O funeral de Ismail Haniyeh, morto na capital do Irão por um míssil israelita (ver links em baixo nesta página), teve lugar na manhã desta quinta-feira, 01, com o aiatola Ali Khamenei a liderar as cerimónias fúnebres que decorrem sob o signo da vingança exigida em todo o universo islâmico.

O que se sucederá, e de que forma a vingança iraniana será realizada, não há informação disponível, sabendo-se apenas que, de acordo com The New York Times, a ordem já foi dada para que tenha lugar e com o alvo dentro de Israel.

Nas ruas dos países muçulmanos, da distante Indonésia ao vizinho Iraque, do Norte de África aos confins do Extremo Oriente, soam gritos de revolta contra o assassinato de Haniyeh, provavelmente o mais ousado e arriscado assassinato conduzido pelas forças israelitas.

Mas há um dado histórico que ninguém minimamente próximo destas geografias ignora... raramente os governos seguem a vontade das ruas, excepto quando o ruído é de tal dimensão, como sucedeu já no longínquo passado, mas décadas de 1960 e 1970, o que pode vir a ser novamente o caso.

Para já é nas cerimónias fúnebres de Ismail Haniyeh em Teerão, cujo corpo seguirá depois para o Qatar, onde será sepultado, que as atenções estão concentradas, seguindo-se as de Fuad Shukr, o general do Hezbollah, e nº 2 deste movimento xiita, que também foi assassinado esta semana, 24 horas antes do líder do Hamas, em Beirute, capital do Líbano, onde será enterrado na sexta-feira.

A pergunta que todos fazem e quase ninguém arrisca responder é: como pode o Irão não reagir na mesma proporção depois do assassinato de uma das maiores figuras da resistência palestiniana contra a ocupação israelita, na capital do país, no dia em que o Presidente iraniano tomava posse sem sofrer uma profunda humilhação?

O Irão já demonstrou, em Abril último, que tem capacidade para alvejar alvos no interior de Israel, quando a 13 desse mês lançou centenas de misseis e drones sobre aquele país depois de dois importantes comandantes da sua Guarda Revolucionária terem sido mortos, também por um míssil, na capital da Síria, Damasco.

Se esse método vai agora ser de novo usado para vingar a morte de Haniyeh, que, recorde-se, liderava negociações com Israel, intermediadas pelo Egipto, Qatar e pelos EUA, para um cessar-fogo em Gaza, e também de Fuad Shukr, um comandante de topo do Hedzbollah, o movimento xiita com fortes ligações a Teerão, não é possível saber ainda.

Além do ataque com misseis e drones contra Israel, o Irão pode ainda optar por lançar uma vaga sem precedentes de ataques através dos seus "proxys", como o Hezbollah, na fronteira isarelo-libanesa, os Houthis, do Iémen, as milícias iraquiana xiitas, que contam com milhares de combatentes... ou tudo ao mesmo tempo.

Ao mesmo tempo que no universo islâmico se exige vingança pelos assassinatos de Ismail Hanyieh, principalmente, mas também de Fuad Shukr, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, que não condenaram o abate destas figuras, e na ONU, na China ou na Rússia, onde os assassinatos foram condenados, pde-se contenção de forma a evitar uma escalada perigosa no Médio Oriente.

Nos Estados Unidos, pela voz do chefe da diplomacia, Antony Blinken, assevera-se que Washington nada teve a ver com o assassinato do líder do Hamas, mesmo depois de os EUA terem admitido que foram avisados por Israel antecipadamente do assassinato de Fuad Shukr.

Se assim é ou não, mesmo sendo pouco verosímil, é irrelevante, porque Washington, depois de uma efusiva visita do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyhau aos Estados Unidos na semana passada, já veio reforçar a ideia de que Israel pode contar incondicionalmente com o apoio norte-americano.

Mais: a armada que os EUA têm posicionada no Mediterrâneo, ao largo do Líbano e de Israel, com um porta-aviões, vários navios de apoio e submarinos, será activada rapidamente se o Irão lançar um ataque em larga escala sobre Israel, empregando meios aéreos e as suas ramificações regionais.

Que é, precisamente, o que Benjamin Netanyhau pretende desde que lançou a operação militar em Gaza a 08 de Outubro do ano passado, porque uma guerra aberta entre o Irão e os Estados Unidos é um sonho antigo do líder israelita.

Com o envolvimento directo dos Estados Unidos numa guerra com o Irão é a melhor garantia de defesa contra a pressão política interna, contra o risco de voltar ao banco dos réus como arguido acusado de corrupção agravada assim que as coisas acalmarem e ainda contra as crescentes suspeitas de que o assalto do Hamas ao sul de Israel a 07 de Outubro de 2023 contou com a sua colaboração e o "fechar de olhos" das secretas israelitas...

Alguns dados indiciam que ainda que estes assassinatos, realizados quando em Roma, Itália, decorriam negociações para um cessar-fogo em Gaza, envolvendo o agora morto Ismail Haniyeh, o Governo israelita e delegações do EUA, Egipto e Qatar, não são mas que convites descarados ao Irão e ao seus proxys para contra-atacarem de forma a puxar Washington para a guerra.

E pode haver mesmo interesse dos "falcões" de Washington em que isso mesmo suceda, até porque há escassas duas semanas, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, veio, sem nada de extraordinário que o justificasse, afirmar que o Irão estava, então, a "apenas duas semanas de conseguir ter uma bomba nuclear pronta".

Todos os "timings" observáveis apontam para um conluio Washington/Telavive de forma a desencadear uma guerra de larga escala no Médio Oriente a começar com o Irão, que, recorde-se, tem assinados acordos de parceria estratégica alargada com Rússia e China, e os seus aliados regionais, como a Síria, além das milícias e movimentos no Líbano, Iraque e Iémen.

Vão os líderes iranianos, o aiatola Khamenei, e o novo Presidente do país, Masoud Pezeshkian, um moderado que tomou posse na quarta-feira, 31, depois de ter ganhado as eleições de Junho, marcadas após a morte do ex-Presidente Ibrahim Raisi, num acidente de helicóptero sobre o qual ainda persistem algumas dúvidas para as suas causas, cair na armadilha montada por Telavive, com o apoio de Washington, porque Netanyhau não se atreveria a tanto sem essa conexão com o aliado norte-americano?

Cair nessa armadilha seria responder com uma avassalador ataque, em várias frentes, envolvendo o pleno das suas capacidades, contra Israel... responder de forma contida, seria a pior resposta para Netanyhau, que ficaria sem a sua guerra de larga escala tão desejada.

Porém, que contornos terá essa resposta, só nas próximas horas se saberá.

Entretanto, o porta-voz das IDF, almirante Daniel Hagari, veio já reafirmar que Israel não quer uma guerra aberta com o Irão através do Hezbollah, mas garantiu, como, de resto, Netanyhau já o tinha dito, que está tudo pronto para lidar com esse cenário se ele vier a ocorrer.