Isso só sucede, como também referi, pelo facto de, mesmo nos países com forte percentagem de terra arável, como é o caso de Angola, não se ter considerado como uma prioridade a auto-suficiência, apesar de reiteradas intenções de sucessivos governos.

Só que a realidade é o que é e não o que se deseja que seja.

A isto acresce que também no continente africano, salvo algumas commodities como o petróleo, as exportações não deixaram de ser afectadas por efeito da guerra na Ucrânia, em resultado das sanções aplicadas à Rússia, como é o caso da produção de laranjas na África do Sul, um dos principais produtores mundiais deste citrino.

Poderíamos dar muitos outros exemplos.

Há que ter, por isso, a noção de que a globalização, impulsionando de forma significativa a interdependência na generalidade dos países, com um mercado cada vez mais aberto e desregulado, ao tornar o mundo cada vez mais um só, exige que os países tenham uma dupla resposta, articulando as relações económicas externas sem deixar de cuidar da produção interna.

Sendo esta a realidade e não outra, nunca é demais pararmos para reflectirmos sobre as consequências das duas crises sequenciais de monta, a pandemia e a guerra na Ucrânia, o que, pela primeira vez, sucede com grande dimensão nesta era da globalização que vivemos e num quadro multipolar.

Esta reflexão não tem apenas a ver com o diagnóstico dos impactos das crises mas, sobretudo, com as políticas públicas que devem ser adoptadas por feito desse diagnóstico para que se robusteçam as instituições públicas e privadas, tornando-as capazes de responderem a adversidades imprevisíveis quer sejam resultado de forças da natureza ou da acção humana, como é o caso da guerra.

Tendo a pandemia dado lugar à primeira grande crise mundial de prevenção e combate por causas relacionadas com a prevenção da saúde, a guerra da Ucrânia veio colocar uma nova recomposição geoestratégica à escala planetária, o que mais justifica o robustecimento e a transparência das instituições públicas africanas.

Mediante o diagnóstico, parece inequívoco que o continente africano e com ele a maioria dos países que o integram são os que, não por acaso, tiveram e vão continuar a ter os impactos mais negativos por efeito das crises da pandemia e da guerra.

Daí que, perante o diagnóstico, que é unânime, as políticas públicas do futuro em África deverão saber responder, com racionalidade, eficácia e espírito de servir, às funções soberanas do Estado que incorporam desígnios nacionais que a todos se impõem e devem ser desenvolvidos com total transparência.

É nessas funções que se suportam os serviços públicos que têm por destinatários os cidadãos individualmente considerados e a colectividade e respeitam a Defesa, a Saúde, a Justiça e a Educação.

Num período em que tanto se fala da guerra e nesta dos grandes pensadores que sobre ela escreveram, como Clausewitz e Sun Tzu, é útil termos presente uma pequena frase deste último a propósito da forma de resolução dos grandes problemas: "resolvem-se sempre como os simples, é tudo uma questão de método".

Quererá África, no quadro actual, reflectir sobre este pensamento?