A inveja é um estranho sentimento de "ressentimentos" em relação aos outros pelo aparente sucesso ou felicidade que vivem ou exibem. A sensação de alegria pela dor e pelo fracasso alheio passa a ser um objectivo e fixação. Na Alemanha, existe a palavra Shadenfreude para a sensação de alegria pela dor alheia. A inveja resulta do facto de o valor alheio expor a nossa própria nulidade. A inveja é uma grande merda!

É preocupante a necessidade actual da exposição pública da intimidade, a necessidade do assassínio de carácter e da devassa da vida alheia. Somos um País que não promove o mérito, a competência e excelência alheia por inveja. Somos um País onde mais facilmente se consegue ir arranjar seguidores, likes, visualizações e partilhas numa campanha para denegrir alguém de quem não gostamos ou não nos convém do que alguém que é bem-sucedido na sociedade.

A inveja é a principal causa da nossa nulidade, em que o valor e o mérito alheio nos causam uma grande tortura. A maledicência toma e ganha espaço, ela absorve o nosso tempo e controla o nosso foco. Bonga Kwenda ganha um prémio ou distinção em França, e tudo se faz para que se passe despercebido, o mesmo acontece com o humorista Gilmário Vemba, que se torna "dono e senhor" do Altice Arena. A tradição Sona é eleita Património Cultural Imaterial da Humanidade, mas quase nada disso domina os debates nas redes sociais, gera likes ou partilhas.

Um angolano recebe uma distinção numa universidade estrangeira, um músico ou um actor recebe um prémio no exterior, mas tudo se faz para que passe por despercebido. Preferimos gastar tempo, esforço e energias a atacar e a "bater" num órgão como o NJ que organiza um prémio anual em que se promove o mérito, a competência e a excelência. Por inveja, por medo da qualidade, organização, visão alheia, atacamos e procura-se deitar para baixo para se criar igual iniciativa apenas para se promoverem e se exaltarem os da conveniência. Os escândalos sexuais, a desgraça alheia, o assassínio de carácter, a exposição pública da intimidade e a promoção de futilidades ganham espaço, tudo porque preferimos ficar nesse nível. Ficar ao nível dos rastejantes.

Estamos a tornar-nos uma sociedade da promoção e de valorização da mediocridade, da futilidade e de um puro complexo de inferioridade. Por inveja e outras mesquinhices, promovemos e exaltamos a cultura da mediocridade. Há uma forte tendência para se elevar a mediocridade e passamos a ser uma sociedade dependente e com necessidade de medíocres. Mais do que fútil, a mediocridade passou a ser útil e necessária. Atingimos o ponto mais alto da mediocridade.

O País perde tempo, foco e energia com estas distracções e "animações". Estranho é perceber que existem estruturas e elementos que, por inveja de A ou B, vivem de nivelar para baixo. Por inveja e intolerância, até nos estamos a tornar no País dos chamados "cancelamentos". Hoje, "cancelam-se" artistas, jornalistas, desportistas e políticos, simplesmente, por exercerem a sua liberdade de escolha e de opinião. É de sentir vergonha alheia. O nosso discurso, o debate, o foco e a estratégia deviam ser outro.

Estamos a ser a causa e o efeito da nossa própria nulidade. Temos inveja quando o País avança. Temos inveja quando o Presidente viaja e é bem-sucedido no exterior. Tudo se faz para que ele dê errado. Temos inveja do angolano que se decidiu a viajar e a viver na diáspora, por isso achamos que o seu discurso, escrutínio e crítica não resultam da sua liberdade de expressão e de opinião, mas, sim, de inveja. Temos inveja do jornalismo que tem na liberdade a sua força e poder. Os jogos e as estratégias de manipulação, a desinformação, a especulação e os assassínios de carácter imperam.

Os radicalismos e intolerâncias surgem e dominam os discursos, e só se aliviam quando se aniquilam e " cancelam" os alvos ou inimigos. Há muito que se começou um combate contra o mérito, a competência e a excelência. Há muito que o País e os seus cidadãos fizeram um pacto com a mediocridade. Por inveja e outros sentimentos mesquinhos, a mediocridade é elogiada e a meritocracia ignorada. A inveja é uma merda!