O COMPADRIO é uma instituição manhosa, não-democrática, cheia de vícios e com um voraz apetite pelo poder. Odeia o discernimento, a ciência e o povo incómodo e mal-agradecido que, a cada década, se tem mostrado incapaz de reconhecer o tamanho do "esforço" institucional que o deixa cada vez mais miserável, sem futuro e sem País. Esta instituição cerra fileiras sempre que alguém começa a cair em desgraça para não ser atingido pela queda daquele que passou a ser culpado único dentro de uma governação muito pouco solidária, em que muito poucos têm a coragem de dizer o que pensam ou de apontar um erro quando ele é responsável no presente ou no futuro por uma falência social, uma crise económica ou desnorte da diplomacia.

O COMPADRIO tem sido responsável por vários perigos para o País. Em primeiro lugar, raramente é priorizado o interesse público. Em segundo lugar, é um lugar de privilégio para o fomento da corrupção e do seu encobrimento. Em terceiro lugar, é comprovada a sua inevitabilidade num ambiente político como o nosso, em que a governação jamais conheceu alternância e se tornou refém de eleições que são livres, mas nunca foram justas. Por se tratar do mesmo partido que governa há 48 anos, é reconhecido o constante favorecimento a "políticos empresários" em negócios com o Estado, construindo uma cadeia de fortes ligações entre os que mais poder têm na governação e no partido, criando zonas de influência sobre as massas militantes com a atribuição de algumas esmolas, que permitem que, em caso de necessidade, surja um pelotão de defensores da liderança por mais desorientada que esta seja ou por maiores que sejam ou tenham sido os erros que comete e que são responsáveis pelo desastre da economia, pelo épico desprezo pela falta manifesta de condições da maioria da população, desemprego e ausência de esperança em que o país mergulhou.

Infelizmente, perante o estado catatónico dos nossos tribunais superiores, não são esperadas melhorias para a devolução da independência à actuação dos mesmos com base na ética e em defesa da deontologia e da Lei. Há claramente um elefante na sala desta liderança, cujo tamanho é cada vez mais insustentável e cujas consequências nacionais e internacionais não são favoráveis nem à imagem do País, nem ao decréscimo da irritação da sociedade cada vez mais amadurecida e consciente e que sem medo tem estado a mostrar todos os dias a sua desaprovação à actual liderança. Infelizmente, nenhuma das promessas eleitorais foi consequente ou abrangente, e muitas nem sequer aconteceram, como foi o caso das Eleições Autárquicas cuja desculpa do seu eterno adiamento foi deprimente e infantil.

A criação fantasiosa de uma nova moralidade que, contra todos os interesses indignos que prejudicassem o País e o povo, se levantaria, sem excepções, estampou-se logo no início do primeiro mandato. As incoerências deste modelo moral assentam na contradição de imensas acções governativas, a exemplo do modelo de contratação pública, na falta de consciência do que é prioritário e sobretudo na arrogância política de um de um pequeno grupo de dirigentes, que sem elegância e, com desonestidade, fez do seu partido refém e atirou para o sótão de Cafarnaum, todos os mais velhos que tinham opinião discordante ou poder histórico, substituindo-os por um "circo" de miúdos ávidos de poder, mas sem qualquer tipo de preocupação com o bem-estar social e por isso apenas defendem o poder pelo poder.

A condenação social à corrupção foi clara ao longo destes 48 anos, com visível intensidade depois de 2002. Ela foi responsável pela ausência de desenvolvimento, pelo abandono dos mais pobres e a sua consequente multiplicação, pelo drama de todos os anos ficarem milhões de crianças sem conseguirem entrar na 1.ª classe da escola pública, pela fragilidade da nossa economia e sobretudo pela incapacidade de consagrarmos a nossa Independência num País tão cheio de recursos e com um povo tão corajoso, pacífico e desenrascado.

A maioria dos políticos africanos tem uma enorme dificuldade em virar a cara ao seu interesse privado, e Angola não é excepção. São entidades distantes da vida dos cidadãos. Muitas das suas afirmações e acções sugerem, claramente, o desconhecimento sobre a realidade do País, mas, ao mesmo tempo, fortalecem a nossa convicção da prioridade dos seus interesses privados, desvalorizando sempre o bem comum.

Ao olharmos para a nossa trajectória política desde 1975, fica claro que nenhum tipo de pobreza foi tratado, incluindo a pobreza moral da governação. A morte do contrato social foi evidente. As empresas públicas e a diplomacia foram, igualmente, vítimas deste compadrio que foi e é responsável pela menoridade da sua eficácia e da sua visão estratégica. A eficiência e a celeridade da Justiça são exigência para combater todos os casos de compadrio que afrontem a Lei. A consciência social activa é imprescindível para o alcance do objectivo capaz de fazer nascer uma nova Angola onde não se poderá tolerar os velhos e desgastados métodos que assentam na manutenção da militância da maioria das instituições públicas que perderam o dever de colocar a Pátria em primeiro lugar.