Esta humilhação pública, primeiro nos ecrãs da CNN onde decorreu o debate com Donald Trump, o primeiro de um ciclo de três, e depois na vaga de críticas e pedidos nos media para se afastar, levou Joe Biden, de 81 anos, a admitir tal possibilidade.
Isso mesmo fica claro quando esta segunda-feira alguns dos mais destacados media norte-americanos avançam que o ainda Presidente dos EUA se reuniu com os mais próximos, quase todos família directa, para analisar os prós e contras de uma saída de cena quando faltam apenas quatro meses para as eleições de 05 de Novembro.
E a decisão parece que está tomada, Joe Biden vai em frente tendo atrás a sua gente, que é cada vez mais apenas a sua família chegada, que o terão aconselhado a não dar um "prémio" a Donald Trump, saindo de cena pela porta baixa dos efeitos da idade, a mais sonora crítica de Trump ao longo dos últimos anos, chamando-lhe "Joe dorminhoco" ou "Joe atarantado".
Para justificar a continuação na corrida, como titula o britânico The Guardian, Joe Biden e os seus familiares preparam-se para divergir as razões da sua má prestação televisiva da sua idade avançada para os seus assessores.
Isto, depois de uma longa reunião familiar em Camp David, a casa de repouso do Presidente dos EUA a pouco mais de 60 kms de Washington, onde se refugiou para reflectir com a família, saindo dali com a convicção de que a luta eleitoral é para levar até ao fim, custe o que custar.
Contra tudo e contra todos, ou seja, contra os lideres do Partido Democrata, que nos EUA correspondem aos responsáveis pelos cargos mais relevantes, como Congressistas e governadores estaduais, e contra os financiadores da sua campanha, a família Biden decidiu dar o peito às balas.
Isto, porque, naquilo que parece ser uma acção concertada, uns e outros ajuízam agora publicamente, mesmo sendo evidente as fragilidades da idade avançada do Presidente e candidato, à luz do mau trabalho feito pelos seus assessores na preparação do combate com Trump.
Ou seja, no contexto das possibilidades legais norte-americanas, e se o desespero aumentar, os elementos da sua Administração, conluiados com a vice-Presidente Kamala Harris, pode invocar a 25ª Emenda da Constituição para declarar o Presidente incapaz de Governar.
Isso permitiria colocar, no escasso tempo que resta, Kamala Harris na condição de Presidente, o que facilitaria a substituição do candidato na Convenção de 19 de Agosto, onde, como é costume histórico, o vencedor das eleições primárias é indicado como candidato oficial do partido, o que estaria facilitado se este desistisse da corrida.
Tal não vai suceder
A família Biden, segundo os media norte-americanos foi avassaladora na defesa da sua continuidade e seguir para o boletim de voto, dando luta a um Donald Trump cada vez mais favorito, como o indicam as sondagens feitas posteriormente ao debate.
Mas Trump ganha vantagem apenas porque a prestação de Biden foi um desastre, o que deixa evidente que não foi o republicano que ganhou, foi o democrata que perdeu, o que, alias, estava já previsto numa sondagem de Abril, onde 70% dos eleitores não queriam nenhum dos dois idosos a concorrer à Casa Branca.
O plano definido parece ser agora, não como até aqui, mostrar vigor e viço apesar da idade mas admitir que aos 81 anos, 82 em Novembro, Joe Biden já não é o mesmo homem que foi, com menos energia, mas ainda capaz de decidir o que é melhor para os EUA a partir da Casa Branca.
Segundo a agência de notícias norte-americana, Associated Press, citada por The Guardian, na linha da frente familiar a defender a sua continuidade na luta estiveram a sua mulher Jill Biden, e o seu filho, Hunter Biden.
Este último com sérios problemas na justiça e com pendentes no âmbito da sua estadia laboral na Ucrânia, na administração da Burisma Holdings Ltd, a empresa estatal energética, entre 2013 e 2019, que alguns media norte-americanos chegaram a admitir ser uma das razões para a fixação de Joe Biden no conflito ucraniano em curso.
Se este passo, especialmente o plano para atirar as culpas para os seus assessores, vai ser suficiente para fazer esquecer os momentos dramáticos no debate com Trump, onde por várias vezes de esqueceu do que estava a dizer, perdia-se nas ideias e ficava longos segundos - uma eternidade em televisão - com a boca aberta, parado, com olhar difuso, só o tempo o dirá.
O problema é que Joe Biden pode já não ter tempo. Faltam quatro meses para as eleições e neste curto espaço de tempo tem ainda mais dois debates pela frente. Para apagar este momento politicamente trágico, o ainda Presidente terá de arrasar Donald Trump nas duas oportunidades que lhe restam.
Uma das portas entreabertas é o vasto leque de mentiras propaladas no debate por Donald Trump detectadas pelos já famosos "fact check" exercitados pelos media, tendo sido demonstrado que Trump produziu 30 mentiras descaradas em 90 minutos de debate.
Se Biden conseguir desmontar os truques de Donald Trump, nem tudo estará perdido, porque é evidente que não foi este a ganhar o debate, foi antes o incumbente a perdê-lo.