Perante a dívida e o défice colossais dos EUA, Trump resolveu abrir uma guerra comercial em todos os azimutes, partindo do pressuposto de que a globalização e a liberdade de comércio prejudicaram seriamente a primeira potência mundial, de que, pela segunda vez, assumiu as rédeas.
Quer isto dizer que, para Trump, os EUA devem dinamizar a recriação de uma nova ordem económica mundial, escamoteando o facto de a ordem em que vivemos ter sido implementada após a Segunda Guerra Mundial exactamente pelos próprios EUA.
Sucede que, quando se entra em guerra - porque é disso que se trata, neste caso uma guerra comercial - há que se ter em conta o terreno onde se combate, os meios de que se dispõem e os aliados que se contam, como Sun Tzu ensina no seu livro "Arte da Guerra".
Embora tenham decorridos escassos dias sobre o anúncio das tarifas, da tabela o terreno que Trump escolheu - o dos mercados - reagiu desfavoravelmente, afundando as bolsas no dia imediato e gerando retaliações de aliados e adversários.
Alguns países, como Espanha, afectaram de imediato verbas avultadíssimas para compensar a economia das consequências das medidas e outros países não poderão deixar de adoptar procedimentos idênticos caso o quadro se não altere.
É obvio que a queda do comércio mundial vai dar lugar à recessão em muitos países e o retorno a um processo inflacionista nos EUA.
É caso para se dizer que "quem semeia ventos colhe tempestades".
Partindo do reconhecimento correcto quanto à gigantesca dimensão do défice e da dívida dos EUA e à necessidade de as fazer diminuir, dados os sérios impactos na própria economia dos EUA, Trump fez mais uma vez evidenciar ser uma personalidade controversa, exótica e imprevisível, ao avançar com tarifas sem racionalidade que suscitaram reacções nos mercados e nos parceiros comerciais .
Ao contrário do que era expectável, as tarifas não traduzem reciprocidade com os parceiros comerciais, atendendo, outrossim, ao défice comercial com cada Estado em concreto e partindo deste ele é dividido pelo valor total dos bens importados, fixando-se a tarifa na metade do resultado.
Caso as relações comerciais apresentem superavit a favor dos EUA, a tarifa a aplicar é de 10%, como sucede com o Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste, tendo Moçambique a tarifa de 16%, Angola 32% e os países da UE, como Portugal, 20%
Não foi prudente como se viu lançar uma guerra comercial colocando o mundo em alvoroço, utilizando uma metodologia de choque contra tudo e contra todos, e menos sensato é classificar o dia em que apresentou ao mundo a tabela como o "dia da libertação" dos EUA
O que temos é o propósito da destruição das regras vigentes no comércio mundial com a finalidade de serem os parceiros comerciais dos EUA a pagarem o défice e a divida colossais dos EUA

Há que aguardar para vermos os próximos episódios, que não auguram nada de bom, a menos que Trump retroceda na política que anunciou e que conduz à destruição do comércio mundial livre, não sendo claro o que se seguirá.