O M23 já havia assegurado o controlo do Goma, em finais de 2012, mas cedeu esse controlo, na sequência da Conferência Internacional para a região dos Grandes Lagos, retomando a iniciativa militar, em 2017.
O que há de novo hoje é a declaração expressa pelo M23, em avançar sobre a capital do Kivu do Sul, Bukavu, assegurando o acesso ao domínio do país.
A missão africana constituída por militares da África do Sul, Tanzânia e Malawi, países da SADC, têm procurado garantir a estabilização do país.
A retoma de Goma pelo M23 e o previsível alastramento do conflito levaram António Guterres, secretário-geral da ONU, a declarar ser urgente parar a escalada da guerra.
De caminho, o Presidente do Burundi, Evariste Ndayishimiye, anunciou temer a extensão da metralha a toda a região, não poupando o seu homólogo do Rwanda, Paul Kagame, pelo apoio que presta ao M23.
O que se passa na RDC não é alheio à guerra fratricida que eclodiu em 1993, no Burundi, e em 1994, no Rwanda, com contornos étnicos de grande dimensão entre hutus e tutsis, que conduziu ao êxodo de milhares de cidadãos para a região de Kivu do Norte, da RDC.
Daí que a RDC passasse a acusar também o Rwanda de apoiar o M23, constituído, em grande parte, pela etnia tutsi, minoritária no Rwanda e no Burundi, conduzindo a Comissão dos Direitos Humanos à condenação dos graves atropelos de direitos humanos.
O Presidente da RCD, Félix Tshisekedi, também não tem poupado o seu homólogo do Rwanda, pelo apoio prestado ao M23.
É útil registar-se que a RDC é o 2º país de África em extensão territorial e o 4.º mais populoso, com pelo menos 90 milhões de habitantes.
Os riscos e consequências são por demais evidentes, aliás, com tradição, como sucedeu na antiga província de Catanga, actual Shaba, tanto mais que se assiste à escala global, ao redesenho da geopolítica.
Este redesenho corre paredes meias com acções militares, que põem em causa a soberania de países reconhecidos pela comunidade internacional.
Num artigo que escrevi para o Novo Jornal, após a invasão da Ucrânia, chamei a atenção para o facto de as fronteiras dos países africanos serem artificiais, e o que isso significa, no quadro actual, em que tudo parece ser posto em causa.
Se a moda pega, como parece, perante as declarações pouco sensatas de responsáveis de países com hegemonia à escala planetária, teremos a abertura da Caixa de Pandora .
Tempos difíceis estes...
O facto de Angola ser o país mediador do conflito que ocorre na RDC, país que tem com ele fronteira, contribui, mais uma vez, para a salvaguarda da integridade da soberania da RDC, o que é da maior importância.
Desejamos por tudo, e naturalmente, a continuação dos êxitos em curso, por parte do Presidente João Lourenço, porque o que se passa na RDC respeita o futuro de África e dos países que o integram, para que se evite abrir a Caixa de Pandora.