Em documentos separados, a ONU e a HRW coincidem na questão essencial de que as forças israelitas que ocuparam a Faixa de Gaza há mais de um ano têm um longo registo de acções que encaixam nas definições internacionalmente aceites de genocídio e crimes contra a humanidade.

Um relatório elaborado pelo comité especial da ONU para investigar os métodos usados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) em Gaza, acabado de ser divulgado, sublinha a existência de morte em massa de civis e a criação de condições especialmente graves para o suporte da vida humana no território.

A Al Jazeera alerta que as organizações das Nações Unidas raramente ou nunca usam o termo "genocídio" nos seus documentos oficiais, mas alerta que o relato inserido neste documento do comité especial é consistente com a definição internacional de genocídio.

O documento sustenta que as condições que obstaculizam a sustentabilidade da vida humana, como a fome, sede, obstrução à saúde, abrigo e à higiene são "intencionalmente impostas" pelas forças de defesa de Israel em Gaza.

"Desde o início da guerra em Gaza, os comandantes militares israelitas defenderam publicamente políticas que retiram aos palestinianos as condições mínimas requeridas para a vida humana subsistir", referindo especificamente os alimentos, a água, e o combustível que permite o funcionamento das unidades hospitalares, por exemplo.

"Estas declarações acompanhadas das interferências ilegais e sistemáticas na prestação de ajuda humanitária deixa clara a intenção de Israel instrumentalizar o apoio humanitário para a obtenção de ganhos políticos e militares".

Que é o mesmo que dizer que as IDF estão a usar a fome como arma de guerra e dirige estas acções ilegais à luz da lei internacional deliberadamente contra civis, causando elevadas mortes entre crianças, mulheres e idosos por esta via.

Caso ao mesmo tempo, a HRW veio acusar publicamente Israel de praticar crimes contra a humanidade na deslocação forçada de populações civis em gaza para fins de ocupação militar.

Israel está, aponta esta organização com sede nos EUA, a recorrer a sucessivas ordens de evacuação de populações de áreas do território como forma de alcançarem "deslocações massivas e deliberadas" de populações civis palestinianas.

O documento avança ainda que as práticas das forças israelitas em Gaza ferem gravemente as disposições das Convenções de Genebra - série de tratados formulados para definirem as leis internacionais relativas ao Direito Humanitário Internacional - e são uma acção punida severamente pelo estatuto de Roma que funda o Tribunal Penal Internacional.

Estes documentos surgem em público num momento em que nos EUA, o grande aliado e apoiante em armas e dinheiro de Israel, foi eleito Presidente Donald Trump, que já veio garantir que Telavive pode agir como entender que contará sempre com o apoio de Washington, sejam quais forem as circunstâncias.

E quase em simultâneo à eleição de Trump, o jornal israelita Haaretz, um dos mais influentes no país, publicou uma notícia onde alerta para a existência provada de que estão a ser cometidos crimes contra a humanidade em Gaza e aponta mesmo para indícios de genocídio.

O que não parece incomodar os governantes israelitas, porque, depois de os radicais Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, e Bezalel Yoel Smotrich, das Finanças, terem assumidamente defendido a expulsão dos palestinianos de Gaza em definitivo, enviando-os para o deserto, Orit Strock, ministro dos Colonatos, veio defender a expulsão e a ocupação de mais áreas na Palestina por Israel, incluindo Gaza.

Este aliado do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau explicou a medida como "demonstração ao Hamas de que as suas acções têm um preço elevado a pagar", garantindo ainda que se demite se Israel sair de Gaza, o que poderia fazer cair o Governo de Telavive.

Até ao momento já morreram cerca de 43 mil pessoas em Gaza desde 07 de Outubro de 2023, quando o Hamas e a Jihad Islâmica lançaram uma ousada e letal operação no sul de Israel, matando mais de mil pessoas, incluindo militares, civis nacionais e imigrantes asiáticos, tendo mais de 200 sido levados como reféns para Gaza.

De seguida as IDF laçaram uma gigantesca operação militar em gaza, com mais de 350 mil soldados, centenas de carros de combate e centenas de aviões de guerra.

Desde então morreram mais de 42 mil palestinianos civis em gaza, a maioria mulheres e crianças, mais de 75%, o território foi praticamente arrasado e os seus 2,3 milhões de habitantes são agora quase todos refugiados no seu próprio "país".

Gaza é uma faixa de território com 40 kms de extensão e nove de largura, ocupando apenas 365 kms2, o que faz com que seja ma das maiores densidades populacionais do mundo.

Quase todos os equipamentos públicos foram arrasados, os equipamentos sociais da ONU e das outras organizações internacionais humanitárias foram destruídas, os hospitais foram bastamente atingidos, sendo que dos 36 existentes, apenas três mantém alguma operacionalidade...

Israel está a ser acusado nos tribunais internacionais de genocídio por um grupo alargado de países liderados pela África do Sul, que tomou a iniciativa de avançar com a causa.