A cerca de 400 metros de onde estava a preparar mais uma tacada, os agentes dos serviços secretos norte-americanos que acompanham em permanência Donald Trump, devido à sua condição de antigo Presidente, viram um cano de uma espingarda a sair de uns arbustos.
O FBI já conformou que foram disparados vários tiros pelos homens da segurança do republicano em direcção onde estava escondido o atirador, obrigando-o a fugir, deixando para trás uma AKM com mira telescópica, e duas mochilas, uma delas com uma câmara de filmar.
Pouco depois era detido um homem de 58 anos, Ryan Routh, quando procurava abandonar o local de carro, um Nissan de cor preta, tendo este tido pouco tempo para a fuga e mal saiu de Palm Beach, onde está situado o luxuoso Trump International Golf Club.
Depois de uma bala lhe ter perfurado uma orelha quando discursava em Butler, na Pensilvânia, face às falhas de segurança pelos serviços secretos, a equipa foi reforçada, o que pode ter sido bastante para lhe salvar a vida neste Domingo, ao final da tarde, madrugada em Angola.
No entanto, as dúvidas sobre este episódio já começaram a circular, desde logo porque Trump está claramente em dificuldades na campanha face à vantagem que cresce diariamente, segundo as sondagens, da sua adversária, a democrata Kamala Harris, actual vice-Presidente.
E se da primeira vez, em Julho, a seguir ao tiro na orelha, Trump viu a sua popularidade crescer vertiginosamente, com a chegada de Kamala Harris à corrida, no lugar de Joe Biden, que estava a resvalar perigosamente para uma derrota clamorosa, essa vantagem esfumou-se.
E, naturalmente, um segundo atentado à sua vida poderia consubstanciar um novo ímpeto para a sua campanha, o que não deve ser alheio o facto de ter sido, precisamente, a sua adversária a lançar a primeira farpa.
Kamala Harris apressou-se a vir para as redes sociais condenar qualquer tipo de violência política nos EUA mas pediu expressamente que todos os pormenores sejam investigados antes de ser tirada qualquer conclusão.
Também Joe Biden veio mostrar o seu incómodo com mais este episódio e anunciou que acabará de ordenar o reforço da segurança a Donald Trump, o que já tinha, recorde-se, sido feito aquando do ataque de 13 de Julho, em Butler, durante um comício.
Para já, depois de ter sido levado pelos serviços secretos para um local seguro, Donald Trump publicou uma mensagem nas redes sociais dizendo que estava bem, prometendo que esta situação em nada diminuirá a sua "determinação em ganhar as eleições".
No entanto, se a 13 de Julho a vida de Trump foi salva por um movimento súbito da sua cabeça quando o tiro foi disparado, tendo o autor sido abatido pela segurança, o que troou mais difícil investigar as circunstâncias do atentado que expôs uma gritante incompetência dos agentes que o acompanhavam.
Só que, desta feita, o suspeito de ter tentado matar Trump foi detido e está já a ser interrogado pelo FBI, a agência federal de investigação criminal dos EUA, o que permite esperar que todos os "pormenores", como a candidata democrata pediu, sejam apurados.
Alguns pormenores já começaram a saltar como pipocas do óleo a ferver, e uma delas é o carro em que foi detido... Um Nissan preto, uma viatura japonesa que se distingue fortemente entre os carros mais vulgares nos EUA, o que em nada facilitaria uma fuga bem sucedida após o ataque.
A conexão ucraniana
Porém, há um elemento que está a baralhar as contas dos investigadores, que é a ligação do suspeito, Ryan Wesley Routh, ao activismo pró-ucraniano, sendo ainda destacado pelos media norte-americanos, como a Fox News, pró-Trump, que o homem estava perfeitamente calmo quando foi detido e nem pestanejou quando foi detido, assegura o xerife local.
Como sempre sucede, os media e as autoridades que investigam o episódio, correram para as redes sociais em busca de sinais preparatórios para o ataque e o que encontraram foi uma avalanche de demonstrações de apoio à causa ucraniana.
Nas inúmeras publicações nas redes sociais, Routh identifica-se como um apoiante de Kiev na sua guerra com a Rússia, além de claros esforços para arregimentar voluntários para lutar contra Moscovo, dizendo-se disponível para "morrer pela Ucrânia".
Ora, esta realidade impõe uma ligação à conhecida vontade de Donald Trump acabar com a guerra se ganhar as eleições "em menos de 24 horas", sendo que uma das formas de o fazer mais badaladas pelos media é acabar com o apoio militar e financeiro à Ucrânia.
Algumas das frases mais expressivas citadas pelos media publicadas por Routh nas redes sociais são em torno da sua disponibilidade para morrer em nome da Ucrânia e a urgência de destruir a Rússia dê por onde der.
O Ryan Wesley Routh esteve mesmo em Kiev durante meses em 2022e na altura fez declarações aos media norte-americanos sobre os seus esforços para contratar mercenários no Médio Oriente e Ásia Central para combaterem na Ucrânia contra os russos.
Há ainda relatos onde Routh aparece a criticar fortemente Donald Trump por causa da sua oposição que este encara como sendo pró-Rússia.
O que deixa claro que se a identidade deste homem for mesmo confirmada, trata-se de alguém fortemente obcecado com a questão ucraniana e com uma disponibilidade mental para se envolver em acções ousadas para a defesa dos interesses de Kiev-
O que, no caso, poderá ter chegado ao ponto de tentar assassinar Trump, que vê como um amigo de Vladimir Putin, a quem este disse que queria matar com um míssil lançado contra o Kremlin por um foguetão de Elon Musk.
E como sempre, nestas situações, as dúvidas e suspeitas sucedem-se, como sejam as lançadas já nas redes sociais sobre a forma como um indivíduo com este perfil exposto publicamente nas redes sociais, estar sem qualquer controlo e aproximar-se a curta distância de Trump.
Isto, mesmo depois de ainda há escassos dois meses o candidato e antigo Presidente ter sido alvo de uma tentativa de assassinato que deixou a reputação dos serviços secretos de rastos.