A 24 de Outubro, a CNE atribuiu uma inexplicável, na perspectiva da oposição, vitória esmagadora à FRELIMO, partido que governa o país desde 1975, com mais de 70% para o seu candidato presidencial, Daniel Chapo, uma maioria absoluta no Parlamento e a vitória no poder local de todas as 11 províncias moçambicanas.

O primeiro resultado da sucessão das jornadas de protesto, com manifestações gigantescas nas ruas das principais cidades de Moçambique e paralisações laborais desde 24 de Outubro, que já fizeram dezenas de mortos e milhares de feridos, é a demora no veredicto do Conselho Constitucional, a última instância de recurso.

Apesar de não ter limite de tempo para se pronunciar, o Conselho Constitucional está claramente a demorar mais que o normal a anunciar os resultados definitivos, o que tem alimentado a veracidade das denúncias de fraude eleitoral.

A oposição, com destaque para a persistente posição de Venâncio Mondlane, diz que é impossível a FRELIMO ganhar estas eleições nas suas três vertentes, Presidenciais, Parlamentares e locais, sendo impossível tê-lo conseguido com tamanha margem.

Mas não é esse o argumento do Conselho Constitucional para protelar o anúncio dos resultados, é-o sim o facto de, na contagem dos votos, terem sido registadas discrepâncias inexplicáveis entre o número de votos para as três opções dos eleitores, que recebem, todos por igual, três boletins de voto.

Depois de pedir à CNE que se explique sobre esta anormalidade, o Conselho Constitucional aguarda pela resposta para se pronunciar, estando a demorada resposta a alimentar claramente as dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral em Moçambique, que se já eram grandes, são agora ainda mais substantivas.

E parece que os milhares de jovens que não saem das ruas de Maputo, bem como de outras grandes cidades, e, desta feita, num protesto que começou na quarta-feira, 13, programado para durar até sexta-feira, 15, dos portos do país e das fronteiras, provocando danos significativos à economia nacional, estão para ficar...

Para já, nas primeiras horas deste novo protesto foram registados seis mortos e vários detidos.

A Organização não-Governamental Plataforma Eleitoral "Decide" denunciou já a existência de pelo menos seis pessoas mortas na manhã de ontem, na província de Nampula, no norte do país.

E pelo menos nove foram detidas em Manica, região centro, em confrontos entre manifestantes e polícia, segundo os dados apurados por esta organização, que anunciou ainda que á dezenas de feridos por balas disparadas pela polícia.

Entretanto, o Conselho Nacional de Defesa e Segurança (CNDS) pediu às Forças de Defesa e Segurança para privilegiarem diálogo e não o recurso à força com populares durante as manifestações.

Segundo a Agência de Informação de Moçambique, estes protestos estão a gerar danos graves para a economia nacional, desde logo devido à interrupção da laboração nos portos e o bloqueio das fronteiras, com milhares de camiões parados para atravessar, especialmente de e para a África do Sul.

Um comunicado da Presidência da República, divulgado após uma reunião extraordinária em Maputo, e dirigida pelo Presidente Filipe Nyusi, o CNDS apelou ainda a que as forças de segurança e defesa "priorizem a protecção da vida e dos bens dos moçambicanos".

O CNDS reconheceu o direito constitucional de manifestação ao mesmo tempo que lamenta o impedimento do funcionamento das instituições, a livre circulação de pessoas e bens e a tentativa de subversão da ordem democrática legitimamente estabelecida.

As manifestações estão a ter "consequências desastrosas" para a economia moçambicana, pedindo o CNDS que as autoridades identifiquem os responsáveis pelos actos para a "devida responsabilização".

Para as próximas horas são esperados novos protestos em larga escala, com ruas interrompidas, cidades bloqueadas, portos encerrados e fronteiras fechadas por milhares de pessoas, na maioria jovens, que não aceitam os resultados eleitorais.