerra civil, devido aos radicalismos de um e de outro lado, Trump tem conseguido sempre encontrar uma resposta, embora quase sempre em torno da mesma fórmula, falando de uma "invasão" de migrantes que saíram aos milhares de prisões e hospícios da América Latina, culpando Harris por não ter conseguido estancar as fronteiras, visto que é ela, na condição de vice-Presidente que tem a tutela dessa área.
Trump foi ainda mais radical no seu comício do Madison Square Garden, em Nova Iorque, este sábado, de onde disse, perante muitos milhares de pessoas, que vai travar uma guerra interna, como os "inimigos da América", voltando a prometer a "maior deportação da história", depois de ter recuado, parcialmente, da ameaça anterior de colocar o Exército a combater os "inimigos internos".
A uma semana e algumas horas da abertura das urnas, mesmo que já esteja a correr a votação antecipada, permitida em vários estados, os dois candidatos não brincam em serviço e estão a apostar quase tudo nos denominados "estados movediços", que são aqueles onde o resultado não está definido à partida, com oscilações de eleição para eleição.
Os mais importantes entre estes são a Pensilvânia, Carolina do Norte, Ohio, Wisconsin, Michigan, Geórgia ou o Arizona, e, neste universo limitado, mas decisivo, desta vez, tanto Trump como Harris apostam em força nos mais jovens, porque as sondagens mostram que é aí que se vai separar o vencedor do derrotado.
Alguns analistas admitem que, neste cenário, Trump tem algumas vantagens, porque, como sucedeu em 2016, contra Hillary Clinton, apesar desta ter conseguido mais 2 milhões de votos, perdeu porque o seu adversário ganhou nos estados que importavam.
Isto é assim porque, ao contrário de outros países, nos EUA os eleitores não votam directamente nos seus candidatos, escolhem representantes, que, depois, numa decisão final, definem quem entra e quem fica à porta da Casa Branca, sendo estes grandes eleitores proporcionalmente obtidos estado a estado e em conformidade proporcional com a sua população.
Além disso, alguns analistas notam que, depois de Kamala Harris tomar o lugar de Joe Biden na secretaria, sem se sujeitar à campanha eleitoral das primárias internas, não está a conseguir jogar os seus trunfos, como a idade, passando Trump a ser o velho em campo, nem está a conseguir convencer o eleitorado negro e latino, onde, por exemplo, o ainda Presidente obteve resultados decisivos.
Além disso, devido ao conflito no Médio Oriente e ao genocídio em Gaza, como considera ser o caso a justiça internacional, o eleitorado de origem islâmica está a afastar-se do Partido Democrata por Biden e Harris estarem claramente ao lado de Israel e a nada fazerem de efectivo para travar a carnificina naquele martirizado território.
Todavia, no que realmente importa, as sondagens mostram uma disputa renhida em curso e, a não ser que ocorra um dos já comuns "cisnes negros" na campanha que vire tudo do avesso, o suspense vai manter-se até ao derradeiro voto a entre nas urnas no próximo dia 05 de Novembro.