No início de Maio, como o Novo Jornal noticiou, o Governo congolês instaurou o estado de sítio no Kivu Norte e Ituri, no leste, com fronteira com o Uganda, de onde é proveniente a ADF, e o Ruanda, país de origem da FDLR (Forças Democráticas de Libertação do Ruanda), outro grupo com longo registo de massacres na região, colocando chefias militares a governar estas duas províncias para facilitar a logística e a eficácia do combate aos grupos armados.
Estes ataques da ADF, que o porta-voz da agência da ONU para os refugiados, o ACNUR, Babar Baloch descreveu como "mortíferos", obrigou pelo menos 5.800 pessoas a abandonarem os campos de acolhimento em que se encontram, muitas há largos anos, para procurar refúgio em igrejas, casas de acolhimento ou mesmo nas florestas das redondezas.
Este massacre foi agora revelado mas teve lugar já a 31 de Maio e ocorreu no seguimento de ataques da ADF aos campos próximos das localidades de Boga e Tchabi, tendo as vítimas perecido a golpes de catanas e facas ou ainda a tiro... dezenas ficaram feridas e cerca de 30 foram raptadas, ao mesmo tempo que os locais de abrigo eram incendiados.
Alguns analistas avançam que se está claramente face a um desafio às medidas em curso definidas pelo Governo de Kinshasa de forma a provocar as autoridades militares que combatem as guerrilhas suportados pela maior liberdade de movimentos proporcionados pelo estado de sítio, contando as Forças Armadas da RDC (FARDC) com o apoio musculado das unidades armadas da MONUSCO, a missão da ONU colocada no país, que é a mais robusta de todas as que as Nações Unidas mantém em todo o mundo.
Para fazer face a esta "atroz" série de ataques a refugiados indefesos, o porta-voz do ACNUR lançou um pedido internacional de apoio para socorrer as vítimas, incluindo financeiro e militar, ao apontar para a urgência de uma maior robustez na segurança na região para "proteger a vida de civis" sendo que muitos deles "já foram obrigados a fugir para salvar a vida várias vezes" nos últimos anos, deixando ainda um apelo contundente para que as partes em conflito respeitem o carácter humanitário dos campos onde estão estes civis.
Babar Baloch recordou, a partir de Genebra, em conferência de imprensa que serviu para denunciar mais esta série de ataques brutais contra civis indefesos, que as pessoas que agora foram obrigadas a fugir estão dispersas por vários locais com mais nada que não seja a roupa que levaram no corpo, sem acesso a alimentos nem, em muitos casos, abrigo.
Recorde-se que desde meados da década de 1990, com especial enfoque após o genocídio no Ruanda, em 1994, quando elementos da maioria Hutu massacraram mais de 800 mil pessoas da etnia Tutsi, o leste da RDC é uma fornalha incandescente de violência entre as dezenas de milícias e guerrilhas, algumas provenientes do Ruanda e do Uganda, ou contra civis.
Esta violência, sendo muita das vezes, gratuita, ela assenta numa lógica estratégica que visa a exploração dos recursos naturais abundantes no leste da RDC, como o coltão, por exemplo, mas também o ouro, diamantes ou cobalto, como o Novo Jornal descreveu aqui.
O leste da RDC é a maior dor de cabeça das organizações internacionais que procuram pacificar a região dos Grandes Lagos, como a CIRGL, actualmente presidida por Angola, e no âmbito da qual o Presidente João Lourenço tem assumido a responsabilidade que criar condições para resolver os problemas mais salientes, como o é ainda a situação da República Centro-Africana, cujo fio histórico pode ser recuperado nas notícias relacionadas colocadas abaixo deste texto.