A porta-voz do TIJ, em Haia, Países Baixos, a norte-americana Joan Donoghue, na leitura da decisão sobre o processo contra Israel despoletado pela África do Sul, que compreendia a acusação de genocídio e exigia o fim imediato da guerra em Gaza, ficou aquém do que era pretendido por Pretória.

Isso sucede porque a resolução deixa de fora a culpa de genocídio de Israel, apesar da brutal mortandade perpetrada pelas suas forças militares em Gaza, onde, desde 07 de Outubro, já foram mortas 25 mil pessoas, entre estas mais de 70% são mulheres e crianças, e destas dez mil são menores de 15 anos, e mais de 65 mil ficaram feridas, perto de 20% com mazelas físicas incapacitantes para o resto da vida.

Joan E. Donoghue disse que foi ordenado a Israel que tome todas as medidas para retirar imediatamente do leque das suas acções todas as medidas que podem ser compreendidas no âmbito da definição de genocídio.

Além desta determinação, mesmo que o TIJ não tenha meios de impor as suas sentenças e o Governo de Benjamin Netanyhau já ter garantido que não vai cumprir quaisquer ordem desta instância judicial da ONU, foi ainda exigido a Telavive que garante toda a ajuda humanitária a Gaza que for necessária.

O TIJ, ao contrário do Tribunal Penal Internacional (TPI), que ficou recentemente em saliência nos media internacionais pelo mandato de capturado Presidente russo por causa deste ter enviado algumas centenas de crianças ucranianas das zonas de guerra para a Rússia, é um organismo a que todos os países signatários da ONU devem obediência.

Apesar de esta ser uma decisão que não corresponde às expectativas, deixando em saliência a possibilidade de pressão externa, nomeadamente dos aliados de Israel, Joan Donoghue admitiu que o Tribunal considera existirem ligações de plausibilidade entre a acusação de genocídio sul-africana e a realidade em Gaza.

Ficou, por isso, para posteriores decisões e investigação a questão do genocídio, salientando esta juíza nomeada pelos EUA que o TIJ "está profundamente preocupado com a contínua perda de vidas e com o sofrimento humano" em Gaza.

Na primeira reacção do Hamas a esta decisão em Haia, este grupo palestiniano, que a 07 de Outubro protagonizou o assalto ao sul de Israel, onde foram mortas 1200 pessoas e 3 mil ficaram feridas, pede que o Governo de Telavive seja "obrigado a cumprir as ordens do TIJ".

Segundo a Reuters, um oficial superior do Hamas esta decisão do TIJ é de "grande relevância" porque contribui para o "isolamento de Israel" enquanto ocupante e expõe os seus crimes em Gaza.

Por sua vez, o ministro da Segurança israelita, Itamar Ben-Gvir, reagiu com uma tirada irónica e de claro maus gosto, que é difícil de traduzir para português "'Hague Shmague'", querendo sublinhar que é uma sentença sem sentido, ruidosa mas sem conteúdo razoável ou exequível.

Num primeiro sinal, a África do Sul, nas redes sociais, já fez saber, deixando para mais tarde uma abordagem mais lata, que as medidas exigidas pelo TIJ a Israel são bem-vindas.