O Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) ucranianas considerou, numa publicação nas redes sociais, curiosamente apenas citada nos media russos, que "a situação na frente está a piorar" diariamente e que os russos estão a avançar.
"A Rússia tem uma vantagem significativa em meios humanos e material militar", notou Oleksandr Syrsky, citado pela RT, sublinhando os avanços do inimigo em algumas localidades da frente de Donetsk (Donbass).
"As tropas ucranianas foram obrigadas a retirar para linhas defensivas na retaguarda" na zona de Donetsk, apesar dos "combates violentos".
Apesar de ser a primeira vez que o comandante de topo das forças ucranianas admite estar a perder no frente a frente com os russos, alguns analistas olham para estas declarações do general Oleksandr Syrsky, um militar de origem russa, conhecido mais pela sua ferocidade em combate que pela sua capacidade estratégica, como uma forma de pressionar os aliados ocidentais.
Isto, porque crescem as evidências de que os anunciados pacotes de ajuda financeira e militar tanto dos EUA, os famosos 61 mil milhões USD, aprovados na semana passada, como o pacote de 50 mil milhões de euros da União Europeia, estão a ter dificuldades para sair do papel para o campo de batalha.
Se os aliados europeus se debatem com dificuldades em preencher as colunas de apoio prometidas, como o milhão de munições prometidas pelo Presidente checo, Petr Pavel, e que seriam compradas em todo o mundo, que, ao fim de largos meses apenas conseguiu encontrar 180 mil, o pacote norte-americano ainda parece pior.
Isto, porque os 61 mil milhões USD, afinal mais de 24 mil milhões USD são para repor stocks de armas já enviadas no último ano para a Ucrânia, mais de 13 mil milhões são para apoio às operações militares norte-americanas na Europa (exercícios e tropas estacionadas), 9 mil milhões para ajuda não-militar e "apenas" cerca de 14 mil milhões USD são para aquisição de armas à indústria militar dos EUA para envio para Kiev.
Ora, sabendo, tanto o general Oleksandr Syrsky, como o Presidente Volodymyr Zelensky, que as forças ucranianas estão sem munições, peças de artilharia e sem sistemas de defesa antiaérea, além de precisarem de substituir os milhares de carros de combate e de transporte de tropas destruídos no último ano, a verba disponibilizada efectivamente, 14 mil dos 61 mil milhões, por Washington tende a ser muito curta.
Basta considerar que só em sistemas de defesa antiaérea Patriot, a Ucrânia precisa de sete para repor os destruídos pelos russos, e cada um destes mecanismos sofisticados custam por unidade mais de 1,3 mil milhões USD, e dos milhares de misseis exigidos para dar eficácia a este equipamento, que custam por unidade 3 a 5 milhões...
Além disso, Zelensky tem ainda em mãos o problema da fuga quase generalizada dos homens ucranianos em idade para serem mobilizados, estando com a melindrosa tarefa de criar cada vez mais unidades de procura e detenção forçada de jovens para a linha da frente que tentam sair do país ou esconder-se das brigadas de recrutamento forçado.
Para resolver estes dois problemas, a escassa, afinal, ajuda norte-americana, que sabe que dali não virá mais nada durante muito tempo devido às questões de política interna dos EUA, Zelensky voltou a pedir mais apoio aos aliados europeus, não apenas em armas e dinheiro, mas também que os governos respectivos detenham e reenviem para a Ucrânia os homens ucranianas que ali se refugiaram para fugir da guerra.
Alguns países, como a Polónia e a Chéquia já admitiram cumprir as exigências de Kiev de devolver ao país os homens ucranianos que acolheu nos últimos três anos, mas esta decisão tende a ser melindrosa devido às leis europeias que protegem os refugiados de países em guerra.
Entretanto, na União Europeia, mas também nos EUA, começam a surgir questões sobre o fim do mandato do Presidente Volodymyr Zelensky, a 20 de Maio, data a partir da qual a sua legitimidade é apenas sustentada na Lei Marcial em vigor no país.
Isto, porque existe a possibilidade de esta situação chocar de frente com as disposições legais e constitucionais dos países ocidentais aliados da Ucrânia, visto que já se sabe que a Ucrânia não vai realizar eleições Presidenciais na data constitucionalmente exigida, podendo isso obrigar a uma nova análise aos programas de apoio em curso.
Seja como for, e, provavelmente, com isso em mente, Zelensky veio agora, de novo, não só pedir mais meios aos aliados europeus, como lembrar, em tom de exigência, que a União Europeia cumpra com os seus compromissos no que diz respeito à adesão de Kiev ao bloco europeu.
O Presidente ucraniano garante que o seu país cumpriu todos as obrigações prévias para iniciar o processo e as conversações de adesão, passando assim a bola para as mãos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (na foto), que está, claramente a procurar evitar este tema, quando está a meses das eleições europeias.
Num dos seus vídeos diários, Zelensky enfatizou que a parte ucraniana cupriu tudo, falta agora a Bruxelas fazer a sua parte, num recado claro a von der Leyen, que, claramente, mudou o seu tom e posição sobre a Ucrânia, estando agora mais distanciada dos momentos iniciais da guerra, onde prometia tudo e imediatamente para Kiev.
"A Ucrânia cumpriu todas as condições para o início das conversações de adesão e é agora a vez da União Europeia fazer a sua parte", avisou,
Enquanto isso, segundo vários analistas e bloggers de guerra pró-russos e pró-ucranianos coincidem na ideia de que a Rússia, que está a erguer uma força de largos milhares de soldados nas diferentes áreas da frente, vai lançar uma ofensiva de larga escala durante o Verão, até Junho ou Julho.
E que, actualmente, as unidades de Moscovo avançam em algumas áreas praticamente sem oposição, aproveitando apenas a oportunidades para consolidar posições em melhores locais para a grande ofensiva.
A questão é saber se as novas, apesar de tudo, remessas de armas ocidentais poderão ou não travar as pretensões russas enquanto não surge um plano sólido de negociações para a paz ou a Ucrânia seja empurrada para a marem oeste do Rio Dniepre, que, aparentemente, é o novo objectivo de Moscovo.