Angola, cuja história, desde que há memória, foi marcada por uma permanente legitimação da violência, tendo como motivo as mais diversas bandeiras - necessidade de expansão territorial, lutas pelo poder internas e externas, colonização, imposição de novos credos religiosos, independência, preservação da soberania - tem, nos seus genes, elementos que, perigosamente, podem atrair para essa solução uma parte considerável dos seus cidadãos.
E isso ainda se torna mais provável, quando se vive uma situação de precariedade social, com um empobrecimento reiterado da maioria da população, num País em que esta cresce a um ritmo descontrolado, e as oportunidades de trabalho são, senão cada vez mais escassas, pelo menos insuficientes para trazer paz social, calma aos espíritos e confiança no futuro.
A facilidade com que, sob os mais variados pretextos, se desencadeiam conflitos que, mesmo quando não descambam em perdas de vidas humanas (como o que aconteceu recentemente na Via Expressa), dão origem a manifestações de ódio traduzidas na destruição de bens, mormente públicos, é assaz preocupante, e deveria merecer a análise profunda das causas, para que se encontrem as razões últimas, sem incorrer na fácil atribuição de culpas a actores circunstanciais, com objectivos (mal disfarçados) de se obterem vantagens de curto prazo.
A confrontação com a polícia - o óbvio representante da autoridade do Estado (que, no nosso País, infelizmente, ainda não se conseguiu afirmar como uma entidade dissociada do partido que está no poder) - tem de ser vista como inaceitável, por ser um elemento perturbador de elevada gravidade, pois, em qualquer cenário, o desrespeito pela mesma pode levar ao esboroar de um edifício que é essencial para que qualquer transição, nomeadamente política ou social, se possa fazer em moldes que não agravem, ainda mais, as debilidades institucionais as precárias condições em que vive a maior porção da nossa população.
A destruição de bens públicos, onde as principais vítimas, ultimamente, têm sido os autocarros (uma simbologia que nos custa interpretar, a não ser recorrendo a teorias muito próximas às da conspiração), tão essenciais para a franja da sociedade mais fragilizada económica e socialmente, leva a uma lógica de cegueira (caso não haja uma evidente premeditação, o que não queremos assumir), que só pode estar ligada ao desespero dos perpretadores.
Um certo distanciamento dos representantes do poder e a proliferação de imagens e informação que mostram comportamentos ostentatórios de novo-riquismo absolutamente inaceitáveis, uma luta pelo poder que não tem em consideração a verdadeira resolução dos problemas do povo mas opta, muitas das vezes, por soluções que procuram conjugar os interesses de grupos com as necessidades de propaganda, leva a uma visão que, se convenientemente manipulada, "justifica" actos condenáveis, a mais das vezes com recurso a uma violência irracional.
O País exige responsabilidade de todos os seus cidadãos. E em primeiro lugar, de quem lidera.